quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O dia que acordei feia

Não que eu seja linda. De forma alguma. Mas no geral também não sou horrorosa.

Sou daquelas café com leite que acorda baranga, se ajeita pra ficar aceitável e eventualmente (em ocasiões especiais em que os planetas chegam num alinhamento específico) posso até ser chamada de linda.

Na infância eu bem que poderia ter sido capa da revista crescer (bochechuda, cabelão liso bem comprido e pretinho. Uma graça). Na adolescência estava meio que cagando e andando com os padrões porque estava ocupada demais mergulhada no meu mundo interior desenhando, lendo, procurando bandas novas pra ouvir etc.

 

Fato é que minha infância é uma época já longínqua, a adolescência passou faz tempo, e a fase adulta não tá tão bem resolvida quanto eu esperava que seria.

 

Hoje acordei e não gostei da pessoa que me encarou do espelho.

 

Acho que já não estou mais tão cagando e andando pros padrões afinal, e o senso comum me pegou de jeito.

Não me acho mais um poço de inteligência e muito menos (MUITO MENOS) de beleza.

Parece que finalmente a tenacidade do raciocínio e a sagacidade da inteligência deram espaço a um grau mais acentuado de futilidade.

Se antes atender ao padrão estético da sociedade era lucro, hoje, por mais que me doa admitir, é uma necessidade para a auto estima. Já não me garanto mais apenas na riqueza do meu mundo interior e isso é uma tragédia. Uma grande tragédia.

 

Por que no dia em que nos rendemos ao que nos é imposto (aquela vida de novela das 20h ou de filme de sessão da tarde) fica decretado um estado permanente de frustração. Vamos combinar que este padrão que somos educados a engolir é beeeemmm complicado de alcançar, ne?

 

Uma pessoa esses dias me perguntou se este sentimento de frustração (com a própria aparência e desempenho na vida de maneira geral) tinha cura.

E sinceramente não consegui não ser muito otimista. Por todos os recursos que existem hoje e nos permitem xeretar na vida alheia imagino que não se frustrar é só para os fortes.

Estamos o tempo todo de olho da felicidade e sucesso alheio por meio de Facebooks, Instagrams, Whatsaaps etc.

Isso significa que você (você que neste momento me lê e eu mesma) é a pessoa mais fodida do mundo enquanto todo o resto da humanidade vive uma festa? Claro que não né! Mas esta compulsão geral de não dar um sorriso sem postar numa rede social nos legou o fardo da obrigação de estar sempre bem, sempre lindo e sempre bem sucedido (como se fosse a missão mais simples do mundo).

 

Essa facilidade de auto exposição nos tornou um tanto mais fúteis, mais preocupados com o que ostentamos pra fora do que o que trazemos por dentro.

Falando bem cruamente, eu acredito que uma coisa alimenta a outra. Não há como negar que quando estamos confiantes com o que apresentamos por fora (nossa aparência) recebemos um gás extra de autoestima que se reflete em encanto pessoal no contato com as pessoas. E o inverso também acontece: quando estamos cheios de nós mesmos (com um bom fluxo de pensamento e ideias novas rolando na cachola) esse brilho de dentro transborda pelos poros e é capaz de tornar qualquer barango num príncipe.

(Difícil acreditar? Mas aposto que alguma vez na vida já conheceu uma pessoa feia de doer, mas que de tão simpática vivia cercado de admiradores. Pois então. É o brilho de dentro transbordando!)

 

O triste é que cada vez mais a disputa entre o valor de dentro e o valor de fora tem se tornado desigual, e as pessoas – sabedeusporque –  tem ficado meio cegas ao brilho de dentro. O resultado é uma cobrança cada vez maior sobre o que não conseguimos controlar.

 

Minha dica pra abrandar o coração de toda esta angustia moderna?

Olha, não é tão simples na prática quanto na teoria...mas há que se voltar pra dentro um pouquinho. Porque a única coisa que de fato nos pertence está guardada na mente e é inegavelmente mais fácil evitar o empobrecimento do espírito do que o envelhecimento do corpo.

Os anos passam e a beleza se desgasta. Pra uns mais cedo e pra outros menos, mas como diz meu pai: Janeiro chega pra todo mundo! (Quando você começou a ler este texto era mais jovem do que é agora. Já parou pra pensar nisso?)

