quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A Humanidade é Desumana?

A humanidade é desumana?
Acho que não. Mas a modernidade fatalmente o é.
O texto a seguir foi escrito em menos de 10 minutos, de uma tacada só, enquanto eu esperava o início de um treinamento que fui realizar pela empresa em um prédio fino em uma região nobre de São Paulo.

Eu: jovem, relativamente inteligente e pós graduanda... Fui subjugada por um elevador. Pois é.

Sempre soube que eu pendo bem mais para o time dos tradicionais [quase no time dos ultrapassados resistentes à mudanças...rs] do que para o time modernos. Não gosto de frescuras que julgo desnecessárias... Não sou uma aficionada por tecnologia (como a maior parte da minha geração é) e simplesmente abomino ambientes que exijam que me vista de modo muito fino.
Porém, também não sou uma rebelde completa e entendo perfeitamente que na sociedade em que vivemos é necessário muitas vezes dançar conforme a música deste "baile de máscaras" em que somos inseridos (ainda que não tenhamos gosto ou prática com a música).

Portanto, esta manhã, lá estava eu com minha fantasia completa: meu belo sapato de couro modelo oxford (já que odeio saltos este é o único modelo que ainda acho capaz de me conferir elegância, estilo e um mínimo de conforto), calça preta bem cortada (um achado de mais de 5 anos atrás comprado na Renner a um precinho camaradíssimo), minha camisa social preferida num sóbrio tom verde exército estrategicamente dobrada até os cotovelos (para conferir um ar despojado mas não informal demais) e um colete preto para arrematar (adquirido num camelô de santo amaro pelo impressionante valor de R$ 25!).
Minha indumentária de forma alguma transparecia sua humildade (nem a minha!) e cumpriu muito bem a função de me camuflar naquele ambiente que definitivamente não era o meu.

Com a fantasia acima descrita chego num saguão imenso com uma infinidade de elevadores e me posiciono aleatoriamente diante de um deles. O elevador abre as portas a minha frente e apenas eu e uma outra moça entramos nele.
Estranhei... Afinal, o hall estava abarrotado de gente.
Em poucos segundos desembarco no 26° andar. 
Putz! Mas meu andar era o 20°!
Só nesta hora me dou conta que o único botão existente dentro do elevador é o de emergência (?)
Pra minha sorte a moça que esteve comigo, muito gentilmente, me explica o procedimento: devo digitar em uma tela ao lado do elevador no térreo o número do andar desejado e esta tela me indicará a porta do elevador correto.
Do 26° andar, onde parei por acidente, não tinha autorização para descer os 6 que me separavam do 20° que era meu destino. Então desci até o térreo, recebi a orientação da máquina e embarquei em um elevador vazio mesmo com o saguão ainda cheio de pessoas aguardando.

Fiquei pensando no quão nonsense é este procedimento... Pensei até no empobrecimento das relações sociais cotidianas que podemos associar a isto.

Ok. Se você me conhece pessoalmente vai estranhar que logo eu levante esta questão.
Admito que fui ao treinamento de ônibus por não gostar de papo de taxista. Também admito que muitas vezes já fingi dormir no ônibus pra não conversar com ninguém e que vira e mexe finjo estar ouvindo música com o mp3 desligado apenas pra ter uma desculpa para ignorar algum conhecido que queira puxar papo.

Tenho uma veia "anti-social" fortíssima. Mas acima de tudo valorizo a liberdade. Tanto a de ser, como a de não ser anti-social.
Entendo perfeitamente que em um edifício tão grande quanto o que eu visitei necessite de um procedimento que desafogue e organize a circulação de pessoas. Porém toda esta "evolução de procedimento" me entristeceu. Me lembrei do que Inácio de Loyola Brandão descreve assustadoramente no livro Não Verás País Nenhum, quando mostra que o crescimento desordenado da população obriga o governo a estabelecer o horário em que cada cidadão sairá de casa a fim de evitar caos e superlotação nas vias públicas o que acaba gerando um sentimento de isolamento e desconfiança constante em quem circula nas ruas.

Puxa vida...será que é para este destino que estamos sutilmente nos encaminhando?
A humanidade se desumanizará a tal ponto?
Medo...

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