sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O Carinho, o Intelecto e o Sexo - O tripé do sucesso afetivo

                Tenho ruminado já há algum tempo esta minha sensação incômoda de que sou uma pessoa sem par no mundo. E nem adianta vir me dizer que com 26 anos ainda não se viveu nada, que toda panela um dia acha sua tampa, nem nada disso. Eu tenho mesmo é me convencido de que na cozinha do mundo eu sou uma bandeja sem nenhum paninho pra improvisar.

                Por outro lado, também não posso bancar a vítima, afinal estou longe de ser uma pessoa solitária. Apesar de todas as minhas chorumelas sobre solidão e etc, não posso negar que tenho um bom círculo de convívio afetivo. Nada grudento nem simbiótico, até porque não gosto de melação. Fui criada numa família sem muitas frescuras, sem nhem nhem nhem nem muita carência. De modo geral é isto que reproduzo, mas mesmo assim sempre tem aquelas horas que bate a falta de alguém (alguém tipo um namorado, saca?).

                Então comecei a tentar decifrar por que raios minhas investidas sentimentais são tão freqüentemente desastrosas e cheguei a uma teoria.

                Recordando sobre as principais pessoas de meu histórico amoroso reparei que, se não posso dizer que algum dia fui totalmente satisfeita, também não posso dizer fui totalmente frustrada. Cheguei à conclusão que minha satisfação está sustentada por um tripé: compatibilidade afetiva, compatibilidade intelectual e compatibilidade física/sexual. Cada relacionamento que tive (seja um namoro longo ou uma ficada mais descomprometida) foi mal sucedido por se apoiar em apenas 2 (ou 1!) desses aspectos.

                A compatibilidade afetiva é aquilo que nos une aos nossos amigos, por exemplo. É aquela coisa gostosa de saber que alguém gosta de cuidar de nós e está ao nosso lado. Acho que aquela parte do discurso de casamento em que o sacerdote fala sobre estar junto “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença” etc, tem a ver com isso.

                Já compatibilidade intelectual e o que dá consistência à convivência. É o prazer mental do relacionamento. É maravilhoso sentir que nossas idéias - por mais que às vezes pareçam absurdas ou abstratas demais - são compreendidas, aceitas e até compartilhadas! Muitas vezes não damos o devido valor a este ponto, mas vejo que a longo prazo é algo de grande influência em um relacionamento.

                Compatibilidade sexual, por sua vez, é muitas vezes o gatilho de tudo. Quando isso acontece há o risco do casal virar aquela coisa mecânica de pegação 24h sem conteúdo e sem rumo [daqueles que quando a transa termina fica sem assunto]. Existem muitos casos desses por aí que estão sendo confundidos com amor, justamente porque é este o quesito que mexe com nossos sentidos, nossa percepção e nos dá uma sensação mais concreta de bem estar. Resumindo: a compatibilidade sexual com freqüência nos confunde.

                Isso faz este ponto ser, na minha opinião, o mais complexo deste conjunto. É a existência ou não deste detalhe que vai dizer se um casal é apenas amigo ou algo mais. Mesmo que não haja o coito em si [ai, que termo chulo...mas que eu adoro!...rs] existe aquele contato físico exclusivo que pode ou não acontecer a contento. Existe a cobrança social de que um casal se entenda no âmbito físico porque inconscientemente temos a idéia de que todo casal tem a função de procriar (e, pelo menos por enquanto, o modo mais comum de as pessoas procriarem ainda é pelo sexo).

                Maaaaasss...isso não quer dizer que em todo o casal que haja sexo, haja compatibilidade física. Às vezes o contato físico se torna apenas o “cumprir um protocolo social” por que a pessoa nos dá carinho e temos com ela um bom entendimento intelectual.

                   É aí que o tripé fica capenga e cai.

                Pode até parecer que sou exigente demais [talvez eu seja mesmo...], mas não existe satisfação completa se não houver um interação entre estas 3 instâncias.

                A falha que muitas vezes cometemos (pelo menos é esta a falha que notei vir cometendo desde sempre) é achar que ser atendida em apenas 2 destes quesitos bastava para ficarmos bem sem o 3°. Nenhuma combinação de 2 itens será o bastante.

                Portanto agora esta é a meta: encontrar alguém no mundo que me atenda 100% para assim viver um momento 100%. Esta é inclusive minha dica para você que está lendo este texto: não aceite nada menos que a satisfação completa. Como já disse em alguma postagem anterior: este mundo está recheado de 7 bilhões de pessoas. Alguma delas há de te atender plenamente. Tenha paciência e procure.


Boa sorte!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Capitalismo, O Bulling e o American Lifestyle

                Hoje no noticiário há mais um caso de jovem americano que entra na escola e toca o terror matando os colegas com a arma da família. O fator apontado como desencadeante desta atitude é nosso velho conhecido: o bulling.

                Entre um jornal e outro falando sobre o assunto me chamou a atenção uma das colegas do “assassino” dizendo que ele era um jovens doce, do tipo que faz os amigos sorrirem quando as coisas não vão bem.