A beleza intelectual, por outro lado, fica mais apurada e encantadora a cada dia que passa, em cada frustração, cada conquista e cada nova experiência de vida, seja ela boa ou ruim. E que fique claro que quando uso a expressão “beleza intelectual” não me refiro a conhecimento acadêmico, mas àquele conhecimento que só a vida pode dar.

Cada ruga, cada quilo, cada ano adquirido traz consigo um pequeno tesouro. Um tesouro que não sai nas fotos e que não é tão fácil postar nas redes por aí...mas que quando encontrada nos dá a maior satisfação de todas: a satisfação da alma.

 

Daqui a pouco vem ano novo chegando e uma coisa que posso afirmar com 100% de certeza é que chegaremos lá mais velhos e com menos tempo de vida pela frente.

Portanto é questão de qualidade de vida fazer uma forcinha e resgatar o que realmente vale a pena.

Por fora não sei...mas por dentro todos podemos ser cada dia mais lindos!

 

Um lindo 2016 (17, 18, 19, 20...) para nós J

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Complexo de Culpa


Durante os 2 superprodutivos anos em que estive em terapia (e amadureci muito) perdi as contas de quantas vezes ouvi a expressão “maldição da herança judaico-cristã”. Pois é. Era assim que meu sábio terapeuta chamava esse sentimentozinho que nos definha por dentro vez por outra: a culpa.

 

Claro que antes de partir de um ponto de vista radical, vale a pena pensar sobre as possíveis intensidades da culpa. Uma coisa é admitir nossos erros e ter a humildade de se responsabilizar pelas falhas e nos comprometermos honestamente a melhorar. Outra bem mais perigosa e devastadora é nos entregarmos ao martírio e à ruminações mentais sem futuro.
Moderação é sempre bom.

 

Me peguei pensando sobre isso ao ler um texto muito bonito em outro blog.

A ideia era propor uma reflexão sobre as exigências que fazemos ao parceiro em um relacionamento. Sobre todas as vezes que exigimos algo e não retribuímos à altura.


Daí comecei a refletir num processo contrário...
E nos casos em que há uma cobrança a si mesmo? Quando o outro nos oferece muito e existe um sentimento constante de dívida e o curso das brigas do casal (ou não apenas falando de casal, mas em qualquer contexto) tornam-se não mais “a culpa é sua”, mas sim “a culpa é minha”?

Será que um excesso de autocomiseração e remorso garante que se viva em paz?

 

Não pretendo responder de fato a esta pergunta, até porque eu mesma me sinto num processo constante de descoberta sobre isso. Porém tendo a achar que até humildade demais é nocivo.

 

Uma das grandes lições que aprendi nesses fatídicos 2 anos terapêuticos foi a fazer uma troca importante: a da “culpa” pela “responsabilidade”.


É simples, mas de efeito magnífico. Todas as vezes em que usava o termo “culpa” era instruída a repetir a frase trocando o termo por “responsabilidade”.

E por incrível que pareça faz diferença!
Quando pensamos em culpa estamos voltados ao leite derramado. Ao mal já feito e irreversível.

Responsabilidade, por outro lado, conota um ato em construção, algo com que você está comprometido. É um termo que carrega em si uma positividade.

Sem contar que culpa é algo que se sente sozinho enquanto a responsabilidade pode ser partilhada.

 

Ser responsável significa literalmente responder. E entre tantas coisas na vida pelas quais respondemos estão os nossos atos, escolhas e nossa plenitude. E sabe de uma coisa? Corroer-se por dentro pelas mancadas passadas é uma opção, mas focar no futuro e chamar no peito a responsabilidade de melhora tem muito mais chances de gerar satisfação do que o auto-flagelo.


Portanto, quando disser a si mesmo “a culpa é minha”, pense de novo, reflita e corrija para “a responsabilidade é minha, o que posso fazer para melhorar isso?”.

Liberte-se.

domingo, 12 de julho de 2015

Pessimismo não é realismo, bebê!

Palavra de ex pessimista. Me creia... Com o tempo a gente aprende que realismo e pessimismo são totalmente diferentes.

Por mais que nós pessimistas tenhamos a ilusão de sermos fodões e mais prevenidos que a maioria dos mortais, a verdade é que nunca conseguiremos dar o "pelé" na vida...não podemos enganar as situações para estar 100% preparados para o que vier.

