quarta-feira, 19 de março de 2014

O Gramado do Vizinho

Segundo o dicionário...

Peão: (latim
 medieval pedo, -onis, que tem pés grandes, que vai a pé)
substantivo masculino
1. Pessoa que anda a pé.
2. Soldado de infantaria.
3. Cada uma das peças menores do jogo de xadrez.
4. Homem que se ajusta para trabalhar no campo.
5. Pajem.
6. [Brasil]  Amansador de cavalos e burros.
7. Condutor de tropa ou serviçal de estância.
8. Camarada.
9. Homem que, montado a cavalo, agarra bois a laço.
10. [Marinha]  Peça de ferro em que a verga encaixa no mastro.

Segundo o uso popular...

Peão: funcionário operacional, geralmente de chão de fábrica e que - via de regra - trabalha muito, ganha pouco e não é reconhecido.

Até aí aparentemente tudo certo, tudo claro.
[Só que não...]

            Já foi o tempo em que se podia ter bem definida a fronteira do que é, e o que não é, ser peão num ambiente de trabalho. Existia a imagem aparentemente lógica de que quem não estudava virava peão e quem se dedicava ia pro escritório ser feliz pra sempre.
Neste conceito de mundo perfeito e bem dividido o tal "escritório" é como um paraíso em que se toma cafezinho, temos nosso próprio computador e passamos o dia tranquilamente sentados a esperar os pagamentos ao fim de cada mês.

Ahhh...se o pessoal da linha de produção soubesse a verdade...

            Escrevo este texto sob o ponto de vista de um representante do lado de cá. O lado de dentro do sonho de consumo da galera da base. E agora vou mandar a real:

            Me formei num curso superior de 5 anos de duração, fui pro inglês, entrei na pós graduação e, ironicamente, ainda me sinto mais peão do que nunca. E não sou a única! Conheço vários como eu... Formados e pós graduados que vagam por aí infelizes com sua situação não apenas financeira, mas que também se sentem explorados, pouco reconhecidos e desmotivados com o trabalho.



            Ok, eu até entendo a tendência que as pessoas tem de sempre achar que "o gramado do vizinho é mais verdinho". É muito mais fácil encontrar facilidades em algo que só conhecemos à distância. Mas não me entra na cabeça o glamour que alguns funcionários de cargos operacionais fantasiam que exista no mundo administrativo.

            Não vejo nada de "chique" em passar o dia atrás de uma tela de computador, fechada por 9 horas diárias na mesma sala, geralmente com o chefe na orelha a fazer cobranças constantes e ainda por cima ganhando pouco. E pior: com a terrível desvantagem de ter investido uma boa parte de nosso dinheiro em nossa capacitação profissional (o que nem sempre nos dá o retorno esperado).
            Ao mesmo tempo vejo um movimento forte no sentido contrário. Conheço um  volume respeitoso de pessoas que correram atrás de se capacitar para uma vida longa e próspera no setor administrativo e em algum momento fizeram uma curva acentuada na estrada da vida profissional, deixaram de lado o falso status do trabalho intelectual e hoje ganham a vida metendo a mão na massa.
E é lindo notar como isso às realiza e as supre (financeira e espiritualmente).
            Por isso mesmo digo à todos os trabalhadores chamados operacionais: auxiliares de produção, domésticas, garçons, pedreiros, mecânicos, costureiras...enfim...         Pare de sentimento de inferioridade!

            Todos os trabalhadores deste mundo encaram os mesmos perrengues e tem os mesmos anseios e frustrações...só muda o uniforme!
           
            Da mesma maneira que todos temos a mesma obrigação conosco mesmos de dar o melhor para atingir o sucesso e a tão sonhada realização que é possível para todos nós, cada um à sua maneira.

Ninguém é melhor que ninguém, pois tudo faz parte da mesma cadeia...