                Acho interessante como mesmo atualmente sendo tão comum associar este tipo de atitude extrema ao bulling não se ouve discutir sobre o que estimula o outro lado da história, quero dizer, porque nossa juventude gosta de humilhar e rebaixar seus pares.

                Claro que é um ponto de vista muito particular meu e não me baseio em nenhuma teoria para fazer suposições... Mas acho que não é à toa que justamente nos EUA aconteça com tanta freqüência situações como esta. Justamente na nação que cultua uma vida plástica, metida a perfeitinha em que o valor das pessoas é cada vez mais ditado pelo que elas possuem.

                Vejo no tal “american lifestyle” uma eterna corrida para se encaixar ao padrão de consumo imposto pelo capitalismo vigente. Você precisa ser o descolado, consumir as marcas e produtos da moda, frequentar determinados lugares e ter as atitudes impostas pelo padrão “filmes-adolescentes-de-sessão-da-tarde”. Todos os que não se encaixam neste padrão são desviantes, hostilizados... Deixam de fazer parte da massa respeitada e admirada, tornando-se assim “merecedores” da exclusão.

                Simples assim. Quando não vejo no outro meu semelhante não me sensibilizo por ele e faço da sua derrota a minha vitória. Desumanizo o ser humano com quem convivo e por quem não aprendi a nutrir afeição.


                Quem já se sentiu excluído alguma vez sabe que não é fácil. Seja quando nos sentimos diferentes em nosso modo de vestir, falar ou pensar. Seja por não ser chamado à uma festa em que todos os amigos estarão. Seja por não ser ouvido em alguma conversa... O sentimento de estar à margem dói e a cada geração que passa ficamos menos preparados a lidar com este tipo de frustração.

                A saída?

                Às vezes parece ser entrar armado em nossa escola, matar aqueles que nos fazem sentir mal e em seguida botar fim ao nosso sentimento de exclusão.

                Enquanto notícias como esta nos fizerem apenas pensar na culpa da vítima (o assassino humilhado que foi à busca de vingança) nunca combateremos o verdadeiro mal: nossa cultura individualista que acha divertido fazer das fraquezas alheias motivo de piada afim de reafirmar nossa “superioridade”. Não podemos mais fazer de nossos semelhantes os degraus da escada de nossa auto-estima.

Um dia Bob Marley falou que “enquanto a cor da pele valer mais que o brilho dos olhos, sempre haverá guerra”.


Eu adaptaria para algo como “enquanto o que a pessoa possui e aparenta ser for mais importante que sua essência e seus sentimentos, sempre haverá bulling e assassinatos em escolas”.

domingo, 20 de outubro de 2013

Liberdade Feminina Até a Página 3

                O texto a seguir [infelizmente] foi inspirado por fatos reais. Vou contar a história de uma garota que não é difícil de encontrar semelhantes por aí. E, em respeito à quem forneceu o insight pra esta minha idéia, irei chamá-la de “Adriana”.

Pois bem.

                Adriana* é uma jovem de 18 anos, residente em uma cidade afastada da grande São Paulo, recém ingressada no ensino superior e trabalha em uma empresa de médio porte no setor administrativo. Tem um espírito sagaz, de boa vontade, fácil aprendizagem e uma simpatia meiga de jovem que está começando a descobrir a vida que se descortina à sua frente.

                Mas há um problema. Adriana tem um namorado.

                Sim. Isto é MESMO um problema. Aliás, poderia até dizer que é o maior problema de Adriana.

                Ela namora Antônio* que é alguns anos mais velho e tem uma característica que dita todo seu comportamento: ele é religioso.

                E não é que eu rejeite isso nas pessoas. Mesmo não fazendo parte da minha vida, tenho muitos amigos que seguem firmes sua fé e, no geral, eu vejo que isto faz das pessoas seres melhores. No entanto, no caso de Antônio, a coisa parece ter ficado meio distorcida.

                Do pouco que me lembro da época em que ainda freqüentava igreja e tudo mais, ficou na memória que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. [Brincadeira!...haha. Deixe-me voltar pra linha de raciocínio inicial]

                Lembro sempre das mensagens de respeito às pessoas, de não julgamento dos erros e pecados alheios e a importância do espírito de caridade e bondade. Ainda hoje, mesmo eu não praticando mais nenhuma religião, estas lições permanecem na minha mente e tento fazer com que sejam, na medida do possível, parte do meu jeito de ser.

                Aí, recentemente, fui surpreendida por uma frase da Adriana. Ela desejava mudar o visual. Coisa de mulher: corte/pintura de cabelo e essas coisas que todas nós adoramos fazer desde que o mundo é mundo. Porém ela disse que estava quase desistindo da idéia porque Antônio não acha isso uma conduta adequada para uma “pessoa de Deus”.

                Pasmem. Em pleno século XXI, ano de 2013, depois até do fim do calendário Maia e ainda tem quem pense desta maneira. Mas não importa. Não estou aqui para falar sobre o que acho das condutas estimuladas por esta ou aquela religião. O que me frustrou profundamente foi notar que ainda hoje existem garotas que se deixem comandar assim por seus companheiros.

