sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Pessoa de respeito

Não acho que eu faça o tipo “amiga confidente”. Aliás, não sei nem se faço muito o tipo “amiga”. Sou daquelas pessoas que expressa a opinião sincera, mesmo sabendo que as vezes as pessoas vão correr. E, aliás, acho até bom, pois faz um belo filtro (acabam ficando por perto apenas pessoas francas e prontas pra honestidade).
O engraçado é que quando este traço se combina com o fato de eu ter formação em psicologia parece que acabo virando um íman de histórias de vida inusitada. E a última delas me fez refletir sobre a confusão em que andam as pessoas.
Apesar de eu ser o que a Sandy chamaria de “jovem pra ser velha e velha pra ser jovem” (rs) me sinto um pouco saudosista em relação a “vida pré-smartphone e internet banda larga”. Toda essa coisa de Skype, whatsaap, snapchat e essas paradas da vida moderna, acaba nos colocando em certos apuros. Acho que a comunicação à distância nos afasta da profundidade da informação. Afinal, cada pausa, cada respiração ofegante, cada desvio de olhar... tudo isso tem peso na comunicação e acaba se perdendo em alguns meios de comunicação. E esta história que ouvi recentemente me fez pensar um pouco sobre isso.
Um amigo que foi casado há muito tempo e está recém separado da mulher me chamou para pedir uma opinião sincera sobre uma determinada conversa virtual que ele estava estabelecendo com uma “paquera” (G-zus! Ainda se usa esse termo? Me sinto uma velha falando assim...haha).
No início do papo tudo normal: “peguei seu contato com fulano”, “queria te conhecer melhor”, ”gosto de x, y,z coisas e você?” e papo se desenrolando até que a moça começa a puxar o assunto pra um viés um tanto mais picante. Lá pelas tantas depois de muitas provocações verbais por parte da moça veio o ápice da provocação: o famoso “nudes”. (Uow! Poderia ser o dia de sorte do cara, hein?!)
Pois é. Ele bem pensou que tinha tirado a sorte grande, considerando que toda a iniciativa e provocativas haviam partido dela. Mas quando ele achou que estava se dando bem a coisa entornou. Ele lançou um aparentemente oportuno “vem aqui em casa, estou sozinho e quero ver isso pessoalmente”. Mas qual não foi a surpresa! Ao invés de um “estou indo”, o que ele recebeu como resposta foi uma enxurrada de ofensas e xingamentos.
Segundo a moça as provocações não passavam de um teste (e não preciso nem dizer que meu amigo coitado falhou miseravelmente). A moça finalizou dizendo que não era qualquer uma, que era “de respeito”. Disse estar decepcionada por ele ter continuado a conversa picante dela e que ele tratasse de não falar com ela nunca mais.
Após me contar todo este ocorrido ele me perguntou: O que eu fiz de errado?
E sinceramente não soube o que dizer. Estava em choque por, em pleno 2016, ainda ter pessoas que se apegam a conceitos tão abstratos como o de “pessoa de respeito”. Que diabo é ser uma pessoa de respeito?
Acho que cada pessoa tem o direito de ser quem é. Existem os discretos, os porra-louca, os recatados e tantos outros tipos de posturas que não cabe numa lista de rótulos. E acredito que nas relações pessoais vale o que falo para os aprendizes que atendo em processo seletivo: “Não existe comportamento certo para a vaga. Sejam naturais e assim acabarão em vagas com seus perfis. Se você é tímido não esconda, se é expansivo também não. Assim é possível encaminhar cada um para as vagas mais alinhadas com seu jeito de ser”.
Assim eu acho que é a vida. Se sou recatado acabarei atraindo meus semelhantes, se sou do tipo doidão acabarei achando outros doidões e por aí afora. Não tem necessidade de armar uma arapuca pros outros como fez a pretendente do meu amigo. Se não fosse esse joguinho desnecessário, em algum momento a vida se encaminharia de mostrar que eles são diferentes. Por um caminho mais brando, sem constrangimentos para ninguém.
Então deixo aqui minha resposta atrasada ao meu amigo e um apelo:
- Não, amigo, você não fez nada errado. Apenas foi transparente em suas intenções com uma pessoa infantil demais para agir da mesma forma.
- Por favor, pessoas! Mais transparência e menos joguinhos. São 7bi de outras pessoas nesse planeta e não vai dar tempo de conhecer todo mundo. Ser honesto sobre si mesmo é o melhor atalho para atrair quem realmente combina com você. Não complique!