quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O dia que acordei feia

Não que eu seja linda. De forma alguma. Mas no geral também não sou horrorosa.

Sou daquelas café com leite que acorda baranga, se ajeita pra ficar aceitável e eventualmente (em ocasiões especiais em que os planetas chegam num alinhamento específico) posso até ser chamada de linda.

Na infância eu bem que poderia ter sido capa da revista crescer (bochechuda, cabelão liso bem comprido e pretinho. Uma graça). Na adolescência estava meio que cagando e andando com os padrões porque estava ocupada demais mergulhada no meu mundo interior desenhando, lendo, procurando bandas novas pra ouvir etc.

 

Fato é que minha infância é uma época já longínqua, a adolescência passou faz tempo, e a fase adulta não tá tão bem resolvida quanto eu esperava que seria.

 

Hoje acordei e não gostei da pessoa que me encarou do espelho.

 

Acho que já não estou mais tão cagando e andando pros padrões afinal, e o senso comum me pegou de jeito.

Não me acho mais um poço de inteligência e muito menos (MUITO MENOS) de beleza.

Parece que finalmente a tenacidade do raciocínio e a sagacidade da inteligência deram espaço a um grau mais acentuado de futilidade.

Se antes atender ao padrão estético da sociedade era lucro, hoje, por mais que me doa admitir, é uma necessidade para a auto estima. Já não me garanto mais apenas na riqueza do meu mundo interior e isso é uma tragédia. Uma grande tragédia.

 

Por que no dia em que nos rendemos ao que nos é imposto (aquela vida de novela das 20h ou de filme de sessão da tarde) fica decretado um estado permanente de frustração. Vamos combinar que este padrão que somos educados a engolir é beeeemmm complicado de alcançar, ne?

 

Uma pessoa esses dias me perguntou se este sentimento de frustração (com a própria aparência e desempenho na vida de maneira geral) tinha cura.

E sinceramente não consegui não ser muito otimista. Por todos os recursos que existem hoje e nos permitem xeretar na vida alheia imagino que não se frustrar é só para os fortes.

Estamos o tempo todo de olho da felicidade e sucesso alheio por meio de Facebooks, Instagrams, Whatsaaps etc.

Isso significa que você (você que neste momento me lê e eu mesma) é a pessoa mais fodida do mundo enquanto todo o resto da humanidade vive uma festa? Claro que não né! Mas esta compulsão geral de não dar um sorriso sem postar numa rede social nos legou o fardo da obrigação de estar sempre bem, sempre lindo e sempre bem sucedido (como se fosse a missão mais simples do mundo).

 

Essa facilidade de auto exposição nos tornou um tanto mais fúteis, mais preocupados com o que ostentamos pra fora do que o que trazemos por dentro.

Falando bem cruamente, eu acredito que uma coisa alimenta a outra. Não há como negar que quando estamos confiantes com o que apresentamos por fora (nossa aparência) recebemos um gás extra de autoestima que se reflete em encanto pessoal no contato com as pessoas. E o inverso também acontece: quando estamos cheios de nós mesmos (com um bom fluxo de pensamento e ideias novas rolando na cachola) esse brilho de dentro transborda pelos poros e é capaz de tornar qualquer barango num príncipe.

(Difícil acreditar? Mas aposto que alguma vez na vida já conheceu uma pessoa feia de doer, mas que de tão simpática vivia cercado de admiradores. Pois então. É o brilho de dentro transbordando!)

 

O triste é que cada vez mais a disputa entre o valor de dentro e o valor de fora tem se tornado desigual, e as pessoas – sabedeusporque –  tem ficado meio cegas ao brilho de dentro. O resultado é uma cobrança cada vez maior sobre o que não conseguimos controlar.

 

Minha dica pra abrandar o coração de toda esta angustia moderna?

Olha, não é tão simples na prática quanto na teoria...mas há que se voltar pra dentro um pouquinho. Porque a única coisa que de fato nos pertence está guardada na mente e é inegavelmente mais fácil evitar o empobrecimento do espírito do que o envelhecimento do corpo.

Os anos passam e a beleza se desgasta. Pra uns mais cedo e pra outros menos, mas como diz meu pai: Janeiro chega pra todo mundo! (Quando você começou a ler este texto era mais jovem do que é agora. Já parou pra pensar nisso?)

A beleza intelectual, por outro lado, fica mais apurada e encantadora a cada dia que passa, em cada frustração, cada conquista e cada nova experiência de vida, seja ela boa ou ruim. E que fique claro que quando uso a expressão “beleza intelectual” não me refiro a conhecimento acadêmico, mas àquele conhecimento que só a vida pode dar.

Cada ruga, cada quilo, cada ano adquirido traz consigo um pequeno tesouro. Um tesouro que não sai nas fotos e que não é tão fácil postar nas redes por aí...mas que quando encontrada nos dá a maior satisfação de todas: a satisfação da alma.

 

Daqui a pouco vem ano novo chegando e uma coisa que posso afirmar com 100% de certeza é que chegaremos lá mais velhos e com menos tempo de vida pela frente.