                Vejo que vivemos num momento ambíguo. Mesmo após se passarem mais de 40 anos da tal queima de sotiens muitas mulheres, ainda que instruídas e com todo potencial para a autonomia, se permitem ficar na dependência de um homem.         

                Ok que hoje existe liberdade para que a mulher se imponha como chefe de família, que trabalhe para lutar por seu lugar na sociedade e no mercado de trabalho. Mas porque será que me mesmo assim ainda existem casos como o de Adriana?

                Eu tenho um palpite. Isso acontece porque a libertação feminina veio apenas pela metade. Chamamos de liberdade o que não passa de independência financeira. E o pior é que muitas vezes nem a independência financeira é assim tão plena, visto que tantas mulheres infelizes não abandonam seus homens por saberem não ser capazes de se bancar sozinhas.

                Acredito que o que ainda aprisiona a mulherada por aí é algo mais sutil, mais nocivo e difícil de combater. Chama-se dependência afetiva. E isso tanto homens quanto mulheres podem desenvolver. É aquele sentimento de que nosso valor é determinado pela avaliação do outro. É uma necessidade de ter sempre alguém a nos dizer que somos bonitos, engraçados, inteligentes, agradáveis... Em resumo: que somos queridos.

                E todos temos dentro de nós aquele ingrediente que serve de fermento pra dependência afetiva: insegurança. Aquele medo de perder quem nos admira e nos ama (ou assim nos faz crer) só cria forças quando se apóia na idéia de que ninguém mais será capaz de reconhecer nossas qualidades ou será capaz de nos amar e cuidar.

                Mas que grande armadilha isso vira!

                Adrianas do meu Brasil, eu entendo o medo da solidão e a dificuldade de mandar à merda os Antônios que aparecem e nos tornam dependentes e fragilizadas. Porém não percam de vista as preciosas informações abaixo:

- O mundo tem atualmente mais de 7 bilhões de pessoas. Cada uma destas pessoas tem suas particularidades e muitas delas (muitas mesmo!) pensam e sentem como você e seriam capazes de te amar e admirar do jeitinho que você é;

- Apesar de vermos na mídia o tempo todo celebridades aparentemente perfeitas a maioria da população é comum, assim como as pessoas que encontramos todos os dias no trabalho, padaria e ônibus. Não tenha medo de não ser perfeito. Gente de verdade busca gente de verdade, independente do que revistas, novelas e afins insistem em enfiar em nossa cabeça como padrão;

- A única conduta proibida é aquela que visa prejudicar outras pessoas, todo o resto tá valendo. Seu corpo é a casa da sua alma e você pode decorá-la da forma que quiser: pode tatuar, usar piercing, raspar o cabelo, pintar o cabelo verde... Foda-se! A probabilidade de que haja um criador te julgando por sua aparência e te riscando da lista de filhos amados só porque você mudou algum detalhe é muito remota;

- Ame-se. Não há nada mais cativante e magnético do que a vibração de alguém que se curta.

E aos Antônios que andam soltos por aí: este tipo de atitude desnecessariamente conservadora não colabora para ganhar tijolinhos para a casa de vocês no céu. :P


*nome fictício para mantermos o mínimo de privacidade aos personagens.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A Humanidade é Desumana?

A humanidade é desumana?
Acho que não. Mas a modernidade fatalmente o é.
O texto a seguir foi escrito em menos de 10 minutos, de uma tacada só, enquanto eu esperava o início de um treinamento que fui realizar pela empresa em um prédio fino em uma região nobre de São Paulo.

Eu: jovem, relativamente inteligente e pós graduanda... Fui subjugada por um elevador. Pois é.

Sempre soube que eu pendo bem mais para o time dos tradicionais [quase no time dos ultrapassados resistentes à mudanças...rs] do que para o time modernos. Não gosto de frescuras que julgo desnecessárias... Não sou uma aficionada por tecnologia (como a maior parte da minha geração é) e simplesmente abomino ambientes que exijam que me vista de modo muito fino.
Porém, também não sou uma rebelde completa e entendo perfeitamente que na sociedade em que vivemos é necessário muitas vezes dançar conforme a música deste "baile de máscaras" em que somos inseridos (ainda que não tenhamos gosto ou prática com a música).

Portanto, esta manhã, lá estava eu com minha fantasia completa: meu belo sapato de couro modelo oxford (já que odeio saltos este é o único modelo que ainda acho capaz de me conferir elegância, estilo e um mínimo de conforto), calça preta bem cortada (um achado de mais de 5 anos atrás comprado na Renner a um precinho camaradíssimo), minha camisa social preferida num sóbrio tom verde exército estrategicamente dobrada até os cotovelos (para conferir um ar despojado mas não informal demais) e um colete preto para arrematar (adquirido num camelô de santo amaro pelo impressionante valor de R$ 25!).
Minha indumentária de forma alguma transparecia sua humildade (nem a minha!) e cumpriu muito bem a função de me camuflar naquele ambiente que definitivamente não era o meu.

