terça-feira, 20 de maio de 2014

#aleatoreidades - A vida da palavra

E a bendita palavra não dita, morre.
Assim como se cansa a palavra repetida
Se gasta a palavra que se banaliza

Palavra também se gasta
Como roupa que se usou demais até perder a beleza
Assim como a beleza por demais admirada um dia há de ficar invisível

Por isso eu peço:
Suma palavra!
Suma para que eu te enxergue mais uma vez
E uma vez mais volte e me traga esse frio e essa vertigem boa

Palavra é como gente
Também tem infância, adolescência e madureza
Como gente, precisa ser gestada dentro do ser
Então, um dia nasce
Transforma tudo ao redor
E todo muda pelo simples e arrebatador poder da palavra:

Amor.


domingo, 4 de maio de 2014

Contro n°2: Yin & Yang

Acordou.
Tomou um banho gelado para ficar mais disposto.
Separou os CD's de samba que costumavam acompanhá-lo nas viagens e também alguns instrumentos.
Tomou um café da manhã leve e conferiu os últimos detalhes do carro.
Pegou a estrada já pensando nas pedaladas e braçadas que daria, além da saudade que sentia de seu irmão.
Aquele seria o final de semana que fecharia com chave de ouro suas férias.
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Acordou.
Tomou um banho quente para prolongar aquela sensação de ter saído da cama.
Tirou uma parte da pauleira de seu Ipod e substituiu por um som psicodélico que achou ter mais sintonia com o clima praiano que a esperava.
Saiu de casa em jejum rumo à rodoviária já sonhando com a gelada que tomaria sentada de frente para o mar.
Pensou em todas as histórias e fofocas que dividiria com sua amiga que há tanto tempo não via. A vida andava um caos e seria ótimo ter com quem conversar.
Aquele seria um fim de semana de preguiça.
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Por dentro ele era um grande quebra-cabeças de emoções misturadas. Via os primos, amigos e as pessoas todas ao seu redor em seus rolos, namoros, casamentos etc. e a verdade é que não entendia muito bem a finalidade daquilo tudo. Havia experimentado da paixão apenas uma vez e sem sucesso. Depois disso decidiu que não nascera praquilo e não procuraria mais ninguém para gostar (mesmo sozinho, tudo ia muito bem, obrigado!).
Porém, ao mesmo tempo que não sentia falta dessas coisas, sempre havia aquelas cobranças da família ou amigos: “E aí? E a namorada, cadê?!” que deixavam no ar a impressão de que ele tinha algo de disfuncional em si.

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Por dentro ela se sentia como uma lixeira sentimental após tudo pelo que passara nos últimos meses. Depois de tudo decidiu seguir sozinha e se bastar. E “se bastando” ela havia sido tomada por uma aura irresistível de auto-suficiência e independência que vez por outra colocava algum cara interessante em seu caminho. Mas suas investidas amorosas, até aquele momento, tinham apenas a função de satisfazer um desejo de pele, tornando-se sempre desinteressantes com o tempo. Seus relacionamentos, via de regra, acabavam antes de tornarem-se compromissos. Seu coração estava gasto pela vida e ela carregava a sabedoria serena que só quem se acostumou à frustração consegue ter.
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Ele chegou cedo ao seu destino. Deu uma volta de bike, andou na praia e nadou. Naquele dia seu irmão chegaria um pouco mais tarde porque precisava ir com a esposa até a rodoviária buscar uma amiga que passaria com eles o final de semana. No fundo a idéia de dividir o irmão e a cunhada com uma desconhecida no último fim de semana livre de suas férias não o agradava tanto... Mas fazer o quê? Não tinha outro jeito...
Enquanto isso ela desembarcava do ônibus e ia ao mesmo tempo perguntando as novidades, cumprimentando o casal, dando uma prévia das fofocas, fazendo piada... Tudo naquele estilo atropelado e caótico que era sua marca registrada.

No fim do dia, todos reunidos, pizza e a notícia: aquele seria um fim de semana de trabalho. Finalmente a imobiliária liberara a casa nova dos anfitriões e os convidados teriam de se juntar para ajudar na mudança de última hora.

O dia seguinte foi de encaixotamento de tralhas e compartilhamento de idéias.
No meio de toda a bagunça foram surgindo os mais diversos assuntos que aos poucos traziam à tona os pontos de convergência e de divergência entre ele e ela.

Em comum tinham o signo, a escolha pelo mesmo curso superior, o fato dos pais de ambos estarem se preparando para uma mudança definitiva para o interior, a natureza inquieta e o gosto por esportes radicais. A surpresa do dia ficou por conta da vontade compartilhada de pular de para-quedas... Meio a sério, meio brincando chegaram até considerar um encontro posterior para fazerem isso juntos. (Quem sabe um dia...?)

As diferenças também estavam lá e não eram poucas.
Ela que curtia rock, enquanto ele era o cara do samba. Ela que contava os segundos para o inverno chegar enquanto, por ele, o verão poderia nunca mais acabar. Ela com sua postura ranzinza e reclamona que chegava a ter orgulho da fama de mal-humorada no trabalho. E ele, por outro lado que era o típico “boa praça” do escritório, sempre sorrindo e conhecido como amigo de todos.
Entre descobertas, caixas e longas conversas o fim de semana passou e chegou a hora de subir a serra.

