segunda-feira, 27 de abril de 2009

Coragem

[Segundo o dicionário]CORAGEM: Força ou energia moral ante o perigo; ânimo, bravura, denodo, firmeza, intrepidez, ousadia.

Há algum tempo atrás um colega que costumava acompanhar este blog me perguntou porque eu nunca tratava sobre as notícias importantes da atualidade ou sobre política em meus textos. No dia, como estava passando por uma certa crise de mau-humor, disse simplesmente que não gosto desses assuntos e meu objetivo aqui não é filosofar.

Porém, hoje, me bateu uma vontade de fugir a regra. A política sempre foi algo constante aqui em casa. Sou filha de funcionários públicos que ao contrário do estereótipo sempre deram muito duro e sempre detestaram aqueles que veem no concurso um passagem para o sossego.

Meu pai é segurança aposentado ganhando hoje menos de um salário mínimo por mês (um mínimo mais descontos) e com perspectiva de ganhar cada dia menos, já que seu pagamento não é reajustado com os aumentos do salário mínimo.

Minha mãe sustenta a casa com não muito mais que isso. A nossa e a dele que ainda está em fase de construção no interior há quase 6 anos (pra onde ele se mudou a fim de melhorar as complicações de saúde que o trabalho perigoso lhe deram).

E então vejo no telejornal a notícia sobre uma tal farra das passagens aéreas. Beleza, mais um escândalo como tantos que vem e vão neste país...
Em resumo: os deputados tem direito a terem suas passagens aéreas bancadas pelo dinheiro público para suas "viagens de trabalho". Então foi descoberto (ridículo chamar de descoberta uma coisa assim tão óbvia) que muitos deputados andavam pagando passagens para amigos, namoradas...indo para o exterior ou para o nordeste em tempos de carnaval sem nenhum compromisso político a ser tratado.

Aí o de sempre: investigações, muitos nomes de envolvidos e blábláblá...

Heis que um tal de Michel Temer (PMDB-SP) muito corajosamente (ou "caradepaumente") solta a pérola:

“É humilhante para o Deputado saberem para onde vai. Ou se corta isso, ou então se tem coragem de aumentar o salário do Deputado. Não aumentam por falta de coragem. A Mesa precisa rever isso com urgência”

Hã?
Coragem de aumentar o salário dos deputados?!
...hum...
[Não pretendo gastar meu tempo escrevendo as atrocidades e palavrões que me vieram a cabeça quando ouvi isto.]

E enquanto isso na Rede Record uma reportagem sobre a saúde pública.
Uma mãe apanha da polícia dentro do hospital porque estava chorando após 12h de espera por atendimento para o filho de 12 anos.
A polícia diz que a agressão foi um caso a parte e que o policial já foi devidamente reprimido (com uma advertência) e o Ministério da Saúde argumenta que as imagens feitas em vários estados do país não refletem a realidade.

De fato acho que está faltando coragem ao poder público.
Coragem de abrir mão de seus convênios médicos e utilizarem o sistema de saúde que eles fornecem a população.
Já imaginaram a Dona Dilma Rousseff sendo operada em algum hospital das cidades satélites de Brasília?
Coragem de usar o transporte público para ir trabalhar e matricular seus filhos em escolas públicas.

Coragem...

Coragem é o que me falta para pensar em constituir família e por mais uma criança neste país onde quem deveria se preocupar com o bem geral só quer saber de tirar vantagem do poder...

Coragem...
...sem comentários...

Ps. e depois de tudo os deputados denunciados não precisarão reembolsar os cofres públicos por "falta de regras claras sobre o uso deste benefício"...

sábado, 11 de abril de 2009

As Intermitências da Vida

Voltando aos textos de reflexão sobre as coisas da vida que se repetem e parecem que nunca mudam...

Algumas coisas me vieram a cabeça após a leitura recente de "As Intermitências da Morte". Só pra situar quem não leu, este livro conta a história de um país onde a morte parou de matar à meia noite do dia 31 de dezembro. José Saramago neste livro ilustra todas as angustias e conflitos insólitos que poderiam ser despertadas na população de um país em tal situação. E olha que foram muitas as complicações causadas pelas férias da morte...

No começo achei meio absurdo que esta "boa notícia" virasse o drama da história, mas agora entendo que se a imortalidade fosse minha eu também entraria em pânico. Não pelos motivos da trama, claro (que eu não vou contar neste post, então os interessados/curiosos que tratem de ler o livro). Acontece que viver é uma coisa problemática e pra lá de angustiante (e que fique claro, para os que discordem, que este é um ponto de vista 100% pessoal).

Possuir uma coisa da qual não se pode desistir (a menos que você seja um suicida...) e que nem sempre (ou quase nunca) está sobre seu controle pode ser o caos.

Talvez por isso eu tenha a sensação de que de tempos em tempos eu deixo a vida no "piloto automático". Períodos em que tudo parece meio fora do meu controle: finanças, saúde, comportamentos, convivência com as outras pessoas...como se eu estivesse apenas observando minhas ações de um ponto externo a mim mesma. Se a coisa vai bem, tudo bem, se não vai também, tanto faz, não dá pra controlar mesmo...

Agora não sei se ando num momento desses. Às vezes parece que sim, às vezes acho que não...

Não ando fazendo as melhores escolhas pra mim. Não ando querendo fazer muitas escolhas (sempre tem alguém pra opinar, então pra quê queimar a mufa tomando decisões?). Meus valores estão mudando (talvez deixando de existir) e a única coisa que me incomoda mesmo é esse medo de tudo que pode acontecer (ou não). Tenho medo de ir me anulando até que a vida e a morte se esqueçam de mim e que eu vire uma zumbi...rs...

Mas esse medo também vai passar...se eu aprendi que o piloto automático muitas vezes é bom pra relaxar e não pensar muito, também aprendi que se a gente não as busca as rédeas da nossa vida encontram nossas mãos mesmo assim.
Ainda bem!