Dentre os tantos rituais instituídos em minha vida, um deles
consiste em me afundar em seriados nos períodos de solidão.
E o seriado da vez é Mad Men.
Ainda não entendi muito bem o que nele me encantou. Pode ter
sido toda a beleza dos anos 60, com suas mulheres de saias rodadas, os homens
de cabelo impecavelmente penteados ou o charme irresistível do M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O
protagonista Don Draper que consegue reunir ao mesmo tempo características de
um total cafajeste ao trato do mais perfeito cavalheiro.
Enfim...encantamentos à parte, existem muitos diálogos da
série que conseguem atravessar horas reverberando em minha mente. Recentemente
fiquei muito impactada com uma fala dita no meio de uma
discussão entre Don e uma de suas... digamos assim “peguetes”.
Após um dia de notícias péssimas no trabalho, de tomar um
gelo de sua amante preferida e de não estar a fim de retornar ao conforto do
lar com seus lindos filhos e sua bela esposa-dedicada-loira-dos-olhos-azuis [pois
é, é duro agradar o Don...rs] ele procura a tal peguete (como “peguete” neste
contexto entenda-se por uma cliente de sua empresa com quem ele mantém um
flerte, mas ainda sem uma rotina de intercursos sexuais que justifique a
classificação dela como amante).
Pois bem, depois deste dia de cão ele junta suas economias e
procura por esta mulher propondo que fujam para outro país e recomecem suas
vidas juntos (ahhh...que invejinha!...rs).
Mas para meu espanto, num ato de dignidade ímpar a tal
donzela recusa o convite com a frase: - Oh, Don... Isso foi um namorico, um
caso barato... Você não quer fugir comigo, quer apenas fugir.
Uau! A primeira vez que vi a cena saquei do celular e salvei
esta frase nos meus rascunhos. Achei fantástico.
Quantas vezes não fazemos como o Don?
Uma pessoa recentemente me disse “cuidado, poucos
sentimentos nos confundem mais do que o medo de ficar sozinho”. Fato
Posso estar fazendo
uma generalização errada, mas acredito que todo mundo em algum momento da vida
[por medo de assumir algum risco sozinho, por falta de autonomia ou outra coisa
do gênero] se escora em alguém que não é exatamente nossa primeira opção, mas é
o que está a nosso dispor. Isso é muito feio, [tentem não fazer isso, crianças]
mas acho que, sei lá... é inevitável, né?
A presença do outro [seja quem for este outro] nos dá um
chão mais firme, uma segurança.
E este é o ponto do texto em que mudo totalmente de assunto
e mostro mais uma vez que não tenho foco...rs. Porque na verdade não quero
falar sobre essa mania de nos escorarmos nos outros, mas no medo... ou melhor,
na necessidade de segurança e de controle dos riscos.
Sim. Esta temática que povoa minha terapia há 5 meses.
Cinco. Meses.
Há 5 meses eu vou todas as sextas-feiras à noite ouvir de um
senhor com idade para ser meu pai que eu não preciso ser perfeita, que eu me
exijo demais e que não dá para ter o controle sob todas as situações da vida. E
mesmo assim eu quero controlar. Tudo.
Mas o pior, tenho notado como e quanto esta obsessão por controle me
emburrece e me impede de ser mais feliz e evoluir. Notei que simplesmente não
consigo aprender inglês, tocar violão, dirigir etc... por mero medo do erro e
da quebra dessa tal perfeição [que, veja só a ironia!, está me condenando a uma
mediocridade ridícula].
Quando o assunto era aprender a dirigir, sempre achei que meu medo era concretamente do volante, mas
vejo agora que meu medo real é algo mais subjetivo. É um medo de dirigir minha própria vida. Sim. O ápice da
bundamolagem.
Vivi por muito tempo sob um medo constante de cometer pequenas
falhas, de passar pequenas vergonhas e fui me privando de muitas experiências e
aprendizagens.
O bom é que, ao que me consta, tomar consciência é o
primeiro passo...rs.
Então só me resta dizer: Risco, erros e pequenas
vergonhas... me aguardem que aí vou eu! Hahahaha...