segunda-feira, 16 de julho de 2007

A Boa Preguiça*

*em resposta a todas as reações adversas causadas pela minha total obsessão por dormir nessas férias, formulei este texto com o objetivo de tocar o coração dos hiper-ativos que insistem em reclamar da minha "marcha lenta".

Sempre fui, sempre souberam e nunca escondi de ninguém: sou uma grande preguiçosa!

E como todo ser humano com defeitos tende a procurar um lado positivo para eles a fim de diminuir sua culpa, deparei-me pensando no “lado bom da preguiça”.

Concluí que, de todos os defeitos possíveis, a preguiça é a mais honrosa.

Enquanto agimos segundo a preguiça visamos o mínimo esforço e maior estática.

Uma pessoa preguiçosa é mais tranqüila, mais caseira, menos consumista –e, conseqüentemente, menos utilizadora dos recursos naturais tão desigualmente distribuídos no planeta.

Um bom preguiçoso nunca vê o sono como uma perda de tempo, mas sim, como um grande investimento na sua qualidade de vida e paz de espírito. Enquanto dormimos não gastamos água, nem energia elétrica, não atrapalhamos o bem estar geral (a menos que ronquemos ou durmamos no ombro de algum estranho), não cometemos infrações (a menos que estejamos dormindo ao volante) etc.

Um preguiçoso autêntico prefere ouvir a falar e se falar, preza sempre pelo poder da síntese: poucas palavras para muita mensagem = pouco esforço para muito resultado.

Um preguiçoso autêntico não perde tempo com assuntos dispensáveis. Não curte brigas, intrigas, discussões e / ou situações enfadonhas (problemas desnecessários dão uma preguiça danada!).

Um preguiçoso autêntico não é ganancioso. Por que conseguir rios de dinheiro dá muito trabalho (mesmo que desonesntamente requer muitas maracutaias) e depois ainda temos todo o trabalho de gastar na Daslu ou onde quer que esteja na moda (e para saber o que está na moda temos que gastar energia lendo as revistas de fofoca para nos interar e lá se vai mais trabalho!).

Pensem em quão diferente seria um mundo habitado por multidões de preguiçosos.

Certamente não teríamos tantas novidades tecnológicas. Também pudera, maior parte das inovações hoje em dia servem apenas para nos obrigarem a mais esforço: celulares não nos permitem mais nos esconder de nossos patrões que agora, acessando uma simples combinação numérica podem manter contato conosco onde quer que vamos; computadores portáteis são quase como extensões do escritório; a Internet banda larga nos permite trabalhar a toda velocidade até mesmo em nossa própria casa e tantos outros exemplos que estou com preguiça de listar.

Há quem possa até argumentar que a preguiça é um dos pecados capitaais. Mas um autêntico preguiçoso se fecha aos demais pecados. Não se rende à ira, nem à vaidade, nem à luxuria (imagina! os prazeres da carne consomem demasiada energia!), nem à avaresa nem essas outras coisas de gente que perde tempo em atividades cansativas.

A Arte do preguiçoso é a contemplação do nada. O culto à tranquilidade!
Um preguiçoso é um filósofo do vasio!

Por isso, se um dia fores chamado de preguiçoso e sentires que houve intenção de ferir, de debochar ou de fazer chacota, faça um minuto de silêncio e tire um belo cochilo em nome da paz e em protesto contra os que não sabem o quanto a inanição pode ser gratificante!

Feedback

"Tudo o que aprendemos e convivemos serve para agregar em nossas vidas"

Foi o que alguém muito especial me disse depois de pedir um feedback. E eu fiquei quieta, na minha, sem dizer essas coisinhas que passam na minha cabeça.

E também me pediu menos timidez na hora de tratar dos meus sentimentos e vontades. Como se fosse assim fácil! Mas estou tentando aprender...

Aprendi muito...De fato agreguei muitas coisas de uns tempos pra cá. Sei com certeza que me tornei alguém melhor, mais desenvolta em algumas situações, mais sincera...Mas uma raiz de retraimento inevitavelmente faz parte de mim. E o feedback não foi dado enfim...

Ando num processo de intensa auto-analise. Sempre achando que sou mais burra, mais atrapalhada, mais chata, mais feia, mais inconveniente e mais dispensável que a média das pessoas que convivem comigo. Em conseqüência acabo por me retirar das discussões e dos diálogos (às vezes deixando algumas pessoas injustamente no vácuo).

Cansei de receber opiniões negativas que eu nem pedi de gente que nem sabe quem eu sou enquanto eu sigo sempre com esta minha tendência de ver o lado bom de todo mundo. Algumas coisas me parecem muito injustas.

E como que por reflexo, eu mesma acabo sendo injusta com pessoas que mereciam de mim bem mais do que o vácuo causado pelo meu retraimento.

...

Às vezes até acho que fui parar no mundo dos adultos cedo demais.

Sei que não sou nenhuma criança e que tenho plena consciência das conseqüências das escolhas que faço. Mas nunca brigo, nunca bato o pé, nunca insisto... E em caso inverso, sempre sedo. Acaba que fico sempre sendo guiada pelas expectativas alheias, deixando minhas próprias em segundo plano. E quando me perguntam o quê eu quero afinal de contas, fico com cara de porta sem saber o que responder (meio por medo de magoar alguém com as minhas vontades, meio por nem eu mesma saber o que quero).

Garantir um espaço bom neste mundo complicado e cheio de manobras é bem mais difícil do que eu imaginava. Quase dá vontade de desistir às vezes.

Outras vezes desconfio que só o que me falta é uma dose de coragem para segurar as rédeas dessa minha vida e ir com mais pulso à algumas lutas que me espreitam e das quais eu estou sempre fugindo..."DAI-ME LUZ, Ó, DEUS DO TEMPO!"


(...)“Deus vai dar aval sim,
o mal vai ter fim
e no final assim calado
eu sei que vou ser coroado rei de mim(...)

[De Onde Vem a Calma – Los Hermanos]