Resumindo: não adianta esperar o pior acreditando que assim ficará blindado contra frustração quando a desgraça finalmente acontecer, porque você NUNCA vai estar de fato preparado. Por mais que aconteça exatamente a desgraça que você antecipou, você não vai sofre menos porque você estava esperando. Muito pelo contrário. Você irá sofrer em dobro: antes e depois.

Então aprenda: a vida vai sempre te surpreender com formas muito mais terríveis e cruéis de te fazer sofrer e beijar a lona. Mas, calma! Pois também é verdade que irá igualmente te surpreender com coisas muito mais maravilhosas do que você imaginava que seria possível e diversas versões novas e inusitadas de felicidade.

Se você fica esperando o que é ruim você não goza da felicidade e de quebra você ainda vive o sofrimento em dobro quando ele se concretiza. 

Aí eu te pergunto...
Vale a pena?
É funcional?
Te faz crescer?

Acho que não.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O sexo salvou o amor, mas o erotismo matou o prazer

A boa e a má notícia: sim, o amor está vivo e foi o sexo que o salvou. Mas aí veio o erotismo e acabou com o sexo.

Parece incoerente? Mas se pararmos pra pensar, nem tanto.

Houve um tempo em que fingia-se amor apenas na pretensão de ter acesso ao sexo.
Se você for muito jovem talvez nem acredite, mas tempos atrás as damas e rapazes apenas tinham iniciação na arte de Vênus após contrair o matrimônio (aliás, eu morro de rir o termo “contrair matrimônio”...parece que a pessoa pegou uma doença grave...rs). Contato físico e sentimento deveriam estar diretamente ligados e todos eram obrigados a encontrar ambos sempre na mesma pessoa (resumindo, se você ama alguém deve transar com ela. Ao mesmo tempo, se você deseja alguém também deve amá-lo). Acontece que muitas vezes não é esta a lógica.

Em algum momento a sociedade passou aos poucos a aceitar isso como uma regra que nem sempre se aplica (um salve especial aos hippies e seu conceito revolucionário de amor livre). O corpo se libertou e os corações deixaram de se obrigar a amar de maneira forçada e artificial um objeto de desejo.

Hoje finalmente as pessoas se permitem testar o amor e suas formas, o desejo e suas diversas manifestações. Acredito que para quem é de fato comprometido com sua própria felicidade o contexto ficou propício para escolhermos melhor aquela pessoa especial para nos acompanhar pela vida toda (ou, até, se for o caso, decidir que prefere passar a vida sem ninguém). Podemos testar o efeito de pele, de carinho, de desejo e parceria com mais de uma pessoa, sem que esta decisão seja tomada às pressas ou sob pressão social (ufa!).

Pode até parecer que foi uma super evolução. E talvez tenha sido mesmo por algumas décadas. Mas o tempo passou e os valores se inverteram num grau que imagino que jamais tenha passado na cabeça nem do mais liberado jovem dos anos 60.

Hoje somos inundados de erotismo e quase tudo remete ao sexo (não gosto nem de pensar que hoje tem criança de 9 anos dando aula de putaria...). Desempenho sexual (e uso o termo desempenho mais por hábito do que por achar que essa galera mande bem de verdade) virou algo a ser ostentado, exibido e cultivado em quantidade (medo!). Banalizou.

Quero que fique claro que não sou pudica nem acho que temos que guardar nossa virtude para um príncipe, mas também não acho que devemos usar o sexo como ferramenta de auto-afirmação como tenho visto por aí. Vejo as pessoas cada vez mais se obrigando a serem sensuais o tempo todo e não acho isso saudável (conheço meninas que simplesmente desaprenderam a sorrir e hoje só sabem mostrar a língua e fazer bico nas fotos). Vejo caras comprometidos (e bem em seus relacionamentos) cultivando a possibilidade de uma foda extra-namoro como quem cuida de uma plantinha apenas porque querem mostrar aos amigos que “cachorro amarrado não está morto” ou que “a carne fraca” ou provar a si mesmo que ainda são capazes de despertar desejo em alguém (como se apenas suas companheiras não bastassem...aliás, estou falando aqui do comportamento de homens porque meu ponto de vista é o de uma mulher que já foi assediada muitas vezes por caras comprometidos, mas isso também vale para mulheres!).

Aí me pergunto se talvez isso não seja um puta passo para trás. Porque se o erotismo fica banalizado o frio na barriga morre. O contato físico perde o valor.

