A boa e a má notícia: sim, o amor está vivo e foi o sexo que
o salvou. Mas aí veio o erotismo e acabou com o sexo.
Parece incoerente? Mas se pararmos pra pensar, nem tanto.
Houve um tempo em que fingia-se amor apenas na pretensão de
ter acesso ao sexo.
Se você for muito jovem talvez nem acredite, mas tempos
atrás as damas e rapazes apenas tinham iniciação na arte de Vênus após contrair
o matrimônio (aliás, eu morro de rir o termo “contrair matrimônio”...parece que
a pessoa pegou uma doença grave...rs). Contato físico e sentimento deveriam
estar diretamente ligados e todos eram obrigados a encontrar ambos sempre na
mesma pessoa (resumindo, se você ama alguém deve transar com ela. Ao mesmo
tempo, se você deseja alguém também deve amá-lo). Acontece que muitas vezes não
é esta a lógica.
Em algum momento a sociedade passou aos poucos a aceitar
isso como uma regra que nem sempre se aplica (um salve especial aos hippies e
seu conceito revolucionário de amor livre). O corpo se libertou e os corações
deixaram de se obrigar a amar de maneira forçada e artificial um objeto de
desejo.
Hoje finalmente as pessoas se permitem testar o amor e suas
formas, o desejo e suas diversas manifestações. Acredito que para quem é de
fato comprometido com sua própria felicidade o contexto ficou propício para
escolhermos melhor aquela pessoa especial para nos acompanhar pela vida toda
(ou, até, se for o caso, decidir que prefere passar a vida sem ninguém).
Podemos testar o efeito de pele, de carinho, de desejo e parceria com mais de
uma pessoa, sem que esta decisão seja tomada às pressas ou sob pressão social
(ufa!).
Pode até parecer que foi uma super evolução. E talvez tenha
sido mesmo por algumas décadas. Mas o tempo passou e os valores se inverteram num
grau que imagino que jamais tenha passado na cabeça nem do mais liberado jovem
dos anos 60.
Hoje somos inundados de erotismo e quase tudo remete ao sexo
(não gosto nem de pensar que hoje tem criança de 9 anos dando aula de
putaria...). Desempenho sexual (e uso o termo desempenho mais por hábito do que
por achar que essa galera mande bem de verdade) virou algo a ser ostentado,
exibido e cultivado em quantidade (medo!). Banalizou.
Quero que fique claro que não sou pudica nem acho que temos
que guardar nossa virtude para um príncipe, mas também não acho que devemos
usar o sexo como ferramenta de auto-afirmação como tenho visto por aí. Vejo as
pessoas cada vez mais se obrigando a serem sensuais o tempo todo e não acho isso
saudável (conheço meninas que simplesmente desaprenderam a sorrir e hoje só
sabem mostrar a língua e fazer bico nas fotos). Vejo caras comprometidos (e bem
em seus relacionamentos) cultivando a possibilidade de uma foda extra-namoro
como quem cuida de uma plantinha apenas porque querem mostrar aos amigos que “cachorro
amarrado não está morto” ou que “a carne fraca” ou provar a si mesmo que ainda
são capazes de despertar desejo em alguém (como se apenas suas companheiras não
bastassem...aliás, estou falando aqui do comportamento de homens porque meu
ponto de vista é o de uma mulher que já foi assediada muitas vezes por caras
comprometidos, mas isso também vale para mulheres!).
Aí me pergunto se talvez isso não seja um puta passo para
trás. Porque se o erotismo fica banalizado o frio na barriga morre. O contato físico
perde o valor.
Antigamente usávamos o termo química para explicar quando um
casal se entendia (na cama e na vida como um todo). Agora sinto que a química
está sendo substituída pela mecânica. Temos acesso à pornografia com mais
facilidade que nunca (e viva o whatsapp!) e a paranoia com o tal desempenho é
tanta que deixamos de ouvir nosso corpo e de prestar atenção no que gostamos,
no que queremos...me apavora a idéia de que a mesma menina que se esfrega em
deus e o mundo nos “fluxos” da vida provavelmente nunca parou para se masturbar
e descobrir seu corpo e como ele funciona.
O erotismo matou o prazer do sexo. E agora?!
Já ouvi músicas que são quase um manual sonoro da sacanagem,
mas um manual extremamente cheio de buracos, pois considera corpo, movimento e
detalhes físicos...mas não considera que dentro de cada corpo tem um sentimento
(e não, não é pra soar romântico, e sim realista), tem uma fantasia uma
expectativa. Podemos seguir todo o ritual de bucetas e picas e outras coisas,
mas apenas isso nunca bastará para uma boa experiência (esperar isso seria duma
inocência e inexperiência ímpar!). Não devemos idealizar demais o sexo, porém o
precisamos aprender que a satisfação com ele dependerá do quanto a gente se
permite se conhecer (como nosso corpo funciona, quais nossos limites e
principais vontades) e que o prazer de cada um é diferente e não deve ser visto
como um show a ser exibido, por que é um tesouro para ser desfrutado na
intimidade.