Portanto é questão de qualidade de vida fazer uma forcinha e resgatar o que realmente vale a pena.

Por fora não sei...mas por dentro todos podemos ser cada dia mais lindos!

 

Um lindo 2016 (17, 18, 19, 20...) para nós J

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Complexo de Culpa


Durante os 2 superprodutivos anos em que estive em terapia (e amadureci muito) perdi as contas de quantas vezes ouvi a expressão “maldição da herança judaico-cristã”. Pois é. Era assim que meu sábio terapeuta chamava esse sentimentozinho que nos definha por dentro vez por outra: a culpa.

 

Claro que antes de partir de um ponto de vista radical, vale a pena pensar sobre as possíveis intensidades da culpa. Uma coisa é admitir nossos erros e ter a humildade de se responsabilizar pelas falhas e nos comprometermos honestamente a melhorar. Outra bem mais perigosa e devastadora é nos entregarmos ao martírio e à ruminações mentais sem futuro.
Moderação é sempre bom.

 

Me peguei pensando sobre isso ao ler um texto muito bonito em outro blog.

A ideia era propor uma reflexão sobre as exigências que fazemos ao parceiro em um relacionamento. Sobre todas as vezes que exigimos algo e não retribuímos à altura.


Daí comecei a refletir num processo contrário...
E nos casos em que há uma cobrança a si mesmo? Quando o outro nos oferece muito e existe um sentimento constante de dívida e o curso das brigas do casal (ou não apenas falando de casal, mas em qualquer contexto) tornam-se não mais “a culpa é sua”, mas sim “a culpa é minha”?

Será que um excesso de autocomiseração e remorso garante que se viva em paz?

 

Não pretendo responder de fato a esta pergunta, até porque eu mesma me sinto num processo constante de descoberta sobre isso. Porém tendo a achar que até humildade demais é nocivo.

 

Uma das grandes lições que aprendi nesses fatídicos 2 anos terapêuticos foi a fazer uma troca importante: a da “culpa” pela “responsabilidade”.


É simples, mas de efeito magnífico. Todas as vezes em que usava o termo “culpa” era instruída a repetir a frase trocando o termo por “responsabilidade”.

E por incrível que pareça faz diferença!
Quando pensamos em culpa estamos voltados ao leite derramado. Ao mal já feito e irreversível.

Responsabilidade, por outro lado, conota um ato em construção, algo com que você está comprometido. É um termo que carrega em si uma positividade.

Sem contar que culpa é algo que se sente sozinho enquanto a responsabilidade pode ser partilhada.

 

Ser responsável significa literalmente responder. E entre tantas coisas na vida pelas quais respondemos estão os nossos atos, escolhas e nossa plenitude. E sabe de uma coisa? Corroer-se por dentro pelas mancadas passadas é uma opção, mas focar no futuro e chamar no peito a responsabilidade de melhora tem muito mais chances de gerar satisfação do que o auto-flagelo.


Portanto, quando disser a si mesmo “a culpa é minha”, pense de novo, reflita e corrija para “a responsabilidade é minha, o que posso fazer para melhorar isso?”.

Liberte-se.

domingo, 12 de julho de 2015

Pessimismo não é realismo, bebê!

Palavra de ex pessimista. Me creia... Com o tempo a gente aprende que realismo e pessimismo são totalmente diferentes.

Por mais que nós pessimistas tenhamos a ilusão de sermos fodões e mais prevenidos que a maioria dos mortais, a verdade é que nunca conseguiremos dar o "pelé" na vida...não podemos enganar as situações para estar 100% preparados para o que vier.

Resumindo: não adianta esperar o pior acreditando que assim ficará blindado contra frustração quando a desgraça finalmente acontecer, porque você NUNCA vai estar de fato preparado. Por mais que aconteça exatamente a desgraça que você antecipou, você não vai sofre menos porque você estava esperando. Muito pelo contrário. Você irá sofrer em dobro: antes e depois.

Então aprenda: a vida vai sempre te surpreender com formas muito mais terríveis e cruéis de te fazer sofrer e beijar a lona. Mas, calma! Pois também é verdade que irá igualmente te surpreender com coisas muito mais maravilhosas do que você imaginava que seria possível e diversas versões novas e inusitadas de felicidade.

Se você fica esperando o que é ruim você não goza da felicidade e de quebra você ainda vive o sofrimento em dobro quando ele se concretiza. 

Aí eu te pergunto...
Vale a pena?
É funcional?
Te faz crescer?

Acho que não.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O sexo salvou o amor, mas o erotismo matou o prazer

A boa e a má notícia: sim, o amor está vivo e foi o sexo que o salvou. Mas aí veio o erotismo e acabou com o sexo.

Parece incoerente? Mas se pararmos pra pensar, nem tanto.

