*alerta post longo* Se bater aquela preguiça de ler, guentaí que logo sai a versão em vídeo lá no "Anarkilopoles para preguiçosos".
Tem um bom tempo uma pessoa me pediu para escrever sobre
liderança. Achei o assunto fascinante (ainda mais trabalhando em RH, onde esse
assunto é tão recorrente). Porém não queria nada irreal ou idealizado, como o
assunto normalmente é abordado nas empresas e na mídia. Pensei sobre o
assunto...construí e desconstruí ideias sobre o tema. Concluí que o máximo que
posso dar é mais uma opinião nesse mar de informações que temos nos livros, nos
filmes e até mesmo no imaginário das pessoas (vulgo: senso comum) sobre o
assunto.
Abaixo estão algumas reflexões totalmente sem base teórica e 100%
pautadas na minha vivência e opinião. (Sinta-se livre para concordar,
discordar, complementar...).
A primeira coisa que considerei em minhas reflexões foi: se líder
é uma pessoa que as demais seguem, porque as pessoas seguem as outras? Eis
minhas hipóteses:
- Por obrigação -
como quando seguimos a um chefe ou alguém superior a nós em determinada
hierarquia;
- Por medo – como
quando obedecemos alguém que pode nos fazer mal, para evitar que ele o faça;
- Por preguiça de
pensar – como quando uma pessoa é tão articulada e convincente que acabamos
adotando para nós tudo o que este faz e aconselha muitas vezes sem pensar a
respeito;
- Por admiração –
como quando temos alguém que nos serve de exemplo;
- Por desejo de ser
igual ao líder – como quando a admiração é tanta que desejamos nos tornar
igual a pessoa que admiramos, seguimos suas ordem e a imitamos na esperança de
nos tornar melhor do que somos;
Eu diria que dessas 5 razões as 2 primeiras são frágeis (seu
efeito pode ser “quebrado” facilmente), pois o liderado vai estar sempre
desejando se livrar / se vingar do líder. Por essa razão, líderes por obrigação
ou por medo não costumam ser marcantes (são facilmente esquecíveis).
Já os 3 últimos motivos são poderosos, pois são capazes de
transformar os liderados e sua forma de agir/ser no mundo. Os líderes
articulados e admirados tornam-se modelos para seus liderados.
Tem gente que diz que líder nasce pronto. Eu não acredito
nisso. Acho que qualquer ser humano é capaz de aprender qualquer coisa. Pode
até ser que uma pessoa ou outra desenvolva naturalmente qualidades requeridas
de um líder, são os tais “líderes natos” que vira e mexe ouvimos falar. Mesmo
assim, eu acredito que qualquer um que esteja aberto a adquirir essas
características conseguirá (algumas pessoas na base de mais esforço...outras
nem tanto).
Mas que características são essas? Qual é o borogodó do tal
“líder nato”?
Pra ser líder precisa ter atitude e energia. Normalmente o líder
é aquele que contagia, é um influenciador. E como diria uma antiga professora
minha “ninguém dá o que não tem”. Isso significa que aquelas pessoas
desanimadas, meio mortas, com “sangue de barata” jamais conseguirão liderar
(chefiar até pode ser, liderar, não).
Um líder não pode ter medo de não ser amado, pois deve falar
o que é necessário e não o que o liderado quer ouvir (mas que fique claro que isso não significa falar com rispidez. muitas vezes o problema está no como e não no quê se diz).
O bom líder é o que se mostra justo. Aquele que os liderados
aceitam mesmo quando as decisões os desfavorecem, pois conseguem ver sentido em
suas ações. Sabe aquele chefe que te dá feedback negativo, sem fazer você se
sentir um bosta? Isso é o líder.
Bons líderes controlam sua vaidade. Isso permite que eles
ouçam e aprendam com quem discorda deles, o que faz os liderados se sentirem
importantes e acolhidos. Para liderar bem é preciso enxergar a importância do
outro.