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Segunda-feira e o dia dela cheio no trabalho. Mesmo assim era pega vez por outra pela lembrança dos dias anteriores e consciência de um erro imperdoável. Como era possível que ela não tivesse pego o telefone dele?
Claro que uma troca de telefones não significava que algum deles entraria em contato com o outro. Mesmo que alguém entrasse em contato nada garantia que marcariam algo. E ainda que marcassem algo, isso não significava que se dariam bem... A questão é que todas aquelas possibilidades eram impossíveis simplesmente porque eles não haviam trocado telefone. Um mundo de possibilidades impedido por um único detalhe.
Não restava outro caminho. Então ela abriu sua caixa de e-mail e escreveu uma longa mensagem para a amiga agradecendo pelo final de semana divertido e entre uma informação e outra tomou coragem para pedir que enviasse seu número de telefone para ele.
Alea jacta est!

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Terça-feira e ele ainda incrédulo. Depois de se pegar algumas vezes pensando no final de semana ainda não entendia porque ela havia mandado seu número de telefone. Chegou a considerar a possibilidade de ser apenas uma brincadeira do irmão. Mas fez o teste e escreveu uma mensagem falando qualquer banalidade, tomando cuidado para que não demonstrasse nem descaso, nem interesse demais.
Imediatamente a certeza: era mesmo ela estranhamente interessada em conversar e relembrando os planos levantados sobre o salto de para-quedas.

Dia após dia o contato foi se aprofundando... De repente era como se se conhecessem há anos, mesmo que fizesse menos de uma semana.
Então uma ideia: porque não continuar a conversa pessoalmente no final de semana?
E assim fizeram. Como moravam um tanto distantes, marcaram na praça central de uma cidade turística que ficava no meio termo de distância entre eles.

Ela chegou certo tempo antes. Não que fosse ansiedade de vê-lo, dizia para si, mas o horário dos ônibus intermunicipais era realmente imprevisível no final de semana e seria indelicado chegar atrasada...
Há tempos ele não fazia aquele caminho. Uma curva errada e pronto! Se perdeu, demorou para achar o retorno. Chegaria atrasado. Começou a remoer a ansiedade de ter estragado o final de semana. Já a imaginava brava, sentindo-se desrespeitada com a hora de sua chegada...

Então encontraram-se. Minutos depois do céu azul se encobrir e começar uma senhora chuva. Sem cumprimentarem-se direito se enfiaram no primeiro restaurante. Com o tempo fechado só lhes restava comer sem pressa e conversar. E conversaram. Conversaram até que o apetite acabou, a chuva acabou e o dia acabou. Só não acabava o assunto e a vontade de seguir adiante.
Para estender o tempo juntos ele ofereceu uma carona.
Para estender o tempo juntos ela ofereceu que ele entrasse em sua casa e esperasse até carregar a bateria do celular (era mais seguro para, caso necessário, ele pudesse ativar a função GPS e não se perder na volta também...ou pelo menos foi a desculpa que ela escolheu).
O assunto continuava, o envolvimento crescia... Num momento de aproximação e silêncio um beijo ainda meio desengonçado.
Por algum motivo que não eram capazes de explicar havia um magnetismo no ar, uma vontade de estender o momento... Mas a noite havia chegado ao fim e ele teve que ir embora.

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Nos dias que se seguiram ela só fazia pensar nas diferenças entre eles e porque, mesmo assim, ela queria tanto vê-lo de novo (parecia não fazer muito sentido).
Do lado de lá, ele pensava no que poderia significar a vontade cada vez mais intensa e constante de contar-lhe de seu dia, seus desejos e suas frustrações.
Decidiram juntos que deixar-se-iam levar sem planos. Enquanto tivessem assunto e desejo da companhia um do outro estariam juntos. Tão logo o bom clima acabasse parariam de se ver e ponto. Simples assim. Prezavam muito por ter espaço, leveza e liberdade. Não havia como dar errado.

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Os dias foram passando. As semanas também passaram. Algumas folhas de calendário foram viradas e entre uma e outra os encontros e as histórias que compartilhavam iam acumulando-se. Estavam sempre concentrados no desejo de aproveitar a companhia um do outro, porém sem prenderem-se. Este último ponto, aliás, era sempre relembrado discretamente nas conversas quando eles achavam que estavam envolvidos além da conta...

O que eles ainda não sabiam era que, mesmo enquanto não queriam admitir, já estavam juntos. Foram constituindo-se como opostos complementares capazes de se entrelaçar sem perder a essência nem misturarem-se até virar uma coisa só.

Ainda perceberiam que o que faltava em si era o outro.

Demorou pra ser. Mas agora é.


terça-feira, 8 de abril de 2014

Momentos da vida ordinária

A vida é feita de momentos.
Eita frase batida! Daquelas que você diz tentando soar profundo (e que normalmente não dá certo)...

Mas, enfim, a vida é mesmo feita de momentos. São estes momentos costurados da grande teia da nossa vida que nos torna o que somos - para o bem, ou para o mal.
Este texto me veio assim num destes "momentos".

No momento exato em que me encontro escrevendo isto, estou na fila do Poupatempo de Santo Amaro em plena terça-feira às 18h50 após sair voada do trabalho.

Acontece que, após quase 10 anos me esquivando, tomei vergonha e coragem e fui para a auto escola providenciar o porte de armas.
Na minha fantasia seria tudo muito simples ("tirinho de espingarda", como diria meu pai): iria fazer a matrícula, as aulas teóricas, as práticas, baliza e fim.
A realidade, no entanto, foi bem mais criativa e logo de cara me veio uma trollada da vida...
Fui barrada já no primeiro passo.
Precisaria fazer um cadastro no Detran, porém não fui autorizada à agendar porque meu RG completa 10 anos em 2014 e eu precisaria fazer outro.