Houve um tempo em que fingia-se amor apenas na pretensão de ter acesso ao sexo.
Se você for muito jovem talvez nem acredite, mas tempos atrás as damas e rapazes apenas tinham iniciação na arte de Vênus após contrair o matrimônio (aliás, eu morro de rir o termo “contrair matrimônio”...parece que a pessoa pegou uma doença grave...rs). Contato físico e sentimento deveriam estar diretamente ligados e todos eram obrigados a encontrar ambos sempre na mesma pessoa (resumindo, se você ama alguém deve transar com ela. Ao mesmo tempo, se você deseja alguém também deve amá-lo). Acontece que muitas vezes não é esta a lógica.

Em algum momento a sociedade passou aos poucos a aceitar isso como uma regra que nem sempre se aplica (um salve especial aos hippies e seu conceito revolucionário de amor livre). O corpo se libertou e os corações deixaram de se obrigar a amar de maneira forçada e artificial um objeto de desejo.

Hoje finalmente as pessoas se permitem testar o amor e suas formas, o desejo e suas diversas manifestações. Acredito que para quem é de fato comprometido com sua própria felicidade o contexto ficou propício para escolhermos melhor aquela pessoa especial para nos acompanhar pela vida toda (ou, até, se for o caso, decidir que prefere passar a vida sem ninguém). Podemos testar o efeito de pele, de carinho, de desejo e parceria com mais de uma pessoa, sem que esta decisão seja tomada às pressas ou sob pressão social (ufa!).

Pode até parecer que foi uma super evolução. E talvez tenha sido mesmo por algumas décadas. Mas o tempo passou e os valores se inverteram num grau que imagino que jamais tenha passado na cabeça nem do mais liberado jovem dos anos 60.

Hoje somos inundados de erotismo e quase tudo remete ao sexo (não gosto nem de pensar que hoje tem criança de 9 anos dando aula de putaria...). Desempenho sexual (e uso o termo desempenho mais por hábito do que por achar que essa galera mande bem de verdade) virou algo a ser ostentado, exibido e cultivado em quantidade (medo!). Banalizou.

Quero que fique claro que não sou pudica nem acho que temos que guardar nossa virtude para um príncipe, mas também não acho que devemos usar o sexo como ferramenta de auto-afirmação como tenho visto por aí. Vejo as pessoas cada vez mais se obrigando a serem sensuais o tempo todo e não acho isso saudável (conheço meninas que simplesmente desaprenderam a sorrir e hoje só sabem mostrar a língua e fazer bico nas fotos). Vejo caras comprometidos (e bem em seus relacionamentos) cultivando a possibilidade de uma foda extra-namoro como quem cuida de uma plantinha apenas porque querem mostrar aos amigos que “cachorro amarrado não está morto” ou que “a carne fraca” ou provar a si mesmo que ainda são capazes de despertar desejo em alguém (como se apenas suas companheiras não bastassem...aliás, estou falando aqui do comportamento de homens porque meu ponto de vista é o de uma mulher que já foi assediada muitas vezes por caras comprometidos, mas isso também vale para mulheres!).

Aí me pergunto se talvez isso não seja um puta passo para trás. Porque se o erotismo fica banalizado o frio na barriga morre. O contato físico perde o valor.

Antigamente usávamos o termo química para explicar quando um casal se entendia (na cama e na vida como um todo). Agora sinto que a química está sendo substituída pela mecânica. Temos acesso à pornografia com mais facilidade que nunca (e viva o whatsapp!) e a paranoia com o tal desempenho é tanta que deixamos de ouvir nosso corpo e de prestar atenção no que gostamos, no que queremos...me apavora a idéia de que a mesma menina que se esfrega em deus e o mundo nos “fluxos” da vida provavelmente nunca parou para se masturbar e descobrir seu corpo e como ele funciona.

O erotismo matou o prazer do sexo. E agora?!


Já ouvi músicas que são quase um manual sonoro da sacanagem, mas um manual extremamente cheio de buracos, pois considera corpo, movimento e detalhes físicos...mas não considera que dentro de cada corpo tem um sentimento (e não, não é pra soar romântico, e sim realista), tem uma fantasia uma expectativa. Podemos seguir todo o ritual de bucetas e picas e outras coisas, mas apenas isso nunca bastará para uma boa experiência (esperar isso seria duma inocência e inexperiência ímpar!). Não devemos idealizar demais o sexo, porém o precisamos aprender que a satisfação com ele dependerá do quanto a gente se permite se conhecer (como nosso corpo funciona, quais nossos limites e principais vontades) e que o prazer de cada um é diferente e não deve ser visto como um show a ser exibido, por que é um tesouro para ser desfrutado na intimidade.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A droga do amor

Me perdoem os amantes de literatura infanto-juvenil por ter usado o título deste clássico do Pedro Bandeira para dar nome pro meu post, mas foi o melhor que me ocorreu.

O amor é um mistério, um desafio, uma coisa rara e, muitas vezes, uma droga. Porque, como dizem: "O amor não é aquilo que te deixa bobo e rindo à toa. O nome disso é maconha. O amor é outra coisa." (tu-dum-tizzz!)

Piadas à parte, embora pareça que o objetivo seja tratar este sentimento tão complexo de maneira negativa, não é bem isso. Quero apenas lançar um olhar racional e porque não dizer "científico" sobre ele.
Amanhã é dia dos namorados. Casais planejam comemorações, apaixonados silenciosos pensam em se declarar, rejeitados amargam suas carências...e eu escrevo.

