quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Complexo de Culpa


Durante os 2 superprodutivos anos em que estive em terapia (e amadureci muito) perdi as contas de quantas vezes ouvi a expressão “maldição da herança judaico-cristã”. Pois é. Era assim que meu sábio terapeuta chamava esse sentimentozinho que nos definha por dentro vez por outra: a culpa.

 

Claro que antes de partir de um ponto de vista radical, vale a pena pensar sobre as possíveis intensidades da culpa. Uma coisa é admitir nossos erros e ter a humildade de se responsabilizar pelas falhas e nos comprometermos honestamente a melhorar. Outra bem mais perigosa e devastadora é nos entregarmos ao martírio e à ruminações mentais sem futuro.
Moderação é sempre bom.

 

Me peguei pensando sobre isso ao ler um texto muito bonito em outro blog.

A ideia era propor uma reflexão sobre as exigências que fazemos ao parceiro em um relacionamento. Sobre todas as vezes que exigimos algo e não retribuímos à altura.


Daí comecei a refletir num processo contrário...
E nos casos em que há uma cobrança a si mesmo? Quando o outro nos oferece muito e existe um sentimento constante de dívida e o curso das brigas do casal (ou não apenas falando de casal, mas em qualquer contexto) tornam-se não mais “a culpa é sua”, mas sim “a culpa é minha”?

Será que um excesso de autocomiseração e remorso garante que se viva em paz?

 

Não pretendo responder de fato a esta pergunta, até porque eu mesma me sinto num processo constante de descoberta sobre isso. Porém tendo a achar que até humildade demais é nocivo.

 

Uma das grandes lições que aprendi nesses fatídicos 2 anos terapêuticos foi a fazer uma troca importante: a da “culpa” pela “responsabilidade”.


É simples, mas de efeito magnífico. Todas as vezes em que usava o termo “culpa” era instruída a repetir a frase trocando o termo por “responsabilidade”.

E por incrível que pareça faz diferença!
Quando pensamos em culpa estamos voltados ao leite derramado. Ao mal já feito e irreversível.

Responsabilidade, por outro lado, conota um ato em construção, algo com que você está comprometido. É um termo que carrega em si uma positividade.

Sem contar que culpa é algo que se sente sozinho enquanto a responsabilidade pode ser partilhada.

 

Ser responsável significa literalmente responder. E entre tantas coisas na vida pelas quais respondemos estão os nossos atos, escolhas e nossa plenitude. E sabe de uma coisa? Corroer-se por dentro pelas mancadas passadas é uma opção, mas focar no futuro e chamar no peito a responsabilidade de melhora tem muito mais chances de gerar satisfação do que o auto-flagelo.


Portanto, quando disser a si mesmo “a culpa é minha”, pense de novo, reflita e corrija para “a responsabilidade é minha, o que posso fazer para melhorar isso?”.

Liberte-se.