terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Capitalismo, O Bulling e o American Lifestyle

                Hoje no noticiário há mais um caso de jovem americano que entra na escola e toca o terror matando os colegas com a arma da família. O fator apontado como desencadeante desta atitude é nosso velho conhecido: o bulling.

                Entre um jornal e outro falando sobre o assunto me chamou a atenção uma das colegas do “assassino” dizendo que ele era um jovens doce, do tipo que faz os amigos sorrirem quando as coisas não vão bem.

                Acho interessante como mesmo atualmente sendo tão comum associar este tipo de atitude extrema ao bulling não se ouve discutir sobre o que estimula o outro lado da história, quero dizer, porque nossa juventude gosta de humilhar e rebaixar seus pares.

                Claro que é um ponto de vista muito particular meu e não me baseio em nenhuma teoria para fazer suposições... Mas acho que não é à toa que justamente nos EUA aconteça com tanta freqüência situações como esta. Justamente na nação que cultua uma vida plástica, metida a perfeitinha em que o valor das pessoas é cada vez mais ditado pelo que elas possuem.

                Vejo no tal “american lifestyle” uma eterna corrida para se encaixar ao padrão de consumo imposto pelo capitalismo vigente. Você precisa ser o descolado, consumir as marcas e produtos da moda, frequentar determinados lugares e ter as atitudes impostas pelo padrão “filmes-adolescentes-de-sessão-da-tarde”. Todos os que não se encaixam neste padrão são desviantes, hostilizados... Deixam de fazer parte da massa respeitada e admirada, tornando-se assim “merecedores” da exclusão.

                Simples assim. Quando não vejo no outro meu semelhante não me sensibilizo por ele e faço da sua derrota a minha vitória. Desumanizo o ser humano com quem convivo e por quem não aprendi a nutrir afeição.


                Quem já se sentiu excluído alguma vez sabe que não é fácil. Seja quando nos sentimos diferentes em nosso modo de vestir, falar ou pensar. Seja por não ser chamado à uma festa em que todos os amigos estarão. Seja por não ser ouvido em alguma conversa... O sentimento de estar à margem dói e a cada geração que passa ficamos menos preparados a lidar com este tipo de frustração.

                A saída?

                Às vezes parece ser entrar armado em nossa escola, matar aqueles que nos fazem sentir mal e em seguida botar fim ao nosso sentimento de exclusão.

                Enquanto notícias como esta nos fizerem apenas pensar na culpa da vítima (o assassino humilhado que foi à busca de vingança) nunca combateremos o verdadeiro mal: nossa cultura individualista que acha divertido fazer das fraquezas alheias motivo de piada afim de reafirmar nossa “superioridade”. Não podemos mais fazer de nossos semelhantes os degraus da escada de nossa auto-estima.

Um dia Bob Marley falou que “enquanto a cor da pele valer mais que o brilho dos olhos, sempre haverá guerra”.


Eu adaptaria para algo como “enquanto o que a pessoa possui e aparenta ser for mais importante que sua essência e seus sentimentos, sempre haverá bulling e assassinatos em escolas”.

domingo, 20 de outubro de 2013

Liberdade Feminina Até a Página 3

                O texto a seguir [infelizmente] foi inspirado por fatos reais. Vou contar a história de uma garota que não é difícil de encontrar semelhantes por aí. E, em respeito à quem forneceu o insight pra esta minha idéia, irei chamá-la de “Adriana”.

Pois bem.

                Adriana* é uma jovem de 18 anos, residente em uma cidade afastada da grande São Paulo, recém ingressada no ensino superior e trabalha em uma empresa de médio porte no setor administrativo. Tem um espírito sagaz, de boa vontade, fácil aprendizagem e uma simpatia meiga de jovem que está começando a descobrir a vida que se descortina à sua frente.

                Mas há um problema. Adriana tem um namorado.

                Sim. Isto é MESMO um problema. Aliás, poderia até dizer que é o maior problema de Adriana.

                Ela namora Antônio* que é alguns anos mais velho e tem uma característica que dita todo seu comportamento: ele é religioso.

                E não é que eu rejeite isso nas pessoas. Mesmo não fazendo parte da minha vida, tenho muitos amigos que seguem firmes sua fé e, no geral, eu vejo que isto faz das pessoas seres melhores. No entanto, no caso de Antônio, a coisa parece ter ficado meio distorcida.

                Do pouco que me lembro da época em que ainda freqüentava igreja e tudo mais, ficou na memória que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. [Brincadeira!...haha. Deixe-me voltar pra linha de raciocínio inicial]

                Lembro sempre das mensagens de respeito às pessoas, de não julgamento dos erros e pecados alheios e a importância do espírito de caridade e bondade. Ainda hoje, mesmo eu não praticando mais nenhuma religião, estas lições permanecem na minha mente e tento fazer com que sejam, na medida do possível, parte do meu jeito de ser.

                Aí, recentemente, fui surpreendida por uma frase da Adriana. Ela desejava mudar o visual. Coisa de mulher: corte/pintura de cabelo e essas coisas que todas nós adoramos fazer desde que o mundo é mundo. Porém ela disse que estava quase desistindo da idéia porque Antônio não acha isso uma conduta adequada para uma “pessoa de Deus”.