O que me levou ao segundo ato que foi a necessidade de tirar uma foto 3x4 (pavor dos pavores de qualquer ser humano normal).
Cheguei em casa cedo ontem, passei uma base nas imperfeições da pele, um batom pra tirar a brancura das faces e adquirir um aspecto mais vivo e fui tirar a bendita.

Deste ocorrido tirei 2 conclusões:
1) Corte de cabelo irregular pode ser um charme no dia-a-dia, mas em foto 3x4 vai te deixar com cara de louca descabelada por mais que você tente parecer asseada. 
2) De fato não preciso fazer teste de DNA pra saber que sou mesmo filha de meu pai. Assim como ele eu também saio com um olho mais aberto que o outro nas fotos (efeito que eu carinhosamente apelidei de "farol baixo").
Detalhe: gastei R$9,00 em 8 fotos medonhas que eu definitivamente não pretendo eternizar no meu documento de identidade, mas o desgosto com a descoberta do item 2 foi tanta que não tive forças de pedir uma nova tentativa pro fotógrafo.

Dia seguinte (no caso, hoje) lá vou eu na hora marcada rumo ao Poupatempo.
Num ato ímpar de esperança me enfio na primeira portinha escrito "3x4 na hora" e tiro uma nova foto. Não sem antes alisar bem as madeixas para ficar com um aspecto de cabelo mais normal (foi a primeira vez em meses que arrumei o cabelo arrumando mesmo e não bagunçando e finalizando com laquê).
Sento na cabine, ouço o "click", vejo o flash e vou conferir o resultado...
Resumindo: foram $15,00 em 6 fotos tão medonhas como as do dia anterior.

Saldo final: R$9,00 em 8 fotos que foram pro lixo - R$ 15,00 em 6 fotos em que estou parecendo o Beiçola da grande família (que foram as escolhidas para o RG por estarem "menos piores" que as primeiras) e R$ 31,00 de taxa pelo serviço (porque não estava afim de fazer o atestado de pobreza para me isentar da supra referida taxa).
Total: R$52,00 de prejuízo financeiro e um desgosto incalculável.

Obrigada, vida!
Acho que estes momentos são daqueles que ajudam com que eu, cada vez mais, me torne este ser humano azedo e reclamão...



Ps. O uso excessivo da palavra "momento" no início do post foi 100% intencional afim de dar o clima angustiante de meu fim de tarde. Não venham me encher o saco e corrigir...

quarta-feira, 19 de março de 2014

O Gramado do Vizinho

Segundo o dicionário...

Peão: (latim
 medieval pedo, -onis, que tem pés grandes, que vai a pé)
substantivo masculino
1. Pessoa que anda a pé.
2. Soldado de infantaria.
3. Cada uma das peças menores do jogo de xadrez.
4. Homem que se ajusta para trabalhar no campo.
5. Pajem.
6. [Brasil]  Amansador de cavalos e burros.
7. Condutor de tropa ou serviçal de estância.
8. Camarada.
9. Homem que, montado a cavalo, agarra bois a laço.
10. [Marinha]  Peça de ferro em que a verga encaixa no mastro.

Segundo o uso popular...

Peão: funcionário operacional, geralmente de chão de fábrica e que - via de regra - trabalha muito, ganha pouco e não é reconhecido.

Até aí aparentemente tudo certo, tudo claro.
[Só que não...]

            Já foi o tempo em que se podia ter bem definida a fronteira do que é, e o que não é, ser peão num ambiente de trabalho. Existia a imagem aparentemente lógica de que quem não estudava virava peão e quem se dedicava ia pro escritório ser feliz pra sempre.
Neste conceito de mundo perfeito e bem dividido o tal "escritório" é como um paraíso em que se toma cafezinho, temos nosso próprio computador e passamos o dia tranquilamente sentados a esperar os pagamentos ao fim de cada mês.

Ahhh...se o pessoal da linha de produção soubesse a verdade...

            Escrevo este texto sob o ponto de vista de um representante do lado de cá. O lado de dentro do sonho de consumo da galera da base. E agora vou mandar a real:

            Me formei num curso superior de 5 anos de duração, fui pro inglês, entrei na pós graduação e, ironicamente, ainda me sinto mais peão do que nunca. E não sou a única! Conheço vários como eu... Formados e pós graduados que vagam por aí infelizes com sua situação não apenas financeira, mas que também se sentem explorados, pouco reconhecidos e desmotivados com o trabalho.



            Ok, eu até entendo a tendência que as pessoas tem de sempre achar que "o gramado do vizinho é mais verdinho". É muito mais fácil encontrar facilidades em algo que só conhecemos à distância. Mas não me entra na cabeça o glamour que alguns funcionários de cargos operacionais fantasiam que exista no mundo administrativo.

            Não vejo nada de "chique" em passar o dia atrás de uma tela de computador, fechada por 9 horas diárias na mesma sala, geralmente com o chefe na orelha a fazer cobranças constantes e ainda por cima ganhando pouco. E pior: com a terrível desvantagem de ter investido uma boa parte de nosso dinheiro em nossa capacitação profissional (o que nem sempre nos dá o retorno esperado).
            Ao mesmo tempo vejo um movimento forte no sentido contrário. Conheço um  volume respeitoso de pessoas que correram atrás de se capacitar para uma vida longa e próspera no setor administrativo e em algum momento fizeram uma curva acentuada na estrada da vida profissional, deixaram de lado o falso status do trabalho intelectual e hoje ganham a vida metendo a mão na massa.
E é lindo notar como isso às realiza e as supre (financeira e espiritualmente).
            Por isso mesmo digo à todos os trabalhadores chamados operacionais: auxiliares de produção, domésticas, garçons, pedreiros, mecânicos, costureiras...enfim...         Pare de sentimento de inferioridade!

