quinta-feira, 21 de julho de 2016

Meritocracia de cú é rola


Eu poderia muito bem ter colocado de maneira delicada (ou pelo menos educada), mas como dizem os publicitários “o meio é a mensagem” e acho que esta é uma reflexão que deve ser feita sem hipocrisia. Já escrevi algumas vezes sobre como essa vida não é justa sob alguns aspectos, e se tem um tema que remete fortemente a injustiça (ainda que seja extremamente velado) este tema é a tal da meritocracia.

Outro dia mesmo eu li uma frase de um célebre empresário que dizia: “Se você nasceu pobre a culpa não é sua. Se você morreu pobre a culpa é sua”. Com todo o respeito ao senhor Bill Gates, puta babaquice isso aí. Então quer dizer que se morro tão pobre quanto nasci significa que ou eu gosto da pobreza ou a mereço? É assim tão simples? Tem certeza?

E olha que eu nem posso chorar tanto, dependendo do ponto de vista.

Nasci numa família pobre com um pai que não passou da quinta-serie e uma mãe que concluiu o ensino médio num supletivo a distância depois dos 50 anos por uma exigência do trabalho. Meus pais foram sempre muito rígidos com minha educação, sempre me deram livros (a maioria dados pela patroa da minha mãe nos seus tempos de doméstica) e sempre tiveram uma régua muito alta pras notas da escola. Quando criança achava até meio exagerado, pois não via os pais dos meus amigos fazendo o mesmo. Hoje agradeço. Me ajudou a chegar onde estou.

Isso significa que minha vida desenrolou de forma que acho justa? Não mesmo.

Precisei abrir mão de muitas vagas de emprego por não ter inglês, por exemplo. Desleixo meu? Não creio. Esse era um luxo que meus pais não puderam me dar e eu só iniciei quando já estava na faculdade e estagiando pra ganhar uma grana. Porém chegou uma hora que não dei conta de estagiar, fazer faculdade e fazer inglês (alguns estágios obrigatórios eram de final de semana, aí já viu...).

Os adeptos da bandeira da meritocracia podem até dizer que todos tem o direito de sonhar, que basta se esforçar um pouco que tudo é possível pra quem tem boa vontade. Mas sou obrigada e discordar. Pois “da ponte pra cá” o número de sacrifícios feitos por dia é bem maior.

Me lembro bem do ano de 2008 quando estava na faculdade encantada com o que aprendia e doida para trabalhar com cuidados paliativos. Naquele tempo consegui uma entrevista num hospital referência e passei. Porém a frustração foi tão grande que meus pais nunca souberam. O motivo da frustração? O estágio não era remunerado e eu não conseguiria frequentar a faculdade sem uma fonte de renda, por mais que fosse bolsista integral. Não daria conta de pagar os livros e a condução. Resultado: um sonho deixado para trás. Mesmo após ter conquistado a oportunidade, motivos maiores me afastaram dele.

Não desdenho de quem chegou em lugares que chamamos de topo (seja esse topo um alto cargo, sucesso na mídia ou uma formação diferenciada). Sei que mesmo com todas as facilidades, indicações e sorte na vida, se a pessoa não souber aproveitar o contexto ela pode fracassar. Mas também não venha me convencer que todos estamos no mesmo patamar de oportunidades. Um belo exemplo disso é uma imagem que trombei no facebook dias atrás:




Resumindo: se você é pobre precisa ganhar dinheiro antes de sonhar em constituir uma família grande, caso contrário isso faz de você um aproveitador.

E se ainda não está convencido de que meritocracia não é assim tão justa quanto tentam nos convencer, não deixe de ver o quadrinho abaixo. É um soco na cara da inocência.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

Quinta-feira, 13 de julho de 2006

Antes que você pense, não. Não me confundi  na data. Acontece que ontem não foi apenas dia do rock, mas foi também um dia que marcou o começo de um caminho. Um caminho bobo, mas um caminho só meu. A minha verdadeira auto ajuda que sonhadora (ou talvez até arrogantemente) espera ser a "auto"ajuda de outras pessoas também. Não sei se alguém já foi tocado por aqui. E se não foi a chande de que isso aconteça é cada vez menor, visto que, como me disse uma amiga uma vez, sou "praticante de uma arte morta". Veja só...arte morta: escrita.

Pois é amigos. Ontem fizeram 10 anos que escrevo neste humilde blog. Que começou se chamando "taopequena.blogspot.com" porque era exatamente como me sentia: pequena, insignificante, quase oprimida...Era pra ser a versão eletrônica do diário de uma jovem adulta de 18 aninhos que hoje pra mim é uma ponte entre eu e eu mesma. A "eu" de hoje e a "eu" que estou me tornando.

Então este texto comemorativo vai ser como uma capsula do tempo. uma comparação entre esses "eus". Porque o mundo muda e nós também. O tempo todo.

Há 10 anos atrás estava eu no meu no meu primeiro estágio, no primeiro semestre da faculdade. Hoje já tem 2 anos que concluí minha pós numa área que eu nem ao menos desejava atuar (mas que hoje de fato posso dizer que me satisfaz).

Há 10 anos eu não tinha celular com internet e conversar com os amigos por via eletrônica teria que ser feito na frente de meu desktop pelo msn (que nem existe mais, pra minha tristeza). E hoje às vezes me sinto ansiosa se as respostas demoram no whatsaap.

Há 10 anos eu achava que com quase 30 estaria estabilizada na vida, com as finanças em ordem e chegando num estágio de quase tédio na vida. Hoje me sinto num dos melhores momentos que já estive. Com uma pequena dose de tédio, mas também muitas doses de sonhos e expectativas.

Há 10 anos achava que faria uma tattoo de rosa aberta no ombro (achava lindo). E hoje já tenho 6 tattoos, tenho mais umas 7 ideias na fila para tatuar e nenhuma delas é uma rosa.

Há 10 anos eu pesava 10kg menos que hoje e me sentia gorda. Hoje acho que estou até bem.

Há 10 anos não queria ter filhos nunca, mas sonhava com uma cerimônia de casamento pomposa. Hoje não quero ter filhos, nem cerimônia de casamento (mas ao mesmo tempo vivo quase um casamento fora do papel, e adoro!).

Há 10 anos reencontrava as pessoas no Orkut. Hoje as pessoas me acham no face, mas nem por isso nos achamos pessoalmente (muda o meio, mas a ineficiência continua igual...rs).

Há 10 anos achava que seria madura aos 28. Hoje me acho tão desajuizada quanto aos 16 e nem pretendo mudar isso.

Enfim...parabém bloginho! Obrigada por não me deixar esquecer quem eu fui e que tudo muda. TUDO MUDA.