Escrevo porque pela primeira vez na vida não sei em qual desses grupos me encaixo e comecei a me remoer tentando entender o que é isso que as pessoas chamam de amor.

Digo "as pessoas" porque sei muito bem que o amor que eu idealizo não existe. O amor que eu idealizo é aquela relação positiva de querer bem, de gostar de cuidar, de poder se divertir, ser honesto, transparente e generoso sem ameaçar o vínculo com quem amamos. É uma partilha plena de vida e de valores. (E isso vale para relacionamentos em instâncias que transpõe a vida de casal e que também deve existir entre amigos, familiares, colegas de trabalho etc).

Porém o que vejo sendo chamado de amor é simplesmente a possibilidade de posse de outra pessoa. Muitas vezes vejo casais estendendo relações desastrosas porque não aguentariam ver seus parceiros com outras pessoas. Não se permitem abrir mão da posse do outro e em nome disso abrem mão da possibilidade de uma vida mais plena, porém solitária.
(Só pra mim isso não faz sentido?)

Digo que o amor é uma droga, não por achar que seja ruim, mas porque tal como acontece com as drogas de todos os tipos: com o tempo vamos precisando de doses cada vez maiores para sentir o mesmo "barato".
Conhecemos alguém, nos apaixonamos e, no início, apenas algumas horas com esse alguém nos mantém em estado de êxtase por dias. Aí o tempo passa e quando notamos todas as nossas horas estão voltadas para esta mesma pessoa e o tal estado de êxtase se torna progressivamente mais raro.

E é engraçado, mas por coincidência "veneno" e "amor" são palavras intimamente relacionadas, afinal VENENO vem do latim VENENUM: “substância tóxica, veneno”, originalmente “remédio, poção”, possivelmente também “poção de amor”, ligada a VENUS: “amor, desejo sexual”. (estas informações foram coletadas de fontes aparentemente confiáveis deste site. Caso esteja dizendo alguma bobagem -o que eu não estranharia...rs- e algum linguista deseje me corrigir, favor me fique a vontade!)

Então cuidado, crianças... Amanhã o mundo te pressionará para que você tenha alguém, que ame. Mas só faça isso se for sadio. Cuidado para não se intoxicar de ninguém.
E um feliz dia dos namorados a todos!
*Aprecie com moderação*

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Quando o fim se aproxima

Aquela hora que parece que o fim chegou ou está quase...
Respiro. Penso: "se não se começa de uma hora pra outra, porque então o fim precisa ser de repente, no seco, sem nenhum preparo?"
Mas o fato é esse aí mesmo. A conquista é um processo que leva tempo, mas na hora de acabar esperamos que aconteça rápido.

A coisa apaga e daí alguém levanta a questão: "Acabou?" "Separa?" "Tenta ficar junto um pouco mais?"
Mas nunca deixamos o fim se estruturar dentro de nós quando fizemos quando tudo começou. Não permitimos um processo de "desconquista".
A desconquista dói quando perdemos algo que foi bom e ficou ruim. E talvez doa mais ainda quando perdemos algo que era bom, mas parou de funcionar (ainda que não tenha necessariamente deixado de ser bom).

Há que se pensar no que foi bom, no que foi ruim, no que dá pra melhorar e o que não dá.
O tempo leva embora uma bela parcela da tolerância e aquelas pequenas diferencias e incômodos  que eram bem administradas vão ficando gradativamente maiores.

Chega a hora de chafurdar em cada sentimento e analisar com toda racionalidade disponível ao homo sapiens os detalhes técnicos.
Ahhh...os detalhes técnicos são os piores!
Contar pra família e pros amigos. Explicar pra todo mundo que já vê os dois como uma única entidade que as coisas mudaram.
E aí reestruturar os hábitos: não ter mais companhia pra dormir, pra viajar, pra contar as novidades ou pedir ajuda nas madrugadas.

Putz! O fim dá trabalho!
Há que se pensar...



domingo, 3 de maio de 2015

Desejamos sempre mais do que necessitamos

Às vezes pode ser sutil de um modo que nem percebamos, mas, no geral, estamos o tempo todo atrás de mais do que precisamos.

E não me refiro apenas às questões financeiras. Ok, o mundo é capitalista e então a gente trabalha e trabalha para ganhar dinheiro para poder possuir coisas, não temos por onde fugir disso.

Mas não é só quando o assunto é grana que as pessoas estão atrás de mais quantidade do que o necessário.
Por exemplo: eu vejo que as pessoas ficam carentes não porque elas não tem carinho ou não tem amigos, mas sim porque elas gostariam de ter ainda mais amigos e carinho do que elas já tem. Tiramos o foco da qualidade para sofrer pela quantidade.
E na verdade eu acredito que não precisamos de muito.
Quando paro para pensar nos itens necessários para uma vida plena, com paz e realização eu entendo que menos é mais.
Não é necessário ter um milhão de amigos, como queria o Roberto Carlos. Basta ter poucos bons amigos. Se você tiver apenas um bom confidente (alguém que você realmente confie e com quem se se sinta à vontade) então você já tem o suporte necessário para desabafar e se manter em equilíbrio.