            Todos os trabalhadores deste mundo encaram os mesmos perrengues e tem os mesmos anseios e frustrações...só muda o uniforme!
           
            Da mesma maneira que todos temos a mesma obrigação conosco mesmos de dar o melhor para atingir o sucesso e a tão sonhada realização que é possível para todos nós, cada um à sua maneira.

Ninguém é melhor que ninguém, pois tudo faz parte da mesma cadeia...


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Nunca confie num cara que não durma de conchinha

Esta é a dica de hoje para as moças do meu Brasil: nunca confie em um cara que não deite de conchinha com você. Simples assim. É um detalhe, mas um detalhe pra lá de revelador.

Tudo começou quando, depois de 10 anos emendando um namoro no outro, eu decidi simplesmente viver uma adolescência fora de época e não me amarrar a ninguém por pelo menos um ano.
Não que namorar seja ruim, muito pelo contrário. Poucas coisas na vida são mais gostosas que ter alguém só pra você, companhia fixa pra sair e alguém que goste mais de você do que de qualquer outra pessoa no mundo. Por outro lado uma baguncinha de vez em quando e a liberdade de não ter a quem prestar satisfações também tem seu valor e pesa na felicidade humana...rs


Enfim, cá estou no meio de minha jornada solteirística desenferrujando este meu parco (pra não dizer nulo) poder de sedução e ousadia. E após 6 meses sem ser de ninguém, além de toda diversão, tenho levado de brinde algumas lições. Entre elas a que deu título a este post.


Tenho esbarrado numa diversidade considerável de representantes do sexo masculino e notei este denominador comum: homens que não ficam de conchinha costumam ser mais frios e indiferentes. Lembro que numa das minhas primeiras investidas disse para um rapaz meio a sério, meio em tom de piada: "só não vamos deitar de conchinha porque está muito cedo pra tanta intimidade". Mas não teve jeito, o piloto automático de meu comportamento somado a carência intrínseca de minha personalidade me fez virar, como quem não quer nada, esperando um abraço. E nada. Ainda ouvi uma piada grosseira tipo "ué, não era você que não queria ficar assim?".

Pois é, frustrou minha expectativa e adicionou mais uma camada a essa casca já bem grossa da minha insegurança.

Mas a vida continua e eu segui o bonde. Estive com outras pessoas e tal porém, sem me arriscar a me expor novamente à uma cortada dessas adotando eu a postura de frieza e indiferença. [Como se isso pudesse me proteger de alguma mágoa...tsc tsc tsc...até parece...]

Lá pelas tantas, em outra curva dessa estrada me deparo com uma situação banal... Nos conhecemos, saímos, interesse daqui, interesse de lá...com aquela consciência de que não ia dar em nada e mesmo assim com a vontade de aproveitar o que viesse. E lá fomos. Tudo muito bom, tudo muito bem. Até a hora da surpresa: aquele abraço dos mais aconchegantes, com cheirinho no cabelo, beijo...por trás, mas sem malícia. Um carinho delicado que eu já nem lembrava mais ser possível. Quase romance. [SQN]. No fim aquela sensação boa de saber que por mais que não namoremos (e nem ao menos tenhamos esta intenção), todo o carinho é bem vindo, que a pele tem necessidades, mas a alma também. 


Fiquei pensando nesses dois casos que me aconteceram depois de ver uma piada machista no Facebook. Era uma imagem de um casal deitado abraçadinhos com a legenda: Para ela: apoio para cabeça, proteção e uma boa noite de sono - Para ele: braço dormente, comendo cabelo e pau duro.

Adoraria ter achado engraçado, mas achei triste ver a intenção implícita na brincadeira de dizer aos rapazes que é ruim a tal "conchinha".


Por isso meu recado às moças. Quando um cara aceita ou se recusa a fazer isso está te passando uma mensagem muito objetiva. O que aceita e te abraça diz: Ok, isso pode até não nos levar em nada. Mesmo assim, enquanto estivermos fazendo alguma coisa juntos, tentarei ser agradável e te proteger. Por sua vez o cara que pensa mais no braço dormente do que em te dar um momento de agrado está te dando a mensagem: Já tive de você o que queria e não estou afim de passar desconforto nenhum para fazer média.

Nota aos homens: fazer média faz parte deste jogo social em que vivemos e pode até ser o gatilho para ótimas experiências sentimentais (como dizem por aí: não regule miséria!).

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Lado Bom de Ser Pobre

Os ricos que me desculpem, mas ser pobre é muito mais legal.
Não do tipo "pobre miserável" daqueles que tem que escolher se almoça ou janta e que vive do bolsa família, mas aquele tipo de pobre meio termo.

Pobre meio termo é aquele que anda na periferia sem [muito] medo por que afinal "Nasci aqui, pô! O moleque traficante que saiu no Cidade Alerta da semana passada foi meu colega de classe na 6° série, sou acostumado a viver com gente perigosa...", é aquele que pega busão mas no fundo sabe que se fizer uma forcinha até conseguiria ter um carro ou uma motoca (a propósito, vamos combinar, chamar ônibus de busão é tipicamente pobre).
Pobre meio termo sai de uma vida toda na escola pública e entra no PROUNI... Faz faculdade paga mesmo sem ter dinheiro para a mensalidade e pode se dar ao luxo de chamar os colegas pagantes de burgueses (ironicamente ele mesmo não se sente um burguês, ainda que goste das mesmas coisas e frequente boa parte dos mesmo lugares que seus colegas "de berço").
Aliás, pobreza hoje em dia tem ficado quase chique. Dá até enjôo ver como a Globo quer meter na nossa cabeça que é cult ser da favela ou que baile funk é folclore e, sem que a gente perceba, [nós, pobres] vamos aos poucos virando atrações de um zoológico humano, vez por outra visitado pelas camadas mais abastadas da sociedade (sempre tem quem ache fofo ver os pobres em seu habitat natural).

