quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Lado Bom de Ser Pobre

Os ricos que me desculpem, mas ser pobre é muito mais legal.
Não do tipo "pobre miserável" daqueles que tem que escolher se almoça ou janta e que vive do bolsa família, mas aquele tipo de pobre meio termo.

Pobre meio termo é aquele que anda na periferia sem [muito] medo por que afinal "Nasci aqui, pô! O moleque traficante que saiu no Cidade Alerta da semana passada foi meu colega de classe na 6° série, sou acostumado a viver com gente perigosa...", é aquele que pega busão mas no fundo sabe que se fizer uma forcinha até conseguiria ter um carro ou uma motoca (a propósito, vamos combinar, chamar ônibus de busão é tipicamente pobre).
Pobre meio termo sai de uma vida toda na escola pública e entra no PROUNI... Faz faculdade paga mesmo sem ter dinheiro para a mensalidade e pode se dar ao luxo de chamar os colegas pagantes de burgueses (ironicamente ele mesmo não se sente um burguês, ainda que goste das mesmas coisas e frequente boa parte dos mesmo lugares que seus colegas "de berço").
Aliás, pobreza hoje em dia tem ficado quase chique. Dá até enjôo ver como a Globo quer meter na nossa cabeça que é cult ser da favela ou que baile funk é folclore e, sem que a gente perceba, [nós, pobres] vamos aos poucos virando atrações de um zoológico humano, vez por outra visitado pelas camadas mais abastadas da sociedade (sempre tem quem ache fofo ver os pobres em seu habitat natural).

Mesmo assim ainda acho legal ser pobre.
Não que seja maneiro viver em constante limitação financeira, mas da mesma forma que o ditado diz que "é preciso perder algo para dar-lhe valor", eu acho que quando tudo é penoso de se conseguir se torna mais especial.

Pobres são mais gratos às suas conquistas, pois cresceram sob a sombra constante da frase "Agora não, meu filho, a mamãe não tem dinheiro pra isso". Desde cedo a vida nos ensina que nada é de graça. Aprendemos a dar valor às pequenas coisas e nunca desistir de nossas decisões, principalmente as que envolvam investimento financeiro. Somos adeptos da lógica "Se paguei por isso vou até o final, não tenho dinheiro sobrando para desperdiçar desistindo".
E digo isso com conhecimento de causa. Sempre fui pobre meio termo. Em mim ficou este espírito desprendido de quem sempre teve pouco e por isso mesmo acha que o que vier é lucro.
Também aprendi a gostar mais de fazer coisas do que de possuir coisas. Afinal, os objetos ficam obsoletos, vão sempre carregar consigo um fundo de frustração. As lembranças, porém, vão ficando mais apuradas e valiosas com o passar do tempo..além do mais não ocupam espaço e não pegam poeira!

Viva a pobreza! [com ressalvas, claro...rs]

Um comentário:

Michele Wanderley disse...

Sempre fui pobre, as vezes muito abaixo do meio termo. Mas a condição financeira nunca afetou minha felicidade. E de fato concordo que dou muito valor a tudo que tenho, pois o pouco que tenho custou muito. Adorei esta postagem!