Quando saímos pra nos divertir não podemos medir o sucesso da noite apenas pelo volume de álcool que ingerimos ou pela quantidade de pessoas que "pegamos". Claro que tudo faz parte, mas não quer dizer que quanto mais você bebe ou mais você fica com várias pessoas diferentes, maior será seu grau de satisfação.
Creio que a satisfação seja aproveitar o que a vida nos oferece ao máximo, dentro de um limite.
Beber na medida de ficarmos mais descontraídos, divertidos e à vontade, não de passarmos mal. Não é uma relação diretamente proporcional, de que quanto mais a gente beba e quanto mais a gente fique com várias pessoas melhor terá sido a noite. Pode até existir (e com certeza existe) quem calcule as coisas a partir desta lógica, mas acho isso muito raso.

É claro que se saber desejável e sedutor é uma das sensações mais prazerosas que existe, mas também não dá pra passar a vida toda correndo atrás do prazer desta forma. Não precisamos todos os dias conquistar alguém ou cativar cada vez mais seguidores e admiradores.

Eu sei o quanto é brega e clichê essa coisa de dizer que "o bom homem não é aquele que conquista várias mulheres, e sim o que conquista a mesma mulher várias vezes", mas não dá pra negar que não haja um fundo de verdade nisso.

Ninguém consegue viver a vida inteira acumulando quantidade. O segredo da satisfação é aproveitar bem o que você já conquistou, e não querer acumular coisas (sejam afetos ou bens materiais).

Aliás, reforço que faço questão de usar o termo "satisfação" e não o termo "felicidade". Já citei em vários outros textos o quanto acho uma bobagem querer ostentar felicidade a todo custo. Concordo com o fofo do Abujamra [e fiquei de coração partido essa semana com a morte dele] quando ele diz que não devemos nos preocupar com o sucesso, pois o fracasso é muito mais interessante de se ver.
Precisamos saber aproveitar os fracassos e os sucessos para podermos gozar de uma coisa e de outra. Precisamos aprender a tirar proveitos das merdas e das conquistas.

Então, anote a dica de hoje: pare de olhar para o lado e ver quanta gente existe que está ganhando mais que você, quanta gente é mais bonita, gostosa ou descolada que você...quanta gente tem conquistas mais interessantes que você e faz festas com mais convidados que você. O que importa na verdade não é isso, não é o comparar-se. Não se preocupe com o acúmulo, preocupe-se com o desfrute das coisas. Apenas se permita aproveitar tudo o que você tem da forma mais gostosa e foda-se o que não te pertence!



quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Tudo o que morre fica vivo (cemitério na cabeça PII)



Desde sempre me encanta esta música, mas só recentemente fiz uma associação entre ela e uma dessas frases batidas que ouço com frequência: A vida é feita de escolhas.

Fiquei refletindo depois de uma conversa qualquer que, se é fato que a vida é feita de escolhas, e se, como diz o ditado, para cada escolha há uma renúncia, então podemos concluir que a vida é feita de renúncias.

Pensar nisso me causa uma enorme frustração. Afinal nunca fui muito adepta da arte do sacrifício. Tenho muito mais o perfil de quem quer se organizar para viver todas as experiências possíveis pra vida.

Mas em algum momento a ficha cai e o tempo nos mostra que as coisas não são bem assim.

Penso no conceito de renúncia como uma “não possibilidade”, algo que nunca será. É uma espécie de morte das demais opções possíveis. A morte de algo que poderia ter sido, mas não é (nem jamais será).

Me lembro que há muito tempo atrás confessei a uma pessoa que frequentemente me pegava a imaginar como minha vida poderia ter sido se eu tivesse feito algumas pequenas escolhas de forma diferente.

Ela me respondeu que se eu não experimentasse nunca saberia. Que de “e se” em “e se” eu deixaria minha vida passar sem viver de verdade.

E por simples (e até óbvia) que tenha sido a ideia, isso me influenciou de uma maneira que esta pessoa jamais saberá. Os impactos desta influência se faz sentir na minha vida até hoje.

A filosofia do Carpe Diem e do “vamos fazer o máximo de coisas para curtir vida” foi o lema da minha existência desde esta fatídica conversa. Por isso mesmo, acordar para a ideia de que é impossível “zerar” as possibilidades do jogo da vida, e de que viver consiste em abrir mão de coisas o tempo todo, fere profundamente uma parte de mim.

Cada frustração, cada escolha, cada possibilidade não vivida e cada capítulo de nossa história que fica para trás, não fica para trás de fato, mas nos persegue e influencia. Vão se acumulando e nos moldando independente de nossa vontade. É nosso cemitério particular.

Viver não é apenas a arte da escolha, do sacrifício e da convivência com o outro. Também é um exercício de maturidade para convivermos com nossos próprios calos. Não se pode mudar o que já passou. Como diz o ditado: águas passadas não movem moinhos. Da mesma maneira, não se pode mudar o passado do outro com quem convivemos. É necessário aceitar que cada um de nós é uma espécie de saco de “defuntos mentais” ambulante.