Mesmo assim ainda acho legal ser pobre.
Não que seja maneiro viver em constante limitação financeira, mas da mesma forma que o ditado diz que "é preciso perder algo para dar-lhe valor", eu acho que quando tudo é penoso de se conseguir se torna mais especial.

Pobres são mais gratos às suas conquistas, pois cresceram sob a sombra constante da frase "Agora não, meu filho, a mamãe não tem dinheiro pra isso". Desde cedo a vida nos ensina que nada é de graça. Aprendemos a dar valor às pequenas coisas e nunca desistir de nossas decisões, principalmente as que envolvam investimento financeiro. Somos adeptos da lógica "Se paguei por isso vou até o final, não tenho dinheiro sobrando para desperdiçar desistindo".
E digo isso com conhecimento de causa. Sempre fui pobre meio termo. Em mim ficou este espírito desprendido de quem sempre teve pouco e por isso mesmo acha que o que vier é lucro.
Também aprendi a gostar mais de fazer coisas do que de possuir coisas. Afinal, os objetos ficam obsoletos, vão sempre carregar consigo um fundo de frustração. As lembranças, porém, vão ficando mais apuradas e valiosas com o passar do tempo..além do mais não ocupam espaço e não pegam poeira!

Viva a pobreza! [com ressalvas, claro...rs]

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O Batismo - meu primeiro conto

Naquele dia ela acordou com uma vontade incontrolável. Um desejo profundo que não conseguia decifrar o que era nem de onde vinha.
Ficou deitada em silêncio por alguns instantes tentando se lembrar do sonho que tivera como se nele se encerrasse o sentido daquele mal estar.
Vazio. Não vinha nada na memória.
O desejo virou angústia. A angústia rapidamente tornou-se inquietação e ela decidiu fazer algo que há muito não tentava: sair de casa.

Em primeiro lugar abriu a porta.
Aliás, isso foi a segunda atitude, pois para quem estava trancada há tanto tempo o simples ato de encontrar as chaves já fora um desafio imenso. No final da busca pelas chaves o desgaste era tanto que ela quase desistiu de sair. Saiu, no entanto.

Se assustou ao notar a mudança nos arredores.
Não que a floresta na qual vivia fosse rica de vizinhos, mas o espanto foi enorme quando ela notou que a trilha que conectava a entrada de sua pequena casa ao restante do mundo havia se apagado.

Então era isso.
O que lhe aguardava era um trabalho de bandeirante. Haveria de meter as caras naquele matagal se quisesse alguma chance de acalmar sua alma. Porém a falta de senso de direção era seu ponto fraco. Um ponto fraco que sempre a fazia desistir de ir a qualquer lugar.
Foi aí que teve uma idéia.

