quarta-feira, 19 de abril de 2017

Minha mãe queria que eu fosse a menina da revista da Avon

"Olha, filha, esse é o que você tem que usar quando está em casa",  ela disse apontando o elástico para exercícios da revista. "Para você não ficar gorda e sedentária".

Eu peso 70 kilos e tenho 1,64m de altura. Meu IMC tá bom.  Meus exames de sangue também.
Tô com a pele horrorosa por conta de uma bagunça de hormônios que estou organizando agora. Tenho problema nos ovários. Talvez o tratamento me engorde mais. Ou me emagreça. Não sei. Nem minha mãe.
Mas o que ela quer mesmo é que eu seja como a moça da revista da Avon.
Independente dos meus exames.  Ou do fato de que as vezes eu saio de casa para andar e, na real, nem sou tão sedentária assim. Nem tenho doenças causadas por sobrepeso.
Mas tudo que ela quer é que eu seja como a menina da revista da Avon.

E o pior é que eu sei que não é maldade.  É só o jeito com que fomos criados.  Minha mãe, eu e todo mundo. Somos treinados a enxergar saúde na magreza e doença na gordura ainda que a realidade não seja assim binária.
E digo mais: somos treinados a enxergar beleza na magreza feiura na gordura por mais que beleza também não seja assim tão binário.

Do fundo do meu coração eu não quero ser a menina da revista da Avon, mas não sei como eu vou explicar isso para minha mãe.
Será que quando ela olha para mim ela enxerga doença e feiura?


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