                Pasmem. Em pleno século XXI, ano de 2013, depois até do fim do calendário Maia e ainda tem quem pense desta maneira. Mas não importa. Não estou aqui para falar sobre o que acho das condutas estimuladas por esta ou aquela religião. O que me frustrou profundamente foi notar que ainda hoje existem garotas que se deixem comandar assim por seus companheiros.

                Vejo que vivemos num momento ambíguo. Mesmo após se passarem mais de 40 anos da tal queima de sotiens muitas mulheres, ainda que instruídas e com todo potencial para a autonomia, se permitem ficar na dependência de um homem.         

                Ok que hoje existe liberdade para que a mulher se imponha como chefe de família, que trabalhe para lutar por seu lugar na sociedade e no mercado de trabalho. Mas porque será que me mesmo assim ainda existem casos como o de Adriana?

                Eu tenho um palpite. Isso acontece porque a libertação feminina veio apenas pela metade. Chamamos de liberdade o que não passa de independência financeira. E o pior é que muitas vezes nem a independência financeira é assim tão plena, visto que tantas mulheres infelizes não abandonam seus homens por saberem não ser capazes de se bancar sozinhas.

                Acredito que o que ainda aprisiona a mulherada por aí é algo mais sutil, mais nocivo e difícil de combater. Chama-se dependência afetiva. E isso tanto homens quanto mulheres podem desenvolver. É aquele sentimento de que nosso valor é determinado pela avaliação do outro. É uma necessidade de ter sempre alguém a nos dizer que somos bonitos, engraçados, inteligentes, agradáveis... Em resumo: que somos queridos.

                E todos temos dentro de nós aquele ingrediente que serve de fermento pra dependência afetiva: insegurança. Aquele medo de perder quem nos admira e nos ama (ou assim nos faz crer) só cria forças quando se apóia na idéia de que ninguém mais será capaz de reconhecer nossas qualidades ou será capaz de nos amar e cuidar.

                Mas que grande armadilha isso vira!

                Adrianas do meu Brasil, eu entendo o medo da solidão e a dificuldade de mandar à merda os Antônios que aparecem e nos tornam dependentes e fragilizadas. Porém não percam de vista as preciosas informações abaixo:

- O mundo tem atualmente mais de 7 bilhões de pessoas. Cada uma destas pessoas tem suas particularidades e muitas delas (muitas mesmo!) pensam e sentem como você e seriam capazes de te amar e admirar do jeitinho que você é;

- Apesar de vermos na mídia o tempo todo celebridades aparentemente perfeitas a maioria da população é comum, assim como as pessoas que encontramos todos os dias no trabalho, padaria e ônibus. Não tenha medo de não ser perfeito. Gente de verdade busca gente de verdade, independente do que revistas, novelas e afins insistem em enfiar em nossa cabeça como padrão;

- A única conduta proibida é aquela que visa prejudicar outras pessoas, todo o resto tá valendo. Seu corpo é a casa da sua alma e você pode decorá-la da forma que quiser: pode tatuar, usar piercing, raspar o cabelo, pintar o cabelo verde... Foda-se! A probabilidade de que haja um criador te julgando por sua aparência e te riscando da lista de filhos amados só porque você mudou algum detalhe é muito remota;

- Ame-se. Não há nada mais cativante e magnético do que a vibração de alguém que se curta.

E aos Antônios que andam soltos por aí: este tipo de atitude desnecessariamente conservadora não colabora para ganhar tijolinhos para a casa de vocês no céu. :P


*nome fictício para mantermos o mínimo de privacidade aos personagens.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A Humanidade é Desumana?

A humanidade é desumana?
Acho que não. Mas a modernidade fatalmente o é.
O texto a seguir foi escrito em menos de 10 minutos, de uma tacada só, enquanto eu esperava o início de um treinamento que fui realizar pela empresa em um prédio fino em uma região nobre de São Paulo.

Eu: jovem, relativamente inteligente e pós graduanda... Fui subjugada por um elevador. Pois é.

Sempre soube que eu pendo bem mais para o time dos tradicionais [quase no time dos ultrapassados resistentes à mudanças...rs] do que para o time modernos. Não gosto de frescuras que julgo desnecessárias... Não sou uma aficionada por tecnologia (como a maior parte da minha geração é) e simplesmente abomino ambientes que exijam que me vista de modo muito fino.
Porém, também não sou uma rebelde completa e entendo perfeitamente que na sociedade em que vivemos é necessário muitas vezes dançar conforme a música deste "baile de máscaras" em que somos inseridos (ainda que não tenhamos gosto ou prática com a música).

Portanto, esta manhã, lá estava eu com minha fantasia completa: meu belo sapato de couro modelo oxford (já que odeio saltos este é o único modelo que ainda acho capaz de me conferir elegância, estilo e um mínimo de conforto), calça preta bem cortada (um achado de mais de 5 anos atrás comprado na Renner a um precinho camaradíssimo), minha camisa social preferida num sóbrio tom verde exército estrategicamente dobrada até os cotovelos (para conferir um ar despojado mas não informal demais) e um colete preto para arrematar (adquirido num camelô de santo amaro pelo impressionante valor de R$ 25!).
Minha indumentária de forma alguma transparecia sua humildade (nem a minha!) e cumpriu muito bem a função de me camuflar naquele ambiente que definitivamente não era o meu.