Com a fantasia acima descrita chego num saguão imenso com uma infinidade de elevadores e me posiciono aleatoriamente diante de um deles. O elevador abre as portas a minha frente e apenas eu e uma outra moça entramos nele.
Estranhei... Afinal, o hall estava abarrotado de gente.
Em poucos segundos desembarco no 26° andar. 
Putz! Mas meu andar era o 20°!
Só nesta hora me dou conta que o único botão existente dentro do elevador é o de emergência (?)
Pra minha sorte a moça que esteve comigo, muito gentilmente, me explica o procedimento: devo digitar em uma tela ao lado do elevador no térreo o número do andar desejado e esta tela me indicará a porta do elevador correto.
Do 26° andar, onde parei por acidente, não tinha autorização para descer os 6 que me separavam do 20° que era meu destino. Então desci até o térreo, recebi a orientação da máquina e embarquei em um elevador vazio mesmo com o saguão ainda cheio de pessoas aguardando.

Fiquei pensando no quão nonsense é este procedimento... Pensei até no empobrecimento das relações sociais cotidianas que podemos associar a isto.

Ok. Se você me conhece pessoalmente vai estranhar que logo eu levante esta questão.
Admito que fui ao treinamento de ônibus por não gostar de papo de taxista. Também admito que muitas vezes já fingi dormir no ônibus pra não conversar com ninguém e que vira e mexe finjo estar ouvindo música com o mp3 desligado apenas pra ter uma desculpa para ignorar algum conhecido que queira puxar papo.

Tenho uma veia "anti-social" fortíssima. Mas acima de tudo valorizo a liberdade. Tanto a de ser, como a de não ser anti-social.
Entendo perfeitamente que em um edifício tão grande quanto o que eu visitei necessite de um procedimento que desafogue e organize a circulação de pessoas. Porém toda esta "evolução de procedimento" me entristeceu. Me lembrei do que Inácio de Loyola Brandão descreve assustadoramente no livro Não Verás País Nenhum, quando mostra que o crescimento desordenado da população obriga o governo a estabelecer o horário em que cada cidadão sairá de casa a fim de evitar caos e superlotação nas vias públicas o que acaba gerando um sentimento de isolamento e desconfiança constante em quem circula nas ruas.

Puxa vida...será que é para este destino que estamos sutilmente nos encaminhando?
A humanidade se desumanizará a tal ponto?
Medo...

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A vida e a montanha russa

Adoro parques de diversão. Não consigo explicar a euforia que me toma a cada vez que visito um... Sinto sempre como se fosse a primeira vez. E, de todos os brinquedos, o que mais me encanta é a montanha russa.

Nunca consegui entender direito de onde vem meu fascínio por este brinquedo, ainda mais considerando que tenho verdadeiro pavor de altura. Até que, há alguns dias, finalmente entendi a grande lição de vida que este brinquedo me ensina.

Pra mim, aproveitar a montanha russa é sempre um ritual de amor e ódio, de excitação, medo e prazer.

Primeiro vem a coragem, quando a fila quilométrica [clássica em toda montanha russa que se preze] me impede de captar a dimensão da primeira queda. Depois vem a ansiedade crescente de ir aos poucos notando que o brinquedo é maior do que parecia olhando do fim da fila. Com o a aproximação a ansiedade se converte em medo e se une a necessidade de auto-afirmação da coragem inicial (afinal, depois que encaramos toda a espera até o momento de finalmente sentar no carrinho, pega super mal desistir na hora “H”, né?...rs). Por fim, meu momento preferido do processo: descer do brinquedo de perna bamba, inundada de adrenalina e pensando “Caralho! Que sensação fantástica! No final das contas nem foi tão terrível assim... Haha... Sou foda!”


Da mesma maneira que tenho medo de altura, tenho medo de uma infinidade de outras coisas. Nem todas merecem tanta atenção, eu sei, mesmo assim ainda tenho meus medos bobos e paralisantes.
E é aí que enxergo o que há em comum entre viver e dar um rolê de montanha russa...

Sempre vai haver aquele problema ou situação que decidimos encarar e que vai se mostrando maior a cada passo que damos na direção de seu enfrentamento. No momento crucial de um conflito quantas vezes temos o ímpeto de “fugir da raia”, mas o orgulho nos impede de fraquejar? Então, no momento em que a coisa se resolve, vem a mesma onda maravilhosa e quase orgástica de adrenalina.

E o que fica de lição é isso: a vida vai nos testar em muitos momentos e desejaremos evitar a queda vertiginosa de enfrentar o que nos desconcerta... Mas enquanto nos mantivermos firmes (não SEM o medo, mas APESAR dele) o desfecho tenderá sempre a uma explosão de satisfação e consciência de que nem sempre o bicho papão é tão feio quanto pinta nossa fantasia.

domingo, 15 de setembro de 2013

Saudade x Nostalgia

Você prefere sentir saudade ou nostalgia?
[O quê? Você acha que as 2 palavras significam a mesma coisa?...hummm...do meu ponto de vista não é bem por aí...]

