domingo, 4 de dezembro de 2011

Geração Test Drive

Estava fazendo um relatório no trabalho, meio sem foco, meio como quem faz um brainstorm vomitando as coisas pra ajeitar depois. Perdi o foco.
Comecei a pensar na magia do Ctrl+C / Ctrl+V. Toda essa liberdade que temos de ir e vir num texto, tirar daqui pra por ali, essa rapidez para corrigir os erros que ocorram e que nos dá essa segurança de escrever quase sem pensar.


E como o fluxo do meu pensamento tem o dom de dar piruetas sem nexo fiquei pensando em como essa liberdade de errar e consertar nos tira muitas vezes a capacidade de tomar decisões definitivas.
Vivemos num ritmo em que nada é definitivo de cara. Estamos sempre fazendo um test-drive pra próxima etapa.


Veja o exemplo dos relacionamentos modernos... Os casais se ajuntam para fazer um test-drive do casamento. Ficam (do verbo ficar = uma categoria de namoro sem a obrigatoriedade de compromisso) para fazer um test-drive para um namoro mais sério e hoje em dia (que medo) os jovens "dão uns pegas" como um test-drive do ficar.


Não quero de forma alguma bancar a moralista, até porque essa coisa de puritanismo nunca me atraiu muito.
Só acho que este clima permanente de "tudo que se faz é reversível e temos total liberdade de não nos comprometermos com nada" é um tanto nocivo.
Ao mesmo tempo que acho linda a possibilidade de não perder tempo tendo que redigitar um texto inteiro por causa de uma única letra que tenha ficado faltando, me parece que a cada dia que passa nos tornamos mais incapazes de tomarmos decisão de maneira definitiva.


E pior, vejo (em mim e em pessoas ao meu redor) que perdemos gradativamente em toda esta velocidade a sensibilidade de saber o que queremos, de decifrar nossa vontade. Estamos buscando desesperadamente uma satisfação que não sabemos onde está e vivemos tentando encontrar em todos os lugares ao mesmo tempo, pulando de uma situação à outra com tanta sede que não somos capazes de aproveitar o momento presente.


Acredito que é importante segurar o ímpeto de ir na onda dessa velocidade e parar para pensar nas implicações de nossas escolhas ao invés de seguir o fluxo de fazer, ver o resultado e pensar depois.
Caso contrário passaremos a vida toda nos enforcando na corda da liberdade, tentando alcançar algo que não nos permitimos nem ao menos parar para descobrir o que é.