Antigamente usávamos o termo química para explicar quando um casal se entendia (na cama e na vida como um todo). Agora sinto que a química está sendo substituída pela mecânica. Temos acesso à pornografia com mais facilidade que nunca (e viva o whatsapp!) e a paranoia com o tal desempenho é tanta que deixamos de ouvir nosso corpo e de prestar atenção no que gostamos, no que queremos...me apavora a idéia de que a mesma menina que se esfrega em deus e o mundo nos “fluxos” da vida provavelmente nunca parou para se masturbar e descobrir seu corpo e como ele funciona.

O erotismo matou o prazer do sexo. E agora?!


Já ouvi músicas que são quase um manual sonoro da sacanagem, mas um manual extremamente cheio de buracos, pois considera corpo, movimento e detalhes físicos...mas não considera que dentro de cada corpo tem um sentimento (e não, não é pra soar romântico, e sim realista), tem uma fantasia uma expectativa. Podemos seguir todo o ritual de bucetas e picas e outras coisas, mas apenas isso nunca bastará para uma boa experiência (esperar isso seria duma inocência e inexperiência ímpar!). Não devemos idealizar demais o sexo, porém o precisamos aprender que a satisfação com ele dependerá do quanto a gente se permite se conhecer (como nosso corpo funciona, quais nossos limites e principais vontades) e que o prazer de cada um é diferente e não deve ser visto como um show a ser exibido, por que é um tesouro para ser desfrutado na intimidade.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A droga do amor

Me perdoem os amantes de literatura infanto-juvenil por ter usado o título deste clássico do Pedro Bandeira para dar nome pro meu post, mas foi o melhor que me ocorreu.

O amor é um mistério, um desafio, uma coisa rara e, muitas vezes, uma droga. Porque, como dizem: "O amor não é aquilo que te deixa bobo e rindo à toa. O nome disso é maconha. O amor é outra coisa." (tu-dum-tizzz!)

Piadas à parte, embora pareça que o objetivo seja tratar este sentimento tão complexo de maneira negativa, não é bem isso. Quero apenas lançar um olhar racional e porque não dizer "científico" sobre ele.
Amanhã é dia dos namorados. Casais planejam comemorações, apaixonados silenciosos pensam em se declarar, rejeitados amargam suas carências...e eu escrevo.

Escrevo porque pela primeira vez na vida não sei em qual desses grupos me encaixo e comecei a me remoer tentando entender o que é isso que as pessoas chamam de amor.

Digo "as pessoas" porque sei muito bem que o amor que eu idealizo não existe. O amor que eu idealizo é aquela relação positiva de querer bem, de gostar de cuidar, de poder se divertir, ser honesto, transparente e generoso sem ameaçar o vínculo com quem amamos. É uma partilha plena de vida e de valores. (E isso vale para relacionamentos em instâncias que transpõe a vida de casal e que também deve existir entre amigos, familiares, colegas de trabalho etc).

Porém o que vejo sendo chamado de amor é simplesmente a possibilidade de posse de outra pessoa. Muitas vezes vejo casais estendendo relações desastrosas porque não aguentariam ver seus parceiros com outras pessoas. Não se permitem abrir mão da posse do outro e em nome disso abrem mão da possibilidade de uma vida mais plena, porém solitária.
(Só pra mim isso não faz sentido?)

Digo que o amor é uma droga, não por achar que seja ruim, mas porque tal como acontece com as drogas de todos os tipos: com o tempo vamos precisando de doses cada vez maiores para sentir o mesmo "barato".
Conhecemos alguém, nos apaixonamos e, no início, apenas algumas horas com esse alguém nos mantém em estado de êxtase por dias. Aí o tempo passa e quando notamos todas as nossas horas estão voltadas para esta mesma pessoa e o tal estado de êxtase se torna progressivamente mais raro.

E é engraçado, mas por coincidência "veneno" e "amor" são palavras intimamente relacionadas, afinal VENENO vem do latim VENENUM: “substância tóxica, veneno”, originalmente “remédio, poção”, possivelmente também “poção de amor”, ligada a VENUS: “amor, desejo sexual”. (estas informações foram coletadas de fontes aparentemente confiáveis deste site. Caso esteja dizendo alguma bobagem -o que eu não estranharia...rs- e algum linguista deseje me corrigir, favor me fique a vontade!)