Esses dias me perguntaram se eu tenho medo de sentir saudade. De cara achei que sim, me veio logo na memória uma música do Móveis Coloniais de Acaju que eu adoro e usa a expressão "sádica saudade". Dá uma ideia de tortura, não dá? Por outro lado também acho que existe um sentimento que é como uma falta gostosa, carinhosa...

Então, em um dos últimos episódios de Mad Men que assisti, fui presenteada por uma daquelas falas que fazem meu pensamento voar longe, justamente sobre este sentimento de falta. Porém sem usar a palavra saudade, mas sim a palavra nostalgia (não podemos esquecer que saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa).
No episódio em questão Don descreve o sentimento de nostalgia como "a dor de uma ferida antiga, uma pontada no  coração mais forte que a recordação em si".

Fazendo um contraponto a esta definição, no último CD que lançou, Emicida diz em uma música "saudade, que é sentir fome com a alma". No mesmo momento em que ouvi isso senti um nó na garganta. Esta frase me veio em momento em que minha alma estava de fato faminta (e não vem ao caso por que).

Passei dias ruminando estas duas palavrinhas. Pensando nos últimos acontecimentos da minha vida...

Me lembro de uma pessoa ter me dito há algum tempo que adorava conversar comigo por notar o cuidado que tenho ao escolher as palavras que uso. Como se cada palavra tivesse que ser escolhida com atenção para que a pessoa com quem converso consiga captar a fundo a ideia e o sentimento que estou tentando transmitir.
E, de fato, eu faço mesmo isso. Sou capaz de perder minutos além do comum na produção de um texto, ou mesmo para mandar uma mensagem banal de celular, apenas por ficar analisando o efeito que acredito que cada palavra poderá ter.
É como se minhas ideias fossem receitas e as palavras fossem ingredientes escolhidos a dedo. Como se o "prato de minhas ideias" pudessem ficar mais ou menos apetitosos dependendo do sabor das palavras escolhidas [e o preparo destas "receitas" me dá um prazer incrível, exatamente como o prazer que tenho a cada vez que estou cozinhando de verdade para alguém que gosto].

Mas, voltando à nostalgia e à saudade... Independente do que o dicionário possa trazer como definição para estas palavras, formulei dentro de mim uma fronteira particular entre elas.

Pra mim, nostalgia é como uma pontada por algo que poderia ter sido. A falta de um passado não vivido, uma vontade não satisfeita que deixa no peito m espaço vago que nunca poderá ser preenchido.
Enquanto saudade é como um desejo louco de reviver um momento, justamente a tal fome da alma. A memória enraizada de uma grande satisfação do passado que não irá mais se repetir.

Entre as duas prefiro a saudade.
Se é pra sofrer e sentir falta, pelo menos que seja de algo que foi real em algum momento, né?

Como diria Projota: "Essa vida é uma coleção de saudades. Pelo menos a minha é. Um trem sem marcha ré".

E se o trem da vida não tem marcha ré, façamos o máximo para levar de cada estação uma mala cheia de saudades gostosas...

domingo, 11 de agosto de 2013

Medo de dirigir...a própria vida.

Dentre os tantos rituais instituídos em minha vida, um deles consiste em me afundar em seriados nos períodos de solidão.
E o seriado da vez é Mad Men.

Ainda não entendi muito bem o que nele me encantou. Pode ter sido toda a beleza dos anos 60, com suas mulheres de saias rodadas, os homens de cabelo impecavelmente penteados ou o charme irresistível do M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O protagonista Don Draper que consegue reunir ao mesmo tempo características de um total cafajeste ao trato do mais perfeito cavalheiro.

Enfim...encantamentos à parte, existem muitos diálogos da série que conseguem atravessar horas reverberando em minha mente. Recentemente fiquei muito impactada com uma fala dita no meio de uma discussão entre Don e uma de suas... digamos assim “peguetes”.

Após um dia de notícias péssimas no trabalho, de tomar um gelo de sua amante preferida e de não estar a fim de retornar ao conforto do lar com seus lindos filhos e sua bela esposa-dedicada-loira-dos-olhos-azuis [pois é, é duro agradar o Don...rs] ele procura a tal peguete (como “peguete” neste contexto entenda-se por uma cliente de sua empresa com quem ele mantém um flerte, mas ainda sem uma rotina de intercursos sexuais que justifique a classificação dela como amante).
Pois bem, depois deste dia de cão ele junta suas economias e procura por esta mulher propondo que fujam para outro país e recomecem suas vidas juntos (ahhh...que invejinha!...rs).

Mas para meu espanto, num ato de dignidade ímpar a tal donzela recusa o convite com a frase: - Oh, Don... Isso foi um namorico, um caso barato... Você não quer fugir comigo, quer apenas fugir.



Uau! A primeira vez que vi a cena saquei do celular e salvei esta frase nos meus rascunhos. Achei fantástico.
Quantas vezes não fazemos como o Don?

Uma pessoa recentemente me disse “cuidado, poucos sentimentos nos confundem mais do que o medo de ficar sozinho”.  Fato

Posso estar fazendo uma generalização errada, mas acredito que todo mundo em algum momento da vida [por medo de assumir algum risco sozinho, por falta de autonomia ou outra coisa do gênero] se escora em alguém que não é exatamente nossa primeira opção, mas é o que está a nosso dispor. Isso é muito feio, [tentem não fazer isso, crianças] mas acho que, sei lá... é inevitável, né?