Precisamos aprender a lidar com as consequências das feridas do próximo e compreender que algumas vezes seremos nós a sofrer as consequências das ações de terceiros no passado de quem amamos.

Quanto mais intensa a vida, mais escolhas. Quanto mais escolha, mais renúncia. Quanto mais renúncia, mais passado. Quanto mais passado, maior a necessidade de aceitação do outro e resiliência.

Ou, como disse Gustave Flaubert: "Que grande necrópole é o coração humano! Para que irmos aos cemitérios? Basta abrirmos as nossas recordações; quantos túmulos!".

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

É no balanço deste fim de ano

No primeiro texto que postei este ano fiz uma retrospectiva de tudo que me ocorreu em 2013. E tinha coisa pra lembra! Eita!

Revisando as expectativas que tinha e o ritmo frenético em que vivia aqueles dias, posso dizer que, apesar de tudo que ocorreu, 2014 foi um ano brando. Até porque este ano teria que suar muito a tanga pra ralar com ano passado.

Mas também não tenho muito do quê reclamar. Arrumei emprego novo, fiz amizades novas, conheci alguns lugares diferentes, tirei a bendita carta de motorista (finalmente!) e faturei até um namorado, vejam só!

E na retrospectiva deste fim de ano concluo que, como diz meu pai, janeiro chega. O tempo passa e as coisas mudam independente de nossa vontade. E isso não é bom, nem é ruim. É apenas um fluxo, e essa coisa toda de estar “de bem com a vida” consiste no nosso poder de adaptação aos fatos.

Desejos para o ano que entra eu tenho muitos. Mas fiz um trato com 2015: não prometerei nada grandioso para ele e ele não me decepcionará.

E que o balanço desse vai-e-vem de folhas de calendário que me aguarda tragam boas novas! Amém!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A vida e o tomate seco – sobre o direito de ser [in]feliz


Não, não e não. Esse não será um texto de apologia à tristeza, por mais que o título dê esta impressão.

Apenas andei refletindo sobre minha resistência em ter uma felicidade efusiva e escandalosa como a que parece estar na moda hoje em dia.

Sempre fui discreta, contida e desconfiada. Principalmente quando o assunto é felicidade. Por mais que tenha gente que fale em felicidade plena, eu acho que plenitude de verdade não tem nada a ver com um sorriso no rosto 24 horas por dia. Sempre acreditei num mundo baseado em opostos, defendo o conceito do Yin e Yang até debaixo d’agua. Acho que só existe o belo contraponto ao feio, só existe o bem em contraponto ao mal, o frio em contraponto ao calor, o amor em contraponto ao desprezo e, logo, a felicidade em contraponto à tristeza.

Por isso mesmo creio que não existe nem felicidade nem tristeza plena (igual o ditado que diz que não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe).

Acontece que vivemos a era da “Felicidade à todo custo”. O que eu creio, de verdade, ser duma babaquice e pobreza infinita. Afinal, se eu não me permito chafurdar na lama da tristeza vez por outra, como saberei de fato se sou feliz? Já dizia Vinícius de Moraes: Senão, é como amar uma mulher só linda. E daí? Uma mulher tem que ter qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade(...)” [samba da Bênção – Vinícius de Moraes]

E mesmo assim toda vez que abro meus e-mails, confiro o feed de notícias do facebook ou comento com alguém que algo na vida vai mal, sou inundada por um discurso simplista do tipo “O importante é não se abater, pôr um sorriso no rosto e seguir como se nada de ruim te atingisse”.

NÃÃÃÃÃÃOOOOO!!! Definitivamente não!

Felicidade pra mim é como o tomate seco. Uma delícia! Mas se exagerar acaba sufocando os outros sabores e empobrecendo a receita.

Portanto é essa a bandeira de hoje: se permita ser infeliz! Sofra! Chore! Se esparrame em tudo o que deu errado! Depois, quando a vida lhe sorrir de novo, você como ela conseguira ser mais colorida do que parecia antes!
 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Moleques que pegam gostosas e os erros nossos de cada dia

Estava eu numa tarde qualquer zapeando na internet e fuçando os links compartilhados do facebook quando dou de cara com uma imagem. Era a foto de um menino de uns 13 anos dando “uns pega” numa gostosa peituda de pelo menos 19.

Ok. Blz.

Achei aquilo meio estranho, nojento e quase constrangedor. Aí resolvi, como quem não quer nada, dar uma conferida nos comentários, porque normalmente nessas notícias de “inutilidades internéticas” a parte mais legal/interessante/engraçada fica por conta da manifestação popular e achei que esta seria uma notícia promissora no quesito “comentários bizarros”.