Com a fantasia acima descrita chego num saguão imenso com uma infinidade de elevadores e me posiciono aleatoriamente diante de um deles. O elevador abre as portas a minha frente e apenas eu e uma outra moça entramos nele.
Estranhei... Afinal, o hall estava abarrotado de gente.
Em poucos segundos desembarco no 26° andar. 
Putz! Mas meu andar era o 20°!
Só nesta hora me dou conta que o único botão existente dentro do elevador é o de emergência (?)
Pra minha sorte a moça que esteve comigo, muito gentilmente, me explica o procedimento: devo digitar em uma tela ao lado do elevador no térreo o número do andar desejado e esta tela me indicará a porta do elevador correto.
Do 26° andar, onde parei por acidente, não tinha autorização para descer os 6 que me separavam do 20° que era meu destino. Então desci até o térreo, recebi a orientação da máquina e embarquei em um elevador vazio mesmo com o saguão ainda cheio de pessoas aguardando.

Fiquei pensando no quão nonsense é este procedimento... Pensei até no empobrecimento das relações sociais cotidianas que podemos associar a isto.

Ok. Se você me conhece pessoalmente vai estranhar que logo eu levante esta questão.
Admito que fui ao treinamento de ônibus por não gostar de papo de taxista. Também admito que muitas vezes já fingi dormir no ônibus pra não conversar com ninguém e que vira e mexe finjo estar ouvindo música com o mp3 desligado apenas pra ter uma desculpa para ignorar algum conhecido que queira puxar papo.

Tenho uma veia "anti-social" fortíssima. Mas acima de tudo valorizo a liberdade. Tanto a de ser, como a de não ser anti-social.
Entendo perfeitamente que em um edifício tão grande quanto o que eu visitei necessite de um procedimento que desafogue e organize a circulação de pessoas. Porém toda esta "evolução de procedimento" me entristeceu. Me lembrei do que Inácio de Loyola Brandão descreve assustadoramente no livro Não Verás País Nenhum, quando mostra que o crescimento desordenado da população obriga o governo a estabelecer o horário em que cada cidadão sairá de casa a fim de evitar caos e superlotação nas vias públicas o que acaba gerando um sentimento de isolamento e desconfiança constante em quem circula nas ruas.

Puxa vida...será que é para este destino que estamos sutilmente nos encaminhando?
A humanidade se desumanizará a tal ponto?
Medo...

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A vida e a montanha russa

Adoro parques de diversão. Não consigo explicar a euforia que me toma a cada vez que visito um... Sinto sempre como se fosse a primeira vez. E, de todos os brinquedos, o que mais me encanta é a montanha russa.

Nunca consegui entender direito de onde vem meu fascínio por este brinquedo, ainda mais considerando que tenho verdadeiro pavor de altura. Até que, há alguns dias, finalmente entendi a grande lição de vida que este brinquedo me ensina.

Pra mim, aproveitar a montanha russa é sempre um ritual de amor e ódio, de excitação, medo e prazer.

Primeiro vem a coragem, quando a fila quilométrica [clássica em toda montanha russa que se preze] me impede de captar a dimensão da primeira queda. Depois vem a ansiedade crescente de ir aos poucos notando que o brinquedo é maior do que parecia olhando do fim da fila. Com o a aproximação a ansiedade se converte em medo e se une a necessidade de auto-afirmação da coragem inicial (afinal, depois que encaramos toda a espera até o momento de finalmente sentar no carrinho, pega super mal desistir na hora “H”, né?...rs). Por fim, meu momento preferido do processo: descer do brinquedo de perna bamba, inundada de adrenalina e pensando “Caralho! Que sensação fantástica! No final das contas nem foi tão terrível assim... Haha... Sou foda!”


Da mesma maneira que tenho medo de altura, tenho medo de uma infinidade de outras coisas. Nem todas merecem tanta atenção, eu sei, mesmo assim ainda tenho meus medos bobos e paralisantes.
E é aí que enxergo o que há em comum entre viver e dar um rolê de montanha russa...

Sempre vai haver aquele problema ou situação que decidimos encarar e que vai se mostrando maior a cada passo que damos na direção de seu enfrentamento. No momento crucial de um conflito quantas vezes temos o ímpeto de “fugir da raia”, mas o orgulho nos impede de fraquejar? Então, no momento em que a coisa se resolve, vem a mesma onda maravilhosa e quase orgástica de adrenalina.

E o que fica de lição é isso: a vida vai nos testar em muitos momentos e desejaremos evitar a queda vertiginosa de enfrentar o que nos desconcerta... Mas enquanto nos mantivermos firmes (não SEM o medo, mas APESAR dele) o desfecho tenderá sempre a uma explosão de satisfação e consciência de que nem sempre o bicho papão é tão feio quanto pinta nossa fantasia.