A presença do outro [seja quem for este outro] nos dá um chão mais firme, uma segurança.

E este é o ponto do texto em que mudo totalmente de assunto e mostro mais uma vez que não tenho foco...rs. Porque na verdade não quero falar sobre essa mania de nos escorarmos nos outros, mas no medo... ou melhor, na necessidade de segurança e de controle dos riscos.

Sim. Esta temática que povoa minha terapia há 5 meses. Cinco. Meses.

Há 5 meses eu vou todas as sextas-feiras à noite ouvir de um senhor com idade para ser meu pai que eu não preciso ser perfeita, que eu me exijo demais e que não dá para ter o controle sob todas as situações da vida. E mesmo assim eu quero controlar. Tudo.

Mas o pior, tenho notado como e quanto esta obsessão por controle me emburrece e me impede de ser mais feliz e evoluir. Notei que simplesmente não consigo aprender inglês, tocar violão, dirigir etc... por mero medo do erro e da quebra dessa tal perfeição [que, veja só a ironia!, está me condenando a uma mediocridade ridícula].

Quando o assunto era aprender a dirigir, sempre achei que meu medo era concretamente do volante, mas vejo agora que meu medo real é algo mais subjetivo. É um medo de dirigir minha própria vida. Sim. O ápice da bundamolagem.
Vivi por muito tempo sob um medo constante de cometer pequenas falhas, de passar pequenas vergonhas e fui me privando de muitas experiências e aprendizagens.

O bom é que, ao que me consta, tomar consciência é o primeiro passo...rs.


Então só me resta dizer: Risco, erros e pequenas vergonhas... me aguardem que aí vou eu! Hahahaha...

domingo, 21 de julho de 2013

Nova ou velha é tudo uma questão de com quem você toma a cerveja

Ando num momento muito conturbado da minha vida.
Ao mesmo tempo em que tenho na mão vários ingredientes que sempre acreditei serem indispensável a uma vida plena, feliz e bem resolvida me parece que não consigo misturá-los numa receita adequada.
Tenho me deparado com uma grande fonte de ansiedade para muitos humanos: o medo da solidão e a incerteza com minhas escolhas.

E como boa representante da geração “meio dos 80, início dos 90” o que faço quando me deparo com este medo primário e devastador?
Saio pra tomar cerveja.

Por anos este hábito era realizado sempre com praticamente as mesmas pessoas, em sua maioria não escolhidas por mim, mas ditadas pelo namorado da vez. [Pois é. Eu não tenho mesmo personalidade].
Mas agora não. Agora estou sendo obrigada a reaprender a estabelecer vínculos e participar de novos meios sociais (ou a resgatar os meios sociais antigos).
Afinal, joguei na merda um relacionamento de mais de 3 anos após uma crise adolescente fora de época que obviamente não poderia ter dado em nada (como de fato não deu em nada além do fim de um relacionamento lindo que nunca mais ressurgirá). [Mas isso não vem ao caso agora...]

Não quero que as pessoas que tem me contemplado com a alegria de tomar cerveja pensem que não gostei de estar com elas ou que as procurei por falta de opção.

Mas acho uma vergonha essa minha iniciativa de ir por conta própria ao encontro dos seres humanos apenas (ou quase sempre) quando estou na merda. Isso é uma postura desprezível que eu sempre repudiei, mas que, ao mesmo tempo, sempre tive.

Enfim, voltemos à cerveja.

Tenho saído com as mais diferentes pessoas para uma sessão de bebedeira e conversas.[Muito mais conversas que bebedeiras, que fique claro].

E hoje, depois do meu rolê cervejeiro número 549 desta semana, notei algo intrigante... As pessoas pensam de forma diferentes umas das outras!
Ok, eu sei que isto é obvio.

Acontece que quando você sai com uma intenção principal de receber um conselho sobre uma situação importante que está acontecendo na sua vida (como é o meu caso) pode ser que tenha a inocência de achar que existe apenas um ponto de vista correto e que qualquer pessoa para quem a gente peça opinião diga a mesma coisa.
E, surpresa, não é bem por aí.

Me encontro numa encruzilhada e num beco de dúvidas primárias. Às voltas com os temas que sempre julguei inferiores, pensando sobre assuntos que sempre me pareceram indignos. Daqueles que quando fui tratar pela primeira vez na terapia precisei respirar fundo por uns 10 minutos até engolir a vergonha e o orgulho para colocar o dedo nesta ferida purulenta e irrelevante de minha existência.

Além do meu querido terapeuta, todas as inocentes criaturas que vem saindo comigo e ouvindo os relatos do meu drama têm sido convocadas a avaliar se estou muito velha para estar às voltas com meus atuais conflitos. [Que não vou detalhar aqui agora, pois não estou na vibe de me expor tanto. Se você sacou do que estou falando, parabéns. Se não sacou, paciência]

Interessantíssimo ver como tenho ouvido na mesma medida alguns:
“É, já não era mais para você estar pensando nessas coisas”
“Relaxa, sou mais velho(a) que você e ainda passo por isso”
“Velha você? Até parece! Muita coisa ainda vai acontecer na sua vida”

Com isso a lição que fica é: Se você é jovem ainda, amanhã velho será... (hehe...brincadeira.)

