terça-feira, 20 de junho de 2017

Jesus Cristo, Hitler e as lideranças dentro das empresas

*alerta post longo* Se bater aquela preguiça de ler, guentaí que logo sai a versão em vídeo lá no "Anarkilopoles para preguiçosos".

Tem um bom tempo uma pessoa me pediu para escrever sobre liderança. Achei o assunto fascinante (ainda mais trabalhando em RH, onde esse assunto é tão recorrente). Porém não queria nada irreal ou idealizado, como o assunto normalmente é abordado nas empresas e na mídia. Pensei sobre o assunto...construí e desconstruí ideias sobre o tema. Concluí que o máximo que posso dar é mais uma opinião nesse mar de informações que temos nos livros, nos filmes e até mesmo no imaginário das pessoas (vulgo: senso comum) sobre o assunto. 

Abaixo estão algumas reflexões totalmente sem base teórica e 100% pautadas na minha vivência e opinião. (Sinta-se livre para concordar, discordar, complementar...).

A primeira coisa que considerei em minhas reflexões foi: se líder é uma pessoa que as demais seguem, porque as pessoas seguem as outras? Eis minhas hipóteses:

- Por obrigação - como quando seguimos a um chefe ou alguém superior a nós em determinada hierarquia;
- Por medo – como quando obedecemos alguém que pode nos fazer mal, para evitar que ele o faça;
- Por preguiça de pensar – como quando uma pessoa é tão articulada e convincente que acabamos adotando para nós tudo o que este faz e aconselha muitas vezes sem pensar a respeito;
- Por admiração – como quando temos alguém que nos serve de exemplo;
- Por desejo de ser igual ao líder – como quando a admiração é tanta que desejamos nos tornar igual a pessoa que admiramos, seguimos suas ordem e a imitamos na esperança de nos tornar melhor do que somos;

Eu diria que dessas 5 razões as 2 primeiras são frágeis (seu efeito pode ser “quebrado” facilmente), pois o liderado vai estar sempre desejando se livrar / se vingar do líder. Por essa razão, líderes por obrigação ou por medo não costumam ser marcantes (são facilmente esquecíveis).

Já os 3 últimos motivos são poderosos, pois são capazes de transformar os liderados e sua forma de agir/ser no mundo. Os líderes articulados e admirados tornam-se modelos para seus liderados.

Tem gente que diz que líder nasce pronto. Eu não acredito nisso. Acho que qualquer ser humano é capaz de aprender qualquer coisa. Pode até ser que uma pessoa ou outra desenvolva naturalmente qualidades requeridas de um líder, são os tais “líderes natos” que vira e mexe ouvimos falar. Mesmo assim, eu acredito que qualquer um que esteja aberto a adquirir essas características conseguirá (algumas pessoas na base de mais esforço...outras nem tanto).

Mas que características são essas? Qual é o borogodó do tal “líder nato”?

Pra ser líder precisa ter atitude e energia. Normalmente o líder é aquele que contagia, é um influenciador. E como diria uma antiga professora minha “ninguém dá o que não tem”. Isso significa que aquelas pessoas desanimadas, meio mortas, com “sangue de barata” jamais conseguirão liderar (chefiar até pode ser, liderar, não).

Um líder não pode ter medo de não ser amado, pois deve falar o que é necessário e não o que o liderado quer ouvir (mas que fique claro que isso não significa falar com rispidez. muitas vezes o problema está no como e não no quê se diz).

O bom líder é o que se mostra justo. Aquele que os liderados aceitam mesmo quando as decisões os desfavorecem, pois conseguem ver sentido em suas ações. Sabe aquele chefe que te dá feedback negativo, sem fazer você se sentir um bosta? Isso é o líder.

Bons líderes controlam sua vaidade. Isso permite que eles ouçam e aprendam com quem discorda deles, o que faz os liderados se sentirem importantes e acolhidos. Para liderar bem é preciso enxergar a importância do outro.

Um líder precisa ser respeitado. Ninguém segue quem não respeita. (O que nos leva a uma reflexão necessária sobre respeito. Mas deixarei para outro texto, pra evitar que este fique longo além da conta).

Existem algumas posições que exigem perfil de liderança. É impossível ser mãe ou pai, ser professor, ser dono de negócio, ser chefe etc sem ser também líder.  Mas é sempre melhor que a “nomeação” de um líder se dê de maneira e espontânea. Forçar que uma pessoa seja líder sem que ela queira ou sem que os liderados o “adotem” como tal, via de regra dá merda.

Porém, cuidado! Precisamos separar o que é um líder no dia-a-dia e o que é um líder do ponto de vista das empresas. Liderança é um termo pra lá de manjado nas empresas. E por mais que pareça que as empresas buscam líderes autênticos, não é bem por aí. O líder do dia-a-dia lidera pelo bem das pessoas. O líder na empresa lidera pelo bem dos negócios (e nem sempre as coisas vão convergir).