Não era ingênua para acreditar em contos de fada, mas aprendia muito com eles. Sabia que se bancasse a protagonista de João e Maria ficaria para sempre perdida no meio da floresta. E seria certamente um final muito pior que o do conto original, afinal ela não tinha nem ao menos esperança de encontrar uma bruxa que a alimentasse até a morte. Assim como na história, era claro que se saísse jogando pães pelo caminho não encontraria nada na volta.
Porém, do tempo em que pensara ter um incontrolável instinto suicida ela guardava, além de algumas lembranças enevoadas, um saquinho de veneno. Aquele veneno que ela por tantas vezes quase ingeriu. Depois, mesmo quando desistiu do fim prematuro, achou que seria útil guardar. Enfim o momento era aquele. Do fundo de sua imaginação fértil veio o estalo. E lá foi ela com a cara, a coragem, um pacote de pães e um punhado de chumbinho.
Começou a caminhada a passos lentos. Não sabia exatamente o sentido daquilo tudo. De repente era como se toda sua vida tivesse sido deletada de sua memória. Por mais que tentasse não era capaz de lembrar seu passado. Apesar de ter consciência de que aquela era sua casa não conseguia recordar quem era ou como chegou lá.
Sentia que de alguma forma uma caminhada a faria resgatar muitas coisas perdidas.
Andava e ia deixando pelo caminho migalhas de pão envenenado.
Cada nova árvore, cada canto de passarinho e queda d'água parecia ao mesmo tempo profundamente desconhecido e levemente familiar.
Aí veio um cansaço. Uma fadiga repentina que lhe tomou o ar e ela sentou-se em uma pedra à sombra duma árvore. Foi quando as lembranças brotaram num fluxo alucinante de sua mente, assim como jorra o sangue de uma ferida profunda. E de certa forma era bem isso... aquelas lembranças todas a feriam.
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Na tribo de onde vinha a tradição era aquela. Assim que os jovens começavam a apresentar os primeiros sinais de maturidade e autonomia eram mandados para o que era tratado por todos apenas como “cabana”. Tudo o que sabia era que os jovens desapareciam do convívio geral e algum tempo depois voltaram totalmente transformados: na forma de vestir, corte de cabelo, maneira de falar, se portar... Às vezes parecia até que tinham sofrido alguma forma de lavagem cerebral.
Seu imaginário de criança ficava encantado com aquilo. Vivia a observar que não importava quanto tempo os jovens levassem para voltar da cabana (poderia ser algumas semanas ou até mais de um ano), eles sempre eram recebidos de braços abertos e da maneira mais natural possível. Era uma espécie de rito de passagem, algo como um batismo. Mas quando criança não era capaz de entender...
Pensando em tudo isso foi retomando a caminhada sem saber onde ia dar. Se embrenhou ainda mais floresta adentro relembrando sua infância, seu crescimento...e as recordações iam aos poucos se combinando numa massa de dados que começava a querer fazer sentido.
Finalmente conseguiu compreender que a casa em que acordou era a tal cabana e que ela estava finalmente vivendo o seu batismo. Ela deveria sair pela mata e descobrir seus dotes, sua forma de explorar a floresta de maneira inteligente e em seguida voltar e agregar aquelas novas experiências aos conhecimentos da tribo. Envergonhou-se por ter demorado tanto a entender. Não lembrava há quanto tempo estava naquele estado de torpor do qual acordara, mas era capaz de imaginar que tinha sido um tempo considerável, pois era assim que seu corpo funcionava: sempre que passava por algum momento de grande ansiedade era assolada por uma insegurança profunda e um sono paralisante.
Aquele breve momento de tomada de consciência (e as horas intermináveis de sono que deveria ter dormido) a encheu de esperança e energia. Então ela decide finalmente começar seu processo de descoberta... Voltaria para a cabana, pegaria alguns pertences (cantil, foice, caderno...) e enfim descobriria quais contribuições levaria pra casa quando retornasse do seu retiro de solidão. Um mundo novo finalmente se descortinaria para ela neste seu início de vida adulta.
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Neste momento ela sente que algo está estranho e começa a ter uma intuição ruim. Náusea, tontura, sono...Seu campo de visão começa a se expandir e ela vê tudo por um ângulo superior. É capaz inclusive de ver-se lá em baixo, meio como se dormisse, com o saco de pães caído ao lado. 
Foi então que se deu conta...em seus devaneios distraiu-se. Enquanto lembrava quem era e de onde vinha, aquele vazio espiritual converteu-se em vazio físico. Fome. Sua mão enfiada no pacote de pães quase que por reflexo levou um pedaço até sua boca. Simplesmente comeu. Um pão com aquele veneno que tantas vezes ela tinha desistido de engolir. E agora havia ingerido por acidente colocando fim na história que era para estar apenas começando.
Atrás dela um rastro bizarro de aves e pequenos animais mortos que se estendia do ponto em que seu corpo se encontrava até quase a porta da cabana.
Ela entendeu, então, que nunca mais pegaria o caminho de volta.


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

E do fundo da minha caverna interior o silêncio falou alto

Me lembrei daquela cena bizarra do Clube da Luta quando o personagem principal é instruído numa hora de meditação a "visitar sua caverna interior e entrar em contato com sua força" aí o que encontra é um pinguim fofo escorregando de barriga num tobogã de gelo. [quem viu o filme entendeu, quem não viu que veja, pois vale a pena]
Me peguei pensando nisso quando eu é que estava numa caverna. E não uma caverna interior no sentido metafórico da palavra, mas numa de verdade mesmo.

Estive com um pessoal no PETAR e foi uma experiência muito significativa.
Tive oportunidade de estar num lugar mais escuro e silencioso como nem imaginava ser possível. Foi quase uma epifania. Algo como aguçar todos os meus sentidos para algumas coisas que já estavam esquecidas aqui dentro.
Acho até que deveria ser algo para que todo o ser humano fizesse. Assim como dizem que todos devem ter um filho, plantar uma árvore e essas coisas...acho que todos deveriam visitar uma caverna algum dia.

Porque lá naquele ponto onde a luz não chega o silêncio faz zunir nosso ouvidos já saturados de ruídos... E é nessa hora que podemos descobrir o que somos de verdade.

Porque o que somos não é nosso nome, não é nosso emprego, não é nossa família nem a forma como nos apresentamos às outras pessoas.
É, claro, resultado da soma de tudo isso, mas é também uma fórmula sutil que o bombardeio de estímulos ao qual estamos permanentemente expostos não nos deixa acessar.

Nós, humanos urbanizados, temos nos habituado cada vez mais profundamente com a reprodução do ciclo "trabalhar, consumir, desejar, trabalhar, consumir" indefinidamente.
Cada vez mais nos assemelhamos àquelas pessoinhas do filme Matrix que não passam de pilha para manter o mundo girando neste ciclo idiota. 

No entanto isso não nos representa. Quero dizer, isso de desejar e consumir traz uma satisfação instantânea, mas ainda assim esta satisfação não é nada se comparada ao que podemos acessar se formos buscar do lado de dentro de nós e não do lado de fora como costumamos fazer.
O que somos de verdade está por dentro, debaixo das várias camadas de cobranças, estímulos e frustrações que esta vida nos inflige.

E é aí que vejo a importância do silêncio. Algo como desligar o que está fora para o interno se manifestar.
O que somos de verdade é o que nos dá a verdadeira satisfação. Aquela que já está em nós e só precisa ser trazida à tona.

Quando ouvi o silêncio de dentro da caverna os últimos meses da minha vida passaram como um filme na minha cabeça...por um momento achei que poderia ser um sinal de que tenho claustrofobia ou coisa do tipo. Mas quando me permiti me acalmar e ouvir aquele vazio algumas coisas emergiram.
Fui tomando consciência de cada músculo (até porque a maior parte deles estava doendo pacas!), me concentrei em minha própria respiração (nunca fiz yoga, mas desconfio que seja assim que se medita) e deixei a mente voar.

