domingo, 10 de março de 2013

Mais vale um ladrão na mão que um viciado voando?!


Tem algumas coisas que acontecem no meu dia a dia que me deixam indignada, surpresa, encafifada [nem sei qual adjetivo se encaixa melhor aqui] com os valores humanos.

Estava eu ouvindo meu sonzinho no busão voltando pra casa com a cabeça já cheia de coisa pra pensar tentando me esvaziar e não pensar em nada. Heis que um homem de uns trinta anos, não muito diferente da maioria dos que já estavam lá, passa a catraca e começa um discurso pros passageiros. De início achei que era o velho “Desculpe interromper a viajem de vocês, mas estou desempregado e bla bla bla” que eu já ouvi milhões de vezes. Aí fui percebendo que o senhor do meu lado começou a ficar impaciente e levantou do nada em direção a porta. [?]

Abaixei o volume da minha música e entendi por que o senhor ficou tão perturbado.

De certa forma era o que eu havia imaginado com uma diferença relevante: o cara era um ex-presidiário. Contou que foi preso por assalto, condenado há 8 anos em regime fechado, dos quais cumpriu pouco mais de 5 e agora está em regime semi-aberto. Rolou um impacto e tals, mas em momento nenhum me senti ameaçada, apenas prestei atenção. O cara argumentou que precisava de ajuda pra arrumar uma grana pra criar seus 3 filhos, não queria se aproveitar e ninguém, reforçou que mesmo pra pedir dinheiro no ônibus ele pagava a passagem por achar justo etc.

Ele foi quase ganhando meu respeito. Eu ia colocando a mão do bolso pra dar uma força pro rapaz. Afinal, quem sou eu pra julgar o que o cara fez sem saber o contexto da vida dele? Não tenho como saber quem, como ou porque ele realizou um assalto. Vi uma pessoa pedindo ajuda e tive um breve ímpeto de ajudar.
Breve. Pois foi aí que o cara estragou todo seu marketing bem construído.
No fim do seu pedido ele caiu na infelicidade de soltar um “Olha, pessoal, eu posso já ter feito muita coisa errada, mas nunca usei drogas (...)”.

Rá. Fiquei pasma. Peraííííí, amigão! Você faz todo um ensaio sobre “não me julguem e me ajudem” e termina com esse caôzinho de querer ser bom, só porque supostamente não usa drogas?

Tirei minha mão do bolso e aumentei o volume da música e deixei pra lá. Infelizmente não tive a nobreza de coração para ajudar uma pessoa que faz um julgamento desses.  Fiquei me perguntando o que aconteceria se um dos 3 filhos desse cara caísse nas drogas e acabasse viciado. Será que teria o apoio incondicional do pai? Sem julgamentos?