quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O dia que acordei feia

Não que eu seja linda. De forma alguma. Mas no geral também não sou horrorosa.

Sou daquelas café com leite que acorda baranga, se ajeita pra ficar aceitável e eventualmente (em ocasiões especiais em que os planetas chegam num alinhamento específico) posso até ser chamada de linda.

Na infância eu bem que poderia ter sido capa da revista crescer (bochechuda, cabelão liso bem comprido e pretinho. Uma graça). Na adolescência estava meio que cagando e andando com os padrões porque estava ocupada demais mergulhada no meu mundo interior desenhando, lendo, procurando bandas novas pra ouvir etc.

 

Fato é que minha infância é uma época já longínqua, a adolescência passou faz tempo, e a fase adulta não tá tão bem resolvida quanto eu esperava que seria.

 

Hoje acordei e não gostei da pessoa que me encarou do espelho.

 

Acho que já não estou mais tão cagando e andando pros padrões afinal, e o senso comum me pegou de jeito.

Não me acho mais um poço de inteligência e muito menos (MUITO MENOS) de beleza.

Parece que finalmente a tenacidade do raciocínio e a sagacidade da inteligência deram espaço a um grau mais acentuado de futilidade.

Se antes atender ao padrão estético da sociedade era lucro, hoje, por mais que me doa admitir, é uma necessidade para a auto estima. Já não me garanto mais apenas na riqueza do meu mundo interior e isso é uma tragédia. Uma grande tragédia.

 

Por que no dia em que nos rendemos ao que nos é imposto (aquela vida de novela das 20h ou de filme de sessão da tarde) fica decretado um estado permanente de frustração. Vamos combinar que este padrão que somos educados a engolir é beeeemmm complicado de alcançar, ne?

 

Uma pessoa esses dias me perguntou se este sentimento de frustração (com a própria aparência e desempenho na vida de maneira geral) tinha cura.

E sinceramente não consegui não ser muito otimista. Por todos os recursos que existem hoje e nos permitem xeretar na vida alheia imagino que não se frustrar é só para os fortes.

Estamos o tempo todo de olho da felicidade e sucesso alheio por meio de Facebooks, Instagrams, Whatsaaps etc.

Isso significa que você (você que neste momento me lê e eu mesma) é a pessoa mais fodida do mundo enquanto todo o resto da humanidade vive uma festa? Claro que não né! Mas esta compulsão geral de não dar um sorriso sem postar numa rede social nos legou o fardo da obrigação de estar sempre bem, sempre lindo e sempre bem sucedido (como se fosse a missão mais simples do mundo).

 

Essa facilidade de auto exposição nos tornou um tanto mais fúteis, mais preocupados com o que ostentamos pra fora do que o que trazemos por dentro.

Falando bem cruamente, eu acredito que uma coisa alimenta a outra. Não há como negar que quando estamos confiantes com o que apresentamos por fora (nossa aparência) recebemos um gás extra de autoestima que se reflete em encanto pessoal no contato com as pessoas. E o inverso também acontece: quando estamos cheios de nós mesmos (com um bom fluxo de pensamento e ideias novas rolando na cachola) esse brilho de dentro transborda pelos poros e é capaz de tornar qualquer barango num príncipe.

(Difícil acreditar? Mas aposto que alguma vez na vida já conheceu uma pessoa feia de doer, mas que de tão simpática vivia cercado de admiradores. Pois então. É o brilho de dentro transbordando!)

 

O triste é que cada vez mais a disputa entre o valor de dentro e o valor de fora tem se tornado desigual, e as pessoas – sabedeusporque –  tem ficado meio cegas ao brilho de dentro. O resultado é uma cobrança cada vez maior sobre o que não conseguimos controlar.

 

Minha dica pra abrandar o coração de toda esta angustia moderna?

Olha, não é tão simples na prática quanto na teoria...mas há que se voltar pra dentro um pouquinho. Porque a única coisa que de fato nos pertence está guardada na mente e é inegavelmente mais fácil evitar o empobrecimento do espírito do que o envelhecimento do corpo.

Os anos passam e a beleza se desgasta. Pra uns mais cedo e pra outros menos, mas como diz meu pai: Janeiro chega pra todo mundo! (Quando você começou a ler este texto era mais jovem do que é agora. Já parou pra pensar nisso?)

A beleza intelectual, por outro lado, fica mais apurada e encantadora a cada dia que passa, em cada frustração, cada conquista e cada nova experiência de vida, seja ela boa ou ruim. E que fique claro que quando uso a expressão “beleza intelectual” não me refiro a conhecimento acadêmico, mas àquele conhecimento que só a vida pode dar.

Cada ruga, cada quilo, cada ano adquirido traz consigo um pequeno tesouro. Um tesouro que não sai nas fotos e que não é tão fácil postar nas redes por aí...mas que quando encontrada nos dá a maior satisfação de todas: a satisfação da alma.

 

Daqui a pouco vem ano novo chegando e uma coisa que posso afirmar com 100% de certeza é que chegaremos lá mais velhos e com menos tempo de vida pela frente.

Portanto é questão de qualidade de vida fazer uma forcinha e resgatar o que realmente vale a pena.

Por fora não sei...mas por dentro todos podemos ser cada dia mais lindos!

 

Um lindo 2016 (17, 18, 19, 20...) para nós J