A lição que fica é que estar muito velha ou muito nova é apenas uma variável que depende de com quem você está tomando sua cerveja.


:)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

E eu...o que faço com esses números?!

1 vida
Trocentos números incoerentes e inconsistentes misturados...
25 recomeços
3 esperanças perdidas (ou talvez ainda 2 e 1/2) 
A repetição do mesmo ciclo de desequilíbrio
Após uma média de 1100 manhãs de glória imaculada
(ou quase...)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

É tudo pose

[gostaria de começar deixando claro que quando digo "nós" ou faço uso do plural no post abaixo como se falasse de algo comum a toda raça humana, estou me referindo exclusivamente a mim e discorrendo sobre conclusões que tiro com base apenas na minha própria vida]


O fato é que a natureza humana é cheia de carências. Vivemos nos agarrando a muitas coisas para taparmos  nosso vazio interno.
Todos nós, cada um à sua maneira e em maior ou menor grau, tem como objetivo primeiro da existência ser amado, querido, admirado... É isto que nos dá a sensação de preenchimento que faz valer a pena levantar a cada dia e encarar este mundo hostil de merda que nos rodeia.

Um mecanismo não muito raro e até certo ponto eficiente que temos para sustentarmos a segurança de nos sabermos "gostáveis" é ostentar uma imagem de força e convicção e exibirmos todas as nossas qualidades sempre que possível.

Apesar de ser inegável a importância de sabermos o que temos de bom, também acho que por outro lado usar isto como escudo nos momentos de frustração é uma grande armadilha. Nos torna excessivamente defendidos em momentos que talvez o melhor ou mais proveitoso para nosso crescimento pessoal seja justamente explorar nossas fragilidades ao invés de nos escondermos por trás de nossa [suposta] força.

Pelo menos isto é o que tenho compreendido paulatinamente nos últimos tempos: muitas vezes a melhor defesa não é o ataque, mas sim a rendição.
Me sinto aprendendo coisas que acho que as pessoas normais aprendem até os 5 ou 6 anos de idade. Aprendendo a chorar, a assumir muitas coisas que não sei, reconhecendo situações que não consigo manejar e me despindo desta casca grossa que me acompanhou bravamente nos últimos quase 26 anos. E, ao mesmo tempo em que isto me deixa numa vulnerabilidade extrema, também me faz entrar em contato com uma faceta até então desconhecida da minha humanidade. [Parece que foi ontem que minhas colegas de CEFAM me apelidavam de S.S. (sem sentimentos) por minha incrível capacidade de ser racional e distante em momentos de crise e vejam só o que me pego escrevendo...quase não acredito...rs]

Como eu mesma fazia até muito pouco tempo atrás, muita gente ainda se fixa na ideia de que o importante mesmo é não descer do salto, não baixar a crista (como costuma dizer minha mãe). Mas já diria Lobão "É tudo pose"....
A real é que toda mocinha alguma noite chora no travesseiro, todo machão em alguma hora tem medo da vida, toda mãe questiona sua postura com seus filhos e todo padre em algum momento teme cair em tentação, por mais que vivamos a esconder nossos calcanhares de Aquiles.
Hoje a consciência disso tem me matado e libertado em vários níveis...

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Quando eu descobri que talvez já fosse adulta

Quando eu era criança achava que seria adulta quando pudesse sair sozinha e voltar na hora que escolhesse.
Quando eu era pré adolescente achava que seria adulta aos 18 anos.
Quando fiz 18 anos achei que me sentiria adulta ao terminar a faculdade e ser efetivada no emprego.
Quando completei a faculdade e fui efetivada no emprego achei que me faltava sair da casa da minha mãe para ser adulta (infelizmente isso ainda não aconteceu).

Mesmo assim, existem momentos na vida que soam como um marco da maturidade e bate aquele sentimento de "É...ser gente grande não é fácil, mas talvez esteja pronta pra isso".

Comigo aconteceu assim...chegou um belo dia em que desejei muito e tive algo (pelo menos aparentemente) no alcance das mãos, mas disse "NÃO".
Porque disse "NÃO"? Pelo simples motivo de não haver outra resposta cabível no contexto.
É irônico que justamente quando tudo parece tão estável algo assim aconteça. Desejo e a oportunidade, estes dois amigos de temperamento forte que vivem brigando, resolveram sentar-se íntimos na mesma mesa...

Quando uma criança com cárie (daquelas que matam de dor) tem a oportunidade de comer um belo doce, certamente ela irá aproveitar a oportunidade. O que vale é realizar a vontade, satisfazer o monopólio do Id dentro de nós.

Então, mais do que ter determinada idade, ou determinado poder de decisão sobre a própria vida, talvez no fim das contas ser adulto seja isso: saber  o que fazer com este poder. Quando temos a noção de que nossa vida, apesar de nossa, toca a existência de terceiros e somos capazes de tomar uma atitude de forma completa (considerando o impacto de nossas ações não só para nós mesmos, mas para todos os lados envolvidos) é a hora em que podemos dizer: "Bye bye, adolescência! Foi bom enquanto durou!"

E é isso...o desejo disse "SIM", o bom senso disse "NÃO" e meu eu interior rolou no chão chorando e gritando como a criancinha mimada e insuportável que é. (- Beijinho, adolescência. Quem sabe não nos encontramos outra hora?)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

E depois dos 20 centavos?!

Depois de muito tempo de descrença me parece que o discurso reclamão tão comum aos brasileiros de uma forma ainda desforme vem começando a tomar corpo.
Hoje a vitória foi grande, sem dúvida. Quem diria que seria mesmo possível revogar algo aparentemente tão definitivo quanto o aumento das passagens de ônibus?

No entanto, prevejo que amanhã virá um sentimento de ressaca. Como será depois da euforia?

Ao mesmo tempo em que se defendeu uma pauta única, clara e objetiva - a redução do valor da passagem - também houveram (muitos) momentos de catarse e de abordagem mais pelas beiradas de outros tantos temas que geram insatisfação em nosso país.
E agora que a primeira reivindicação foi atendida é necessário foco e cuidado para não cair neste sentimento carnavalesco de se deixar deslumbrar e ser enrolado pelo "sistema".
Muitas vezes ouvimos que "não é por 0,20 centavos, é por direitos". Mas, que direitos são estes?

Ainda a pouco um cidadão entrevistado na rua pelo jornal da cultura, ao ser perguntado sobre o que acha sobre as manifestações, disse "é preciso ter um limite, estas manifestações acabam atrapalhando a vida de quem não tem nada a ver com isso".
Ahhh...neste momento minha úlcera pulsou. [TODO MUNDO TEM A VER COM ISSO, PORRA! É esse sentimento de coletividade que não pode se perder!]

Por um país mais justo. Sem patriotismo, mas também sem reclamações ao vento.
Devemos ser politizados, sem que pra isso dependamos dos partidos.

Por uma política participativa e não representativa.
Nossas necessidades é o que sentimos na pele a cada dia, não a pauta de uma reunião secreta no congresso.
Vamos correr atrás por um simples motivo: merecemos felicidade e justiça.


domingo, 10 de março de 2013

Mais vale um ladrão na mão que um viciado voando?!


Tem algumas coisas que acontecem no meu dia a dia que me deixam indignada, surpresa, encafifada [nem sei qual adjetivo se encaixa melhor aqui] com os valores humanos.

Estava eu ouvindo meu sonzinho no busão voltando pra casa com a cabeça já cheia de coisa pra pensar tentando me esvaziar e não pensar em nada. Heis que um homem de uns trinta anos, não muito diferente da maioria dos que já estavam lá, passa a catraca e começa um discurso pros passageiros. De início achei que era o velho “Desculpe interromper a viajem de vocês, mas estou desempregado e bla bla bla” que eu já ouvi milhões de vezes. Aí fui percebendo que o senhor do meu lado começou a ficar impaciente e levantou do nada em direção a porta. [?]

Abaixei o volume da minha música e entendi por que o senhor ficou tão perturbado.

De certa forma era o que eu havia imaginado com uma diferença relevante: o cara era um ex-presidiário. Contou que foi preso por assalto, condenado há 8 anos em regime fechado, dos quais cumpriu pouco mais de 5 e agora está em regime semi-aberto. Rolou um impacto e tals, mas em momento nenhum me senti ameaçada, apenas prestei atenção. O cara argumentou que precisava de ajuda pra arrumar uma grana pra criar seus 3 filhos, não queria se aproveitar e ninguém, reforçou que mesmo pra pedir dinheiro no ônibus ele pagava a passagem por achar justo etc.

Ele foi quase ganhando meu respeito. Eu ia colocando a mão do bolso pra dar uma força pro rapaz. Afinal, quem sou eu pra julgar o que o cara fez sem saber o contexto da vida dele? Não tenho como saber quem, como ou porque ele realizou um assalto. Vi uma pessoa pedindo ajuda e tive um breve ímpeto de ajudar.
Breve. Pois foi aí que o cara estragou todo seu marketing bem construído.
No fim do seu pedido ele caiu na infelicidade de soltar um “Olha, pessoal, eu posso já ter feito muita coisa errada, mas nunca usei drogas (...)”.

Rá. Fiquei pasma. Peraííííí, amigão! Você faz todo um ensaio sobre “não me julguem e me ajudem” e termina com esse caôzinho de querer ser bom, só porque supostamente não usa drogas?

Tirei minha mão do bolso e aumentei o volume da música e deixei pra lá. Infelizmente não tive a nobreza de coração para ajudar uma pessoa que faz um julgamento desses.  Fiquei me perguntando o que aconteceria se um dos 3 filhos desse cara caísse nas drogas e acabasse viciado. Será que teria o apoio incondicional do pai? Sem julgamentos?