Um líder precisa ser respeitado. Ninguém segue quem não
respeita. (O que nos leva a uma reflexão necessária sobre respeito. Mas
deixarei para outro texto, pra evitar que este fique longo além da conta).
Existem algumas posições que exigem perfil de liderança. É
impossível ser mãe ou pai, ser professor, ser dono de negócio, ser chefe etc
sem ser também líder. Mas é sempre
melhor que a “nomeação” de um líder se dê de maneira e espontânea. Forçar que
uma pessoa seja líder sem que ela queira ou sem que os liderados o “adotem”
como tal, via de regra dá merda.
Porém, cuidado! Precisamos separar o que é um líder no
dia-a-dia e o que é um líder do ponto de vista das empresas. Liderança é um
termo pra lá de manjado nas empresas. E por mais que pareça que as empresas
buscam líderes autênticos, não é bem por aí. O líder do dia-a-dia lidera pelo
bem das pessoas. O líder na empresa lidera pelo bem dos negócios (e nem sempre
as coisas vão convergir).
As empresas vivem dizendo que desejam bons líderes, mas o
que elas querem dizer na verdade, é que querem alguém capaz de extrair o máximo
das pessoas: o máximo de rendimento, o máximo de esforço, o máximo
de dedicação pela empresa, o máximo dos indicadores etc. O foco raramente está
no melhor para o sujeito liderado.
Me lembro bem de um gestor com quem trabalhei que vivia se
vangloriando por ser um bom líder. De fato ele era reconhecido pela gerência
por seus bons indicadores e por ter a equipe sempre “na mão” (normalmente agia
com muito carisma com a equipe). Até que um de seus funcionários adoeceu. Ficou
semanas ausente por conta de uma depressão. Como ele não estava indo ao médico
para pegar os devidos atestados a enfermeira e eu chegamos até a fazer uma visita
ao funcionário para verificar o que estava acontecendo e confirmamos que ele
estava de fato doente. Quando voltamos da visita à casa do funcionário a
primeira coisa que ouvimos do gestor - aquele que se proclamava um super líder -
foi “Já que ele não está pegando atestado, podemos demiti-lo? O cara está
fodendo meu absenteísmo, pô!”. E foi nessa hora que entendi a diferença de um
bom líder para as pessoas e um bom líder para os negócios (só pra constar, este
gestor continua sendo case de sucesso com seus excelentes indicadores).
Quando penso em grandes figuras históricas que marcaram por
sua capacidade de liderar 2 nomes me vem em mente: Jesus Cristo e Adolf Hitler.
E, por favor, antes de me odiar pela comparação, segura a emoção e veja se
minha linha de raciocínio faz sentido.
Jesus e Hitler são ao mesmo tempo opostos e iguais.
Enquanto Jesus visava o bem de toda a humanidade, Hitler
desejava o bem apenas dos seus. No entanto:
- Ambos tinham um discurso coerente - não to dizendo que
concordo com o Hitler, ta! Mas temos que admitir que cada loucura que ele
defendia era pautada em um raciocínio lógico (pra ele pelo menos);
- Ambos tinham carisma e faziam os seus se sentirem
compreendidos e seguros;
- Ambos tinham energia para defender suas ideias;
- Ambos inspiraram as pessoas com seus projetos e visão de
mundo grandiosas (e quem nessa vida não desejaria fazer parte de algo
grandioso?);
- Ambos inspiravam nas pessoas a fé em um mundo melhor;
- Ambos inspiravam generosidade e se mostravam voltados ao
bem maior da comunidade (claro que, para Hitler, a comunidade significava
apenas os arianos alemães, mas pelo menos com esses ele era bastante generoso...).
E o que eu quero dizer com tudo isso? Quero demonstrar que a
pessoa que desenvolve a capacidade de liderar é capaz de grandes feitos. Também
quero mostrar que a força de um líder pode ser usada para o bem ou para o mal.
E que, por mais influente e carismático que um líder possa parecer, é sempre
importante pensar sobre suas ideias. Afinal, sem isso não temos como saber se
estamos diante de um coração revolucionário ou de um ditador tirano...