Sou daquelas café com leite que acorda baranga, se ajeita
pra ficar aceitável e eventualmente (em ocasiões especiais em que os planetas
chegam num alinhamento específico) posso até ser chamada de linda.
Na infância eu bem que poderia ter sido capa da revista crescer
(bochechuda, cabelão liso bem comprido e pretinho. Uma graça). Na adolescência
estava meio que cagando e andando com os padrões porque estava ocupada demais
mergulhada no meu mundo interior desenhando, lendo, procurando bandas novas pra
ouvir etc.
Fato é que minha infância é uma época já longínqua, a
adolescência passou faz tempo, e a fase adulta não tá tão bem resolvida
quanto eu esperava que seria.
Hoje acordei e não gostei da pessoa que me encarou do
espelho.
Acho que já não estou mais tão cagando e andando pros
padrões afinal, e o senso comum me pegou de jeito.
Não me acho mais um poço de inteligência e muito menos
(MUITO MENOS) de beleza.
Parece que finalmente a tenacidade do raciocínio e a
sagacidade da inteligência deram espaço a um grau mais acentuado de futilidade.
Se antes atender ao padrão estético da sociedade era lucro,
hoje, por mais que me doa admitir, é uma necessidade para a auto estima. Já não
me garanto mais apenas na riqueza do meu mundo interior e isso é uma tragédia.
Uma grande tragédia.
Por que no dia em que nos
rendemos ao que nos é imposto (aquela vida de novela das 20h ou de filme de
sessão da tarde) fica decretado um estado permanente de frustração. Vamos
combinar que este padrão que somos educados a engolir é beeeemmm complicado de
alcançar, ne?
Uma pessoa esses dias me perguntou se este sentimento de
frustração (com a própria aparência e desempenho na vida de maneira geral) tinha
cura.
E sinceramente não consegui não ser muito otimista. Por
todos os recursos que existem hoje e nos permitem xeretar na vida alheia
imagino que não se frustrar é só para os
fortes.
Estamos o tempo todo de olho da felicidade e sucesso alheio
por meio de Facebooks, Instagrams, Whatsaaps etc.
Isso significa que você (você que neste momento me lê e eu
mesma) é a pessoa mais fodida do mundo enquanto todo o resto da humanidade vive
uma festa? Claro que não né! Mas esta compulsão geral de não dar um sorriso sem
postar numa rede social nos legou o fardo da obrigação de estar sempre bem,
sempre lindo e sempre bem sucedido (como se fosse a missão mais simples do
mundo).
Essa facilidade de auto exposição nos tornou um tanto mais
fúteis, mais preocupados com o que ostentamos pra fora do que o que trazemos
por dentro.
Falando
bem cruamente, eu acredito que uma coisa alimenta a outra. Não há como negar
que quando estamos confiantes com o que apresentamos por fora (nossa aparência)
recebemos um gás extra de autoestima que se reflete em encanto pessoal no contato
com as pessoas. E o inverso também acontece: quando estamos cheios de nós
mesmos (com um bom fluxo de pensamento e ideias novas rolando na cachola) esse
brilho de dentro transborda pelos poros e é capaz de tornar qualquer barango
num príncipe.
(Difícil
acreditar? Mas aposto que alguma vez na vida já conheceu uma pessoa feia de doer,
mas que de tão simpática vivia cercado de admiradores. Pois então. É o brilho
de dentro transbordando!)
O triste
é que cada vez mais a disputa entre o valor de dentro e o valor de fora tem se
tornado desigual, e as pessoas – sabedeusporque – tem ficado meio cegas ao brilho de dentro. O
resultado é uma cobrança cada vez maior sobre o que não conseguimos controlar.
Minha dica pra abrandar o coração de toda esta angustia
moderna?
Olha, não é tão simples na prática quanto na teoria...mas há
que se voltar pra dentro um pouquinho. Porque a única coisa que de
fato nos pertence está guardada na mente e é inegavelmente mais fácil evitar o
empobrecimento do espírito do que o envelhecimento do corpo.
Os anos passam e a beleza se desgasta. Pra uns mais cedo e
pra outros menos, mas como diz meu pai: Janeiro chega pra todo mundo! (Quando
você começou a ler este texto era mais jovem do que é agora. Já parou pra
pensar nisso?)
A beleza intelectual, por outro lado, fica mais apurada e
encantadora a cada dia que passa, em cada frustração, cada conquista e cada
nova experiência de vida, seja ela boa ou ruim. E que fique claro que quando
uso a expressão “beleza intelectual” não me refiro a conhecimento acadêmico,
mas àquele conhecimento que só a vida pode dar.
Cada ruga, cada quilo, cada ano adquirido traz consigo um
pequeno tesouro. Um tesouro que não sai nas fotos e que não é tão fácil postar
nas redes por aí...mas que quando encontrada nos dá a maior satisfação de
todas: a satisfação da alma.
Daqui a
pouco vem ano novo chegando e uma coisa que posso afirmar com 100% de certeza é
que chegaremos lá mais velhos e com menos tempo de vida pela frente.
Portanto
é questão de qualidade de vida fazer uma forcinha e resgatar o que realmente
vale a pena.
Por fora
não sei...mas por dentro todos podemos ser cada dia mais lindos!
Um lindo
2016 (17, 18, 19, 20...) para nós J