Descobri que é bem aí que mora minha satisfação.
Notei como são importantes para mim estes momentos de devaneio, de esmiuçar qualquer banalidade até fazer dela a coisa mais interessante do mundo pra mim.
Entendi que a chave é esta. Meu prazer está nesta minha imaginação fértil que faz piadas sem pé nem cabeça, que se manifesta às vezes na hora mais inadequada, mas que mesmo quando me constrange é a manifestação mais genuína do que sou e gosto.
De certa forma até explica os meus ímpetos alternantes de desejo por contato e isolamento. Esta é minha forma de coletar  material e depois trabalhar nele. Como comer um grande banquete e deitar pra digerir.

E cá estou.
Digerindo estas sensações.
A chave do que gosto de verdade de fazer: acumular informações, elabora-las e de alguma forma devolver (escrevendo, conversando, dando um sermão em alguém... tanto faz).
Ainda há de me abrir muitas portas, espero.


Aliás...e você?
Já parou pra ouvir o seu silêncio?
Qual sua chave? Qual sua porta?


(Não adianta nada saber que a resposta mais importante é 42 se você nem ao menos sabe a pergunta)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Velho ano novo, novo ano velho.



Já tem um tempo que resoluções de fim de ano não fazem muito minha cabeça. Com o passar dos anos fui vendo que esta coisa de listinha de coisas que quero fazer não surte tanto efeito quanto eu gostaria.

Agora entrei na onda do balanço e das retrospectivas. Não que isso represente algum tipo de evolução, mas se é pra se apegar, que seja a algo concreto e se há uma coisa realmente fixa e imutável  na vida, é nosso passado.

Dando uma olhadela pra trás vejo que o passado que construí em 2013...puxa vida...foi intenso e imprevisível.

No setor intelectual voltei a estudar, botei a cachola para funcionar e comecei a conhecer um mundo novo de comunicação que nem desconfiava como era fantástico e que ainda tenho muito a desbravar.

No setor afetivo me desconstruí repetidas vezes.

Me apaixonei, quebrei a cara e sofri intensamente por duas vezes. E por duas vezes tive a chance de ser reerguida por pessoas muito especiais que não me deixaram esquecer do meu valor e que me fizeram (e de um modo diferente ainda fazem) me sentir profundamente amada e confortada.

Se pudesse descrever o ano que passou em apenas uma palavra esta palavra seria: reencontro.

Reencontro com amigos antigos, amores enrustidos, com meus gostos pessoais e desejos esquecidos. Um ano de reconstrução e recomeço. Há tempos não chorava tanto em um ano, porém há tempos não dava gargalhadas tão profundas e não me envolvia tão intensamente com a vida.

Em 2014 faço 27.

Aquela mítica idade de morte dos caras fodões da música.

E só digo uma coisa: depois de 2013, se este ano quiser me levar, que fique à vontade! Não imagino que daqui pra diante vá realizar grandes coisas e estou pra mais de satisfeita com o que fui até aqui.

Não vejo o ano que se inicia como um novo começo ou essas coisas que tentam nos enfiar na cabeça em forma de esperança. Será apenas uma continuação de tudo que tem sido feito desta minha vida. Espero apenas seguir nos reencontros e manutenção de tudo o que conquistei (e já é trabalho à beça).

Pra você que me lê, uma boa sorte neste velho momento de repetir as novidades antigas que viveremos novamente.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O Carinho, o Intelecto e o Sexo - O tripé do sucesso afetivo

                Tenho ruminado já há algum tempo esta minha sensação incômoda de que sou uma pessoa sem par no mundo. E nem adianta vir me dizer que com 26 anos ainda não se viveu nada, que toda panela um dia acha sua tampa, nem nada disso. Eu tenho mesmo é me convencido de que na cozinha do mundo eu sou uma bandeja sem nenhum paninho pra improvisar.

                Por outro lado, também não posso bancar a vítima, afinal estou longe de ser uma pessoa solitária. Apesar de todas as minhas chorumelas sobre solidão e etc, não posso negar que tenho um bom círculo de convívio afetivo. Nada grudento nem simbiótico, até porque não gosto de melação. Fui criada numa família sem muitas frescuras, sem nhem nhem nhem nem muita carência. De modo geral é isto que reproduzo, mas mesmo assim sempre tem aquelas horas que bate a falta de alguém (alguém tipo um namorado, saca?).

                Então comecei a tentar decifrar por que raios minhas investidas sentimentais são tão freqüentemente desastrosas e cheguei a uma teoria.

                Recordando sobre as principais pessoas de meu histórico amoroso reparei que, se não posso dizer que algum dia fui totalmente satisfeita, também não posso dizer fui totalmente frustrada. Cheguei à conclusão que minha satisfação está sustentada por um tripé: compatibilidade afetiva, compatibilidade intelectual e compatibilidade física/sexual. Cada relacionamento que tive (seja um namoro longo ou uma ficada mais descomprometida) foi mal sucedido por se apoiar em apenas 2 (ou 1!) desses aspectos.

                A compatibilidade afetiva é aquilo que nos une aos nossos amigos, por exemplo. É aquela coisa gostosa de saber que alguém gosta de cuidar de nós e está ao nosso lado. Acho que aquela parte do discurso de casamento em que o sacerdote fala sobre estar junto “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença” etc, tem a ver com isso.

