Durante os 2 superprodutivos anos em que estive em terapia
(e amadureci muito) perdi as contas de quantas vezes ouvi a expressão “maldição
da herança judaico-cristã”. Pois é. Era assim que meu sábio terapeuta chamava
esse sentimentozinho que nos definha por dentro vez por outra: a culpa.
Claro que antes de partir de um ponto de vista radical, vale a pena pensar sobre as possíveis intensidades da culpa. Uma coisa é admitir nossos erros e ter a humildade de se
responsabilizar pelas falhas e nos comprometermos honestamente a melhorar.
Outra bem mais perigosa e devastadora é nos entregarmos ao martírio e à
ruminações mentais sem futuro.
Moderação é sempre bom.
Me peguei pensando sobre isso ao ler um texto muito bonito
em outro blog.
A ideia era propor uma reflexão sobre as exigências que
fazemos ao parceiro em um relacionamento. Sobre todas as vezes que exigimos
algo e não retribuímos à altura.
Daí comecei a refletir num processo contrário...
E nos casos
em que há uma cobrança a si mesmo? Quando o outro nos oferece muito e existe um
sentimento constante de dívida e o curso das brigas do casal (ou não apenas falando de casal, mas em qualquer contexto) tornam-se não mais
“a culpa é sua”, mas sim “a culpa é minha”?
Será que um excesso de autocomiseração e remorso garante que se viva em paz?
Não pretendo responder de fato a esta pergunta, até porque
eu mesma me sinto num processo constante de descoberta sobre isso. Porém tendo
a achar que até humildade demais é nocivo.
Uma das grandes lições que aprendi nesses fatídicos 2 anos
terapêuticos foi a fazer uma troca importante: a da “culpa” pela
“responsabilidade”.
É simples, mas de efeito magnífico. Todas as vezes em que
usava o termo “culpa” era instruída a repetir a frase trocando o termo por
“responsabilidade”.
E por incrível que pareça faz diferença!
Quando pensamos em
culpa estamos voltados ao leite derramado. Ao mal já feito e irreversível.
Responsabilidade, por outro lado, conota um ato em
construção, algo com que você está comprometido. É um termo que carrega em si
uma positividade.
Sem contar que culpa é algo que se sente sozinho enquanto a responsabilidade
pode ser partilhada.
Ser responsável significa literalmente responder.
E entre tantas coisas na vida pelas quais respondemos estão os nossos atos,
escolhas e nossa plenitude. E sabe de uma coisa? Corroer-se por dentro pelas
mancadas passadas é uma opção, mas focar no futuro e chamar no peito a
responsabilidade de melhora tem muito mais chances de gerar satisfação do que
o auto-flagelo.
Portanto, quando disser a si mesmo “a culpa é minha”, pense de novo,
reflita e corrija para “a responsabilidade é minha, o que posso fazer para melhorar isso?”.
Liberte-se.