Então cuidado, crianças... Amanhã o mundo te pressionará para que você tenha alguém, que ame. Mas só faça isso se for sadio. Cuidado para não se intoxicar de ninguém.
E um feliz dia dos namorados a todos!
*Aprecie com moderação*

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Quando o fim se aproxima

Aquela hora que parece que o fim chegou ou está quase...
Respiro. Penso: "se não se começa de uma hora pra outra, porque então o fim precisa ser de repente, no seco, sem nenhum preparo?"
Mas o fato é esse aí mesmo. A conquista é um processo que leva tempo, mas na hora de acabar esperamos que aconteça rápido.

A coisa apaga e daí alguém levanta a questão: "Acabou?" "Separa?" "Tenta ficar junto um pouco mais?"
Mas nunca deixamos o fim se estruturar dentro de nós quando fizemos quando tudo começou. Não permitimos um processo de "desconquista".
A desconquista dói quando perdemos algo que foi bom e ficou ruim. E talvez doa mais ainda quando perdemos algo que era bom, mas parou de funcionar (ainda que não tenha necessariamente deixado de ser bom).

Há que se pensar no que foi bom, no que foi ruim, no que dá pra melhorar e o que não dá.
O tempo leva embora uma bela parcela da tolerância e aquelas pequenas diferencias e incômodos  que eram bem administradas vão ficando gradativamente maiores.

Chega a hora de chafurdar em cada sentimento e analisar com toda racionalidade disponível ao homo sapiens os detalhes técnicos.
Ahhh...os detalhes técnicos são os piores!
Contar pra família e pros amigos. Explicar pra todo mundo que já vê os dois como uma única entidade que as coisas mudaram.
E aí reestruturar os hábitos: não ter mais companhia pra dormir, pra viajar, pra contar as novidades ou pedir ajuda nas madrugadas.

Putz! O fim dá trabalho!
Há que se pensar...



domingo, 3 de maio de 2015

Desejamos sempre mais do que necessitamos

Às vezes pode ser sutil de um modo que nem percebamos, mas, no geral, estamos o tempo todo atrás de mais do que precisamos.

E não me refiro apenas às questões financeiras. Ok, o mundo é capitalista e então a gente trabalha e trabalha para ganhar dinheiro para poder possuir coisas, não temos por onde fugir disso.

Mas não é só quando o assunto é grana que as pessoas estão atrás de mais quantidade do que o necessário.
Por exemplo: eu vejo que as pessoas ficam carentes não porque elas não tem carinho ou não tem amigos, mas sim porque elas gostariam de ter ainda mais amigos e carinho do que elas já tem. Tiramos o foco da qualidade para sofrer pela quantidade.
E na verdade eu acredito que não precisamos de muito.
Quando paro para pensar nos itens necessários para uma vida plena, com paz e realização eu entendo que menos é mais.
Não é necessário ter um milhão de amigos, como queria o Roberto Carlos. Basta ter poucos bons amigos. Se você tiver apenas um bom confidente (alguém que você realmente confie e com quem se se sinta à vontade) então você já tem o suporte necessário para desabafar e se manter em equilíbrio.

Quando saímos pra nos divertir não podemos medir o sucesso da noite apenas pelo volume de álcool que ingerimos ou pela quantidade de pessoas que "pegamos". Claro que tudo faz parte, mas não quer dizer que quanto mais você bebe ou mais você fica com várias pessoas diferentes, maior será seu grau de satisfação.
Creio que a satisfação seja aproveitar o que a vida nos oferece ao máximo, dentro de um limite.
Beber na medida de ficarmos mais descontraídos, divertidos e à vontade, não de passarmos mal. Não é uma relação diretamente proporcional, de que quanto mais a gente beba e quanto mais a gente fique com várias pessoas melhor terá sido a noite. Pode até existir (e com certeza existe) quem calcule as coisas a partir desta lógica, mas acho isso muito raso.

É claro que se saber desejável e sedutor é uma das sensações mais prazerosas que existe, mas também não dá pra passar a vida toda correndo atrás do prazer desta forma. Não precisamos todos os dias conquistar alguém ou cativar cada vez mais seguidores e admiradores.

Eu sei o quanto é brega e clichê essa coisa de dizer que "o bom homem não é aquele que conquista várias mulheres, e sim o que conquista a mesma mulher várias vezes", mas não dá pra negar que não haja um fundo de verdade nisso.