Não deu outra. Tinha gente falando que era um absurdo, que era nojento, que “como assim o menino que nem piroca tem ainda tá pegando uma mulher dessas?” e blá blá blá. Então um dos comentários me chamou atenção. Não cheguei a reparar se vindo de uma menina ou de um cara, mas era mais ou menos assim: “Tem que fazer isso mesmo! Deixa o menino pegar quem ele quiser! Melhor ele fazer isso do que estar na rua usando drogas ou estar cometendo algum crime”. (risos...ou talvez uma cara de tela azul do Windows seja mais adequada...)

Quem foi que disse que a vida consiste simplesmente num jogo de opções?

Não quero fazer nenhuma avaliação se o menino tinha que pegar a gostosa ou não tinha que pegar a gostosa. Até porque, se estavam os dois se pegando é porque estava todo mundo feliz e não é da minha conta.

Mas aí me lembrei de um diálogo mais ou menos parecido que tive com uma conhecida minha que rói muito as unhas. Uma vez perguntaram para ela “Porque você rói as unhas? Sua mão fica tão feia! Você não deveria fazer isso”. E a resposta dela foi “Acontece que eu fui fumante, se eu não roer as unhas voltarei a fumar. Você prefere que eu roa as unhas ou fume?”.

Sinceramente achei isso uma puta duma chantagem sentimental barata. Quer dizer então que agora as pessoas são obrigadas a aceitar que façamos uma coisa errada para que evitemos fazer uma coisa mais errada ainda?!

Ah, vá!

Pra mim essa teoria é tão furada quanto uma pessoa que justifica o seu erro com base no erro dos outros. Tipo “não é errado eu furar uma fila ou burlar alguma regra que me desfavoreça se tem tanto político corrupto nesse país”.

Minha opinião: E daí que tem uma pessoa que faz uma coisa errada menos errada que a sua?! Isso não vai fazer a sua coisa errada se tornar certa, me desculpe!

domingo, 26 de outubro de 2014

As Dificuldades do Amor

Essa madrugada eu recebi uma mensagem de uma pessoa dizendo “Eu te amo”.

Não era de parente nem do namorado. Era uma amiga me incluindo numa dessas correntes sentimentais de WhatsApp.

Sorri por dentro e respondi com carinho. Comecei a puxar da memória as pessoas que amei e as pessoas que amo... As que já se declararam para mim e as para as quais me declarei...

Nunca disfarcei como é difícil pra mim o afeto de maneira geral.Nunca consegui esconder minha inabilidade em dar carinho e em cuidar. Mesmo que estas sejam tendências minhas.

Lembro de uma vez em que um amigo me contou que costumava retirar o salário quase todo da conta bancária no dia do pagamento. No dia pensei no risco que ele corria de ser pego numa dessas “saidinhas de banco” e morrer baleado. Não hesitei em passar um sermão “daqueles” chamando ele de burro irresponsável e insistir que era muita ignorância fazer uma coisa dessas com todas as possibilidades de transações  eletrônicas disponíveis hoje em dia. Ele ouviu atônito e respondeu: “Tá certo. Vou lembrar disso mês que vem. E apesar da bronca eu gosto do jeito Nadia de cuidar”.

E eu vi que era isso aí. O que ele quis dizer com a expressão “jeito Nadia de cuidar” era que eu era estúpida, mesmo com as melhores intenções.

Cresci numa família dura e conto nos dedos as vezes em que as palavras “eu te amo” foram ditas em casa (aliás, nos dedos de uma mão...e ainda sobram). A consequência disso é que simplesmente não sei o que fazer pra entregar meu amor. Manifestações de carinho me constrangem e me inundam duma sensação de desconforto.

Tipo quando a mãe da minha amiga morreu e ao invés de telefonar ou comparecer eu me limitei a chorar minha falta de tato na terapia, mandar um recado no face e corroer a culpa por não ter feito nada mais além disso. Ou quando meu primo foi assassinado e eu não sabia o que dizer para a irmã dele quando ela foi em casa semanas depois. Ou ainda quando minha super amiga amada perdeu o filho esperado com tanta expectativa e eu não soube dar mais que um sorriso amarelo quando nos encontramos (e olha que o bebê perdido seria meu afilhado).

Li em algum lugar uma vez que amar é admirar com o coração e que admirar é amar com o cérebro.
De certa forma acho que é isso que me afasta das pessoas que amo. No fundo queria ser um pouco mais como cada uma delas e me sinto indigna ante a grandeza delas. Quando a mãe, o filho ou o irmão de alguém que amo morre eu penso “Caralho! Essa pessoa tem a força de Zeus pra não surtar. Eu não seguraria a onda com 10% da dignidade”.

Invejo algo de cada pessoa que amo: a beleza, a simpatia, a inteligência, o carisma...enfim. Pra mim afeto e admiração andam de mãos dadas é por isso mesmo às vezes me afasto das pessoas que mais gostaria de manter próximas. Fico do lado de cá pensando que pessoas tão incríveis não devem sentir falta de alguém assim tão pequeno e desinteressante como eu. Como se pensasse que as qualidades das pessoas ás tornassem autossuficientes e indiferentes às minhas próprias qualidades.


