quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Da Janela

É engraçado notar como algumas coisas na vida da gente não podem ser ditas com tanta certeza.
Tipo quando dizemos, por exemplo, que a nossa fruta preferida é caqui e passamos um mês nos fartando desta delícia. Após este mesmo mês somos capazes de pensar melhor e perceber que jaca é bem mais gostoso.

No meu caso, por exemplo. Vivo a dizer que tenho memória ruim. Sempere esqueço de tudo.
Sou capaz de esquecer o que estava fazendo no trabalho apenas por ter dado uma parada para ir ao banheiro, de esquecer o fim da frase que comecei apenas por que parei para tossir, de esquecer para quem estou ligando quando o telefone começa a chamar...

Em outros momentos, no entanto, me pego lembrando muito claramente de coisas tão distantes e “inúteis” que chega a ser irônico.

E um certo tipo de recordação não me tem deixado em paz já há alguns dias...
Lembro-me claramente das tardes de férias de verão em que ficava assistindo Seção da Tarde (sempre os mesmos filminhos de aventura e outras coisas bem clichês) ouvindo o som da rua, vendo meu próprio reflexo amarelado na tv e morrendo de desejo de estar em qualquer outro lugar com um amigo qualquer fazendo alguma coisa mais divertida.

Lembro que o que me mantinha calma era imaginar que um dia eu seria grande, trabalharia e estudaria, seria dona do meu nariz, estaria sempre com a agenda cheia de coisas importantes e interessantes pra fazer.

Agora que o futuro chegou, é intrigante notar que o sentimento continua quase igual.
Conquistei o estudo, o trabalho, a vida cheia em muitos momentos.

Mas parece que algo ainda falta. Sempre acaba ficando um vazio num dia quente em que vejo outra vez meu reflexo na TV e entendo que não importa o esforço, tudo vai sempre estar tão longe...

Quando somos pequenos achamos que somos capazes de tudo e com a descoberta da verdade corremos o risco de largar de mão pequenas possíveis alegrias...

Porém: “Não vou me deixar embrutecer (...)”. E digo mais:
Quero meu passado de volta!

E querer isto não é como ter aquele tipo de nostalgia cega que acha que independente dos fatos o passado sempre foi melhor e que o futuro está perdido. Nem tenho idade pra isso ainda!...rs
Mas eu é que me perdi a mim mesma (redundância totalmente intencional) em todo esse crescimento.

Perdi contato com esses pequenos fragmentos de mim que vez por outra me invadem num pensamento embaçado no meio dos outros pensamentos...

Mais que nunca quero de volta minha porção infantil antes que me renda a tentação de me tornar uma tonta acomodada que apenas vê a vida pela janela ou pelo reflexo da TV...

Então, inauguro, agora, oficialmente minha lista de resoluções a serem resolvidas (!) até este fim de ano: resgatar os meus pedaços espalhados por aí e dar carne e osso às lembranças novamente!

Alguém me acompanha?!

=P