Ninguém consegue viver a vida inteira acumulando quantidade. O segredo da satisfação é aproveitar bem o que você já conquistou, e não querer acumular coisas (sejam afetos ou bens materiais).

Aliás, reforço que faço questão de usar o termo "satisfação" e não o termo "felicidade". Já citei em vários outros textos o quanto acho uma bobagem querer ostentar felicidade a todo custo. Concordo com o fofo do Abujamra [e fiquei de coração partido essa semana com a morte dele] quando ele diz que não devemos nos preocupar com o sucesso, pois o fracasso é muito mais interessante de se ver.
Precisamos saber aproveitar os fracassos e os sucessos para podermos gozar de uma coisa e de outra. Precisamos aprender a tirar proveitos das merdas e das conquistas.

Então, anote a dica de hoje: pare de olhar para o lado e ver quanta gente existe que está ganhando mais que você, quanta gente é mais bonita, gostosa ou descolada que você...quanta gente tem conquistas mais interessantes que você e faz festas com mais convidados que você. O que importa na verdade não é isso, não é o comparar-se. Não se preocupe com o acúmulo, preocupe-se com o desfrute das coisas. Apenas se permita aproveitar tudo o que você tem da forma mais gostosa e foda-se o que não te pertence!



quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Tudo o que morre fica vivo (cemitério na cabeça PII)



Desde sempre me encanta esta música, mas só recentemente fiz uma associação entre ela e uma dessas frases batidas que ouço com frequência: A vida é feita de escolhas.

Fiquei refletindo depois de uma conversa qualquer que, se é fato que a vida é feita de escolhas, e se, como diz o ditado, para cada escolha há uma renúncia, então podemos concluir que a vida é feita de renúncias.

Pensar nisso me causa uma enorme frustração. Afinal nunca fui muito adepta da arte do sacrifício. Tenho muito mais o perfil de quem quer se organizar para viver todas as experiências possíveis pra vida.

Mas em algum momento a ficha cai e o tempo nos mostra que as coisas não são bem assim.

Penso no conceito de renúncia como uma “não possibilidade”, algo que nunca será. É uma espécie de morte das demais opções possíveis. A morte de algo que poderia ter sido, mas não é (nem jamais será).

Me lembro que há muito tempo atrás confessei a uma pessoa que frequentemente me pegava a imaginar como minha vida poderia ter sido se eu tivesse feito algumas pequenas escolhas de forma diferente.

Ela me respondeu que se eu não experimentasse nunca saberia. Que de “e se” em “e se” eu deixaria minha vida passar sem viver de verdade.

E por simples (e até óbvia) que tenha sido a ideia, isso me influenciou de uma maneira que esta pessoa jamais saberá. Os impactos desta influência se faz sentir na minha vida até hoje.

A filosofia do Carpe Diem e do “vamos fazer o máximo de coisas para curtir vida” foi o lema da minha existência desde esta fatídica conversa. Por isso mesmo, acordar para a ideia de que é impossível “zerar” as possibilidades do jogo da vida, e de que viver consiste em abrir mão de coisas o tempo todo, fere profundamente uma parte de mim.

Cada frustração, cada escolha, cada possibilidade não vivida e cada capítulo de nossa história que fica para trás, não fica para trás de fato, mas nos persegue e influencia. Vão se acumulando e nos moldando independente de nossa vontade. É nosso cemitério particular.

Viver não é apenas a arte da escolha, do sacrifício e da convivência com o outro. Também é um exercício de maturidade para convivermos com nossos próprios calos. Não se pode mudar o que já passou. Como diz o ditado: águas passadas não movem moinhos. Da mesma maneira, não se pode mudar o passado do outro com quem convivemos. É necessário aceitar que cada um de nós é uma espécie de saco de “defuntos mentais” ambulante.

Precisamos aprender a lidar com as consequências das feridas do próximo e compreender que algumas vezes seremos nós a sofrer as consequências das ações de terceiros no passado de quem amamos.

Quanto mais intensa a vida, mais escolhas. Quanto mais escolha, mais renúncia. Quanto mais renúncia, mais passado. Quanto mais passado, maior a necessidade de aceitação do outro e resiliência.

Ou, como disse Gustave Flaubert: "Que grande necrópole é o coração humano! Para que irmos aos cemitérios? Basta abrirmos as nossas recordações; quantos túmulos!".