Mas quando me chega uma dessas mensagens inesperadas eu vejo a verdade. Que toda qualidade foi feita para se complementar com as do resto do mundo e, por um segundo, me permito retribuir e me livrar do carinho não entregue.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Aquela arrogância que me dá a cada 2 anos

Neste final de semana acontecerá o grande evento da democracia brasileira. É hora de ir às urnas manifestar nosso desejo de cidadãos optando pelo candidato que acreditamos estar mais conectados com nossos valores, pessoa na qual depositaremos a imensa responsabilidade de nos governar e blá blá blá...

Mas eu particularmente não estou nem aí. Ou pelo menos eu tento. Já não é de hoje que minha fé na sociedade, no poder da democracia e sobretudo no discernimento das pessoas para uma escolha tão grande se esvaiu.

É lamentável, mas devo admitir que o único sentimento que de fato me acomete nesta época é a arrogância. A cada 2 anos tenho oportunidade de revisitar uma das épocas mais ingratas da minha vida: minha idade escolar (com destaque à tudo o que aconteceu até o primeiro colegial).

Se você não me conheceu durante a vida toda deixe-me traçar um quadro geral. Dos meus 7 aos meus 16 anos fui um legítimo peso morto social. Quase não tinha amigos, era um desastre nos esportes, meus movimentos eram de um total desengonço, minha pouca beleza era eficientemente encoberta pela minha total falta de estilo e, como se não bastasse, eu cometia o pior pecado de todos para esta faixa etária: eu gostava de estudar. De verdade.

Considerando tudo isso não é difícil imaginar que além de não ter muito carisma eu era até certo grau “rejeitada”. Não que sofresse bulling ou essas atrocidades todas que andam na moda, mas é que, além de ser completamente impopular, eu era friamente hostilizada pelas garotas mais legais, bonitas e “badaladas”.

Estou longe de ser uma pessoa traumatizada (apesar de todo o teor dramático da descrição acima). Ainda gosto de estudar, ainda sou péssima nos esportes e ainda sou desengonçada. Minha pouca beleza já consegue ser aprimorada com o mínimo de bom senso e conquistei amigos fodas que não troco por nada <3>

Sinto de verdade que o tempo me fez bem e não tenho nenhuma nostalgia dos tempos de escola. Sou hoje sem a menor sombra de dúvida uma pessoa muito mais segura e interessante. Resumindo, sou um ser humano que gosto de ser e do qual me orgulho.

E é aí que entram as eleições.

Voto na escola estadual do bairro, assim como a maior parte das pessoas que estudaram comigo até a tal época desgracenta de meus 16 anos. E admito sem a mínima humildade que me realizo mais e mais a cada eleição que passa. Graças a essa obrigação cívica tenho a chance de constatar como as “periguetinhas” esnobes do passado agiram exatamente como é de se esperar que aconteça com pessoas vazias: tornaram suas vidas rasas e enforcaram-se na futilidade. Algumas embuxaram, quase todas embarangaram e nenhuma delas construiu uma vida interessante ou que me passe a mínima impressão de felicidade e completude.

E é por essas e outras que me convenço de que irei para o inferno. Pois a cada 2 anos eu vivo meu dia secreto “d’o mundo da voltas” e, do auge de uma arrogância que não me é comum, me permito rir por dentro e dizer pra mim mesma “valeu a pena filtrar as companhias, me isolar, estudar e elevar minha alma”.

Não irei para o céu, mas chegarei no inferno de cabeça erguida...rs

terça-feira, 20 de maio de 2014

#aleatoreidades - A vida da palavra

E a bendita palavra não dita, morre.
Assim como se cansa a palavra repetida
Se gasta a palavra que se banaliza

Palavra também se gasta
Como roupa que se usou demais até perder a beleza
Assim como a beleza por demais admirada um dia há de ficar invisível

Por isso eu peço:
Suma palavra!
Suma para que eu te enxergue mais uma vez
E uma vez mais volte e me traga esse frio e essa vertigem boa

Palavra é como gente
Também tem infância, adolescência e madureza
Como gente, precisa ser gestada dentro do ser
Então, um dia nasce
Transforma tudo ao redor
E todo muda pelo simples e arrebatador poder da palavra:

Amor.


domingo, 4 de maio de 2014

Contro n°2: Yin & Yang

Acordou.
Tomou um banho gelado para ficar mais disposto.
Separou os CD's de samba que costumavam acompanhá-lo nas viagens e também alguns instrumentos.
Tomou um café da manhã leve e conferiu os últimos detalhes do carro.
Pegou a estrada já pensando nas pedaladas e braçadas que daria, além da saudade que sentia de seu irmão.
Aquele seria o final de semana que fecharia com chave de ouro suas férias.
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Acordou.
Tomou um banho quente para prolongar aquela sensação de ter saído da cama.
Tirou uma parte da pauleira de seu Ipod e substituiu por um som psicodélico que achou ter mais sintonia com o clima praiano que a esperava.
Saiu de casa em jejum rumo à rodoviária já sonhando com a gelada que tomaria sentada de frente para o mar.
Pensou em todas as histórias e fofocas que dividiria com sua amiga que há tanto tempo não via. A vida andