domingo, 20 de outubro de 2013

Liberdade Feminina Até a Página 3

                O texto a seguir [infelizmente] foi inspirado por fatos reais. Vou contar a história de uma garota que não é difícil de encontrar semelhantes por aí. E, em respeito à quem forneceu o insight pra esta minha idéia, irei chamá-la de “Adriana”.

Pois bem.

                Adriana* é uma jovem de 18 anos, residente em uma cidade afastada da grande São Paulo, recém ingressada no ensino superior e trabalha em uma empresa de médio porte no setor administrativo. Tem um espírito sagaz, de boa vontade, fácil aprendizagem e uma simpatia meiga de jovem que está começando a descobrir a vida que se descortina à sua frente.

                Mas há um problema. Adriana tem um namorado.

                Sim. Isto é MESMO um problema. Aliás, poderia até dizer que é o maior problema de Adriana.

                Ela namora Antônio* que é alguns anos mais velho e tem uma característica que dita todo seu comportamento: ele é religioso.

                E não é que eu rejeite isso nas pessoas. Mesmo não fazendo parte da minha vida, tenho muitos amigos que seguem firmes sua fé e, no geral, eu vejo que isto faz das pessoas seres melhores. No entanto, no caso de Antônio, a coisa parece ter ficado meio distorcida.

                Do pouco que me lembro da época em que ainda freqüentava igreja e tudo mais, ficou na memória que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. [Brincadeira!...haha. Deixe-me voltar pra linha de raciocínio inicial]

                Lembro sempre das mensagens de respeito às pessoas, de não julgamento dos erros e pecados alheios e a importância do espírito de caridade e bondade. Ainda hoje, mesmo eu não praticando mais nenhuma religião, estas lições permanecem na minha mente e tento fazer com que sejam, na medida do possível, parte do meu jeito de ser.

                Aí, recentemente, fui surpreendida por uma frase da Adriana. Ela desejava mudar o visual. Coisa de mulher: corte/pintura de cabelo e essas coisas que todas nós adoramos fazer desde que o mundo é mundo. Porém ela disse que estava quase desistindo da idéia porque Antônio não acha isso uma conduta adequada para uma “pessoa de Deus”.

                Pasmem. Em pleno século XXI, ano de 2013, depois até do fim do calendário Maia e ainda tem quem pense desta maneira. Mas não importa. Não estou aqui para falar sobre o que acho das condutas estimuladas por esta ou aquela religião. O que me frustrou profundamente foi notar que ainda hoje existem garotas que se deixem comandar assim por seus companheiros.

                Vejo que vivemos num momento ambíguo. Mesmo após se passarem mais de 40 anos da tal queima de sotiens muitas mulheres, ainda que instruídas e com todo potencial para a autonomia, se permitem ficar na dependência de um homem.         

                Ok que hoje existe liberdade para que a mulher se imponha como chefe de família, que trabalhe para lutar por seu lugar na sociedade e no mercado de trabalho. Mas porque será que me mesmo assim ainda existem casos como o de Adriana?

                Eu tenho um palpite. Isso acontece porque a libertação feminina veio apenas pela metade. Chamamos de liberdade o que não passa de independência financeira. E o pior é que muitas vezes nem a independência financeira é assim tão plena, visto que tantas mulheres infelizes não abandonam seus homens por saberem não ser capazes de se bancar sozinhas.

                Acredito que o que ainda aprisiona a mulherada por aí é algo mais sutil, mais nocivo e difícil de combater. Chama-se dependência afetiva. E isso tanto homens quanto mulheres podem desenvolver. É aquele sentimento de que nosso valor é determinado pela avaliação do outro. É uma necessidade de ter sempre alguém a nos dizer que somos bonitos, engraçados, inteligentes, agradáveis... Em resumo: que somos queridos.

                E todos temos dentro de nós aquele ingrediente que serve de fermento pra dependência afetiva: insegurança. Aquele medo de perder quem nos admira e nos ama (ou assim nos faz crer) só cria forças quando se apóia na idéia de que ninguém mais será capaz de reconhecer nossas qualidades ou será capaz de nos amar e cuidar.

                Mas que grande armadilha isso vira!

                Adrianas do meu Brasil, eu entendo o medo da solidão e a dificuldade de mandar à merda os Antônios que aparecem e nos tornam dependentes e fragilizadas. Porém não percam de vista as preciosas informações abaixo:

- O mundo tem atualmente mais de 7 bilhões de pessoas. Cada uma destas pessoas tem suas particularidades e muitas delas (muitas mesmo!) pensam e sentem como você e seriam capazes de te amar e admirar do jeitinho que você é;

- Apesar de vermos na mídia o tempo todo celebridades aparentemente perfeitas a maioria da população é comum, assim como as pessoas que encontramos todos os dias no trabalho, padaria e ônibus. Não tenha medo de não ser perfeito. Gente de verdade busca gente de verdade, independente do que revistas, novelas e afins insistem em enfiar em nossa cabeça como padrão;

- A única conduta proibida é aquela que visa prejudicar outras pessoas, todo o resto tá valendo. Seu corpo é a casa da sua alma e você pode decorá-la da forma que quiser: pode tatuar, usar piercing, raspar o cabelo, pintar o cabelo verde... Foda-se! A probabilidade de que haja um criador te julgando por sua aparência e te riscando da lista de filhos amados só porque você mudou algum detalhe é muito remota;

- Ame-se. Não há nada mais cativante e magnético do que a vibração de alguém que se curta.

E aos Antônios que andam soltos por aí: este tipo de atitude desnecessariamente conservadora não colabora para ganhar tijolinhos para a casa de vocês no céu. :P


*nome fictício para mantermos o mínimo de privacidade aos personagens.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aí nadia o tempo passa kkk bons ttempos kkk mas melhor agora kkk sem "Antônio" ;)