                Já compatibilidade intelectual e o que dá consistência à convivência. É o prazer mental do relacionamento. É maravilhoso sentir que nossas idéias - por mais que às vezes pareçam absurdas ou abstratas demais - são compreendidas, aceitas e até compartilhadas! Muitas vezes não damos o devido valor a este ponto, mas vejo que a longo prazo é algo de grande influência em um relacionamento.

                Compatibilidade sexual, por sua vez, é muitas vezes o gatilho de tudo. Quando isso acontece há o risco do casal virar aquela coisa mecânica de pegação 24h sem conteúdo e sem rumo [daqueles que quando a transa termina fica sem assunto]. Existem muitos casos desses por aí que estão sendo confundidos com amor, justamente porque é este o quesito que mexe com nossos sentidos, nossa percepção e nos dá uma sensação mais concreta de bem estar. Resumindo: a compatibilidade sexual com freqüência nos confunde.

                Isso faz este ponto ser, na minha opinião, o mais complexo deste conjunto. É a existência ou não deste detalhe que vai dizer se um casal é apenas amigo ou algo mais. Mesmo que não haja o coito em si [ai, que termo chulo...mas que eu adoro!...rs] existe aquele contato físico exclusivo que pode ou não acontecer a contento. Existe a cobrança social de que um casal se entenda no âmbito físico porque inconscientemente temos a idéia de que todo casal tem a função de procriar (e, pelo menos por enquanto, o modo mais comum de as pessoas procriarem ainda é pelo sexo).

                Maaaaasss...isso não quer dizer que em todo o casal que haja sexo, haja compatibilidade física. Às vezes o contato físico se torna apenas o “cumprir um protocolo social” por que a pessoa nos dá carinho e temos com ela um bom entendimento intelectual.

                   É aí que o tripé fica capenga e cai.

                Pode até parecer que sou exigente demais [talvez eu seja mesmo...], mas não existe satisfação completa se não houver um interação entre estas 3 instâncias.

                A falha que muitas vezes cometemos (pelo menos é esta a falha que notei vir cometendo desde sempre) é achar que ser atendida em apenas 2 destes quesitos bastava para ficarmos bem sem o 3°. Nenhuma combinação de 2 itens será o bastante.

                Portanto agora esta é a meta: encontrar alguém no mundo que me atenda 100% para assim viver um momento 100%. Esta é inclusive minha dica para você que está lendo este texto: não aceite nada menos que a satisfação completa. Como já disse em alguma postagem anterior: este mundo está recheado de 7 bilhões de pessoas. Alguma delas há de te atender plenamente. Tenha paciência e procure.


Boa sorte!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Capitalismo, O Bulling e o American Lifestyle

                Hoje no noticiário há mais um caso de jovem americano que entra na escola e toca o terror matando os colegas com a arma da família. O fator apontado como desencadeante desta atitude é nosso velho conhecido: o bulling.

                Entre um jornal e outro falando sobre o assunto me chamou a atenção uma das colegas do “assassino” dizendo que ele era um jovens doce, do tipo que faz os amigos sorrirem quando as coisas não vão bem.

                Acho interessante como mesmo atualmente sendo tão comum associar este tipo de atitude extrema ao bulling não se ouve discutir sobre o que estimula o outro lado da história, quero dizer, porque nossa juventude gosta de humilhar e rebaixar seus pares.

                Claro que é um ponto de vista muito particular meu e não me baseio em nenhuma teoria para fazer suposições... Mas acho que não é à toa que justamente nos EUA aconteça com tanta freqüência situações como esta. Justamente na nação que cultua uma vida plástica, metida a perfeitinha em que o valor das pessoas é cada vez mais ditado pelo que elas possuem.

                Vejo no tal “american lifestyle” uma eterna corrida para se encaixar ao padrão de consumo imposto pelo capitalismo vigente. Você precisa ser o descolado, consumir as marcas e produtos da moda, frequentar determinados lugares e ter as atitudes impostas pelo padrão “filmes-adolescentes-de-sessão-da-tarde”. Todos os que não se encaixam neste padrão são desviantes, hostilizados... Deixam de fazer parte da massa respeitada e admirada, tornando-se assim “merecedores” da exclusão.

                Simples assim. Quando não vejo no outro meu semelhante não me sensibilizo por ele e faço da sua derrota a minha vitória. Desumanizo o ser humano com quem convivo e por quem não aprendi a nutrir afeição.


                Quem já se sentiu excluído alguma vez sabe que não é fácil. Seja quando nos sentimos diferentes em nosso modo de vestir, falar ou pensar. Seja por não ser chamado à uma festa em que todos os amigos estarão. Seja por não ser ouvido em alguma conversa... O sentimento de estar à margem dói e a cada geração que passa ficamos menos preparados a lidar com este tipo de frustração.

                A saída?

                Às vezes parece ser entrar armado em nossa escola, matar aqueles que nos fazem sentir mal e em seguida botar fim ao nosso sentimento de exclusão.

                Enquanto notícias como esta nos fizerem apenas pensar na culpa da vítima (o assassino humilhado que foi à busca de vingança) nunca combateremos o verdadeiro mal: nossa cultura individualista que acha divertido fazer das fraquezas alheias motivo de piada afim de reafirmar nossa “superioridade”. Não podemos mais fazer de nossos semelhantes os degraus da escada de nossa auto-estima.

Um dia Bob Marley falou que “enquanto a cor da pele valer mais que o brilho dos olhos, sempre haverá guerra”.


Eu adaptaria para algo como “enquanto o que a pessoa possui e aparenta ser for mais importante que sua essência e seus sentimentos, sempre haverá bulling e assassinatos em escolas”.