As empresas vivem dizendo que desejam bons líderes, mas o que elas querem dizer na verdade, é que querem alguém capaz de extrair o máximo das pessoas: o máximo de rendimento, o máximo de esforço, o máximo de dedicação pela empresa, o máximo dos indicadores etc. O foco raramente está no melhor para o sujeito liderado.

Me lembro bem de um gestor com quem trabalhei que vivia se vangloriando por ser um bom líder. De fato ele era reconhecido pela gerência por seus bons indicadores e por ter a equipe sempre “na mão” (normalmente agia com muito carisma com a equipe). Até que um de seus funcionários adoeceu. Ficou semanas ausente por conta de uma depressão. Como ele não estava indo ao médico para pegar os devidos atestados a enfermeira e eu chegamos até a fazer uma visita ao funcionário para verificar o que estava acontecendo e confirmamos que ele estava de fato doente. Quando voltamos da visita à casa do funcionário a primeira coisa que ouvimos do gestor - aquele que se proclamava um super líder - foi “Já que ele não está pegando atestado, podemos demiti-lo? O cara está fodendo meu absenteísmo, pô!”. E foi nessa hora que entendi a diferença de um bom líder para as pessoas e um bom líder para os negócios (só pra constar, este gestor continua sendo case de sucesso com seus excelentes indicadores).

Quando penso em grandes figuras históricas que marcaram por sua capacidade de liderar 2 nomes me vem em mente: Jesus Cristo e Adolf Hitler. E, por favor, antes de me odiar pela comparação, segura a emoção e veja se minha linha de raciocínio faz sentido.
Jesus e Hitler são ao mesmo tempo opostos e iguais.

Enquanto Jesus visava o bem de toda a humanidade, Hitler desejava o bem apenas dos seus. No entanto:

- Ambos tinham um discurso coerente - não to dizendo que concordo com o Hitler, ta! Mas temos que admitir que cada loucura que ele defendia era pautada em um raciocínio lógico (pra ele pelo menos);

- Ambos tinham carisma e faziam os seus se sentirem compreendidos e seguros;

- Ambos tinham energia para defender suas ideias;

- Ambos inspiraram as pessoas com seus projetos e visão de mundo grandiosas (e quem nessa vida não desejaria fazer parte de algo grandioso?);

- Ambos inspiravam nas pessoas a fé em um mundo melhor;

- Ambos inspiravam generosidade e se mostravam voltados ao bem maior da comunidade (claro que, para Hitler, a comunidade significava apenas os arianos alemães, mas pelo menos com esses ele era bastante generoso...).


E o que eu quero dizer com tudo isso? Quero demonstrar que a pessoa que desenvolve a capacidade de liderar é capaz de grandes feitos. Também quero mostrar que a força de um líder pode ser usada para o bem ou para o mal. E que, por mais influente e carismático que um líder possa parecer, é sempre importante pensar sobre suas ideias. Afinal, sem isso não temos como saber se estamos diante de um coração revolucionário ou de um ditador tirano...

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Minha mãe queria que eu fosse a menina da revista da Avon

"Olha, filha, esse é o que você tem que usar quando está em casa",  ela disse apontando o elástico para exercícios da revista. "Para você não ficar gorda e sedentária".

Eu peso 70 kilos e tenho 1,64m de altura. Meu IMC tá bom.  Meus exames de sangue também.
Tô com a pele horrorosa por conta de uma bagunça de hormônios que estou organizando agora. Tenho problema nos ovários. Talvez o tratamento me engorde mais. Ou me emagreça. Não sei. Nem minha mãe.
Mas o que ela quer mesmo é que eu seja como a moça da revista da Avon.
Independente dos meus exames.  Ou do fato de que as vezes eu saio de casa para andar e, na real, nem sou tão sedentária assim. Nem tenho doenças causadas por sobrepeso.
Mas tudo que ela quer é que eu seja como a menina da revista da Avon.

E o pior é que eu sei que não é maldade.  É só o jeito com que fomos criados.  Minha mãe, eu e todo mundo. Somos treinados a enxergar saúde na magreza e doença na gordura ainda que a realidade não seja assim binária.
E digo mais: somos treinados a enxergar beleza na magreza feiura na gordura por mais que beleza também não seja assim tão binário.

Do fundo do meu coração eu não quero ser a menina da revista da Avon, mas não sei como eu vou explicar isso para minha mãe.
Será que quando ela olha para mim ela enxerga doença e feiura?


quinta-feira, 23 de março de 2017

Coisas que aprendi nessas férias

- Se divertir com pouco dinheiro exige criatividade

- Acordar tarde é bom, mas quando a gente acorda cedo se surpreende com tanta coisa que pode fazer em um dia
- O quão arrumada nossa casa está interfere diretamente no nosso humor e vontade de viver
- Se você tem vontade de sair na rua de cara limpa, mas também tem vontade de passar batom para fazer faxina: vai na fé e seja feliz!

- Cozinhar é mais divertido quando não é uma obrigação
- Arrumar a casa é mais divertido com a trilha sonora certa
- Uma das melhores coisas em ser adulto é sentir vontade de batata frita no café e poder comer sem dar satisfação para ninguém

- Algumas atividades a gente precisa começar primeiro e sentir vontade depois - tipo sair para uma caminhada, se ficar esperando a vontade surgir, você nunca vai

- Não adianta querer muito uma coisa sem se planejar e arregaçar as mangas para fazer

- Um momento inocente de abrir o Facebook por curiosidade pode engolir o seu dia inteiro

- Se você passa muito tempo só assistindo séries, na hora que você for escolher um filme vai se sentir totalmente perdido

- Às vezes ficar no sofá pensando na vida com seu animal de estimação pode ser o melhor programa ser feito


- Às vezes quanto mais tempo você tem menos coisas você consegue fazer

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Desmistificando o Pum

Na vida existe muita coisa polêmica. Mas acho que poucos assuntos são tão polêmicos quanto o tema deste texto. Já vi gente que não gosta de falar de sexo, já vi gente que não gosta de falar sobre drogas, ou sobre política ou sobre religião. No entanto, se por algum motivo alguém decide viver sem ter contato com nenhum desses temas na sua vida, talvez até consiga. É totalmente possível passar a vida sem sexo, ou drogas, ou sem se envolver em política ou sem seguir uma doutrina religiosa (não que seja fácil, mas não deixa de ser plausível). Por outro lado, não existe vida sem pum.

Botando em termos mais duros: sabe aquela pessoa linda da TV? Peida! Sabe seu chefe? Peida! Sabe os políticos do noticiário? Peidam! Os jornalistas, atores, misses universo de todos os tempos, atrizes e atores pornôs, astros do rock, seus colegas de trabalho e seus familiares também peidam!

E mesmo assim teimamos em negar para nós mesmos este fato inevitável. E nos impomos um estado constante de repressão nos privando deste ato tão importante para nossa saúde e bem-estar.

Outro dia observei uma mãe voltando com duas crianças da escola, um menino de uns 6 anos e uma meninas de no máximo 4. Em um dado momento a menina diz “peidei” e cai na gargalhada. E aí a mãe lhe passa um sermão que, aos meus ouvidos, soou profundamente desproporcional e cruel. Disse para a criança que era falta de educação fazer aquilo, que não via motivo para graça e que era muito feio peidar, ainda mais para uma menina (!) [Se for anti-natural meninas peidarem, por favor alguém me avise, pois acho que sou uma menina com defeito de fábrica]. Não preciso nem dizer que na mesma hora o riso gracioso da criança deu espaço a uma expressão chorosa e frustrada.

Fico me perguntando quantas vezes mais ela será reprimida durante a infância até finalmente implantar no inconsciente que peidar é realmente errado. Me lembrei de uma dessas piadas de facebook em que uma garota dizia que tinha ex que não valiam os puns que ela segurou na frente deles. Aí te pergunto: segurou o pum porque, bitch?

Ok. Também não sou tão ogra assim. Também já reprimi meus gases em nome do amor (e de outras coisas...). Mas acho que temos que parar de demonizar o flatus nossos de cada dia. Já ouvi gente contar que passou mal porque passou o dia segurando no trabalho porque não queria que ninguém ouvisse no banheiro. E até já ouvi amiga falando que se sentia mal com frequência em casa, pois não se sentia à vontade de se aliviar na presença do marido. (Do marido! Vê se pode!)

Tenho que admitir que não entendo a intensidade deste tabu. Ok que fede. Ok que o barulho constrange. Mas, pense comigo: é normal, é inevitável, é consequência da vida, faz bem à saúde e alivia. Isso tudo me faz concluir que deve ser reincorporado a nossa rotina. E não estou dizendo pra sair bufando indiscriminadamente mundo afora, mas deve-se dar ao pum o espaço do pum. Temos que deixar as crianças e os relacionamentos livres de repressões desnecessárias.

E digo mais: faz bem pro relacionamento amoroso partilhar nosso pum e aceitar o pum alheio! Além de libertador, é um passo avançado na intimidade e um sinal irrefutável de aceitação incondicional. Afinal, amar a pessoa do comercial de pasta de dente que já dá bom dia com hálito de hortelã é fácil. Mas amar alguém com tudo o que ela tem para oferecer (incluindo nesse “tudo” os resíduos corporais dele/a) é apenas para os que de fato amam de peito aberto, sem fingimento.


Podemos até esperar por uma vida perfeita ao lado do príncipe ou da princesa dos sonhos. Mas esteja consciente que quando ele/a for encontrado/a irá peidar assim como você também faz. Vamos parar de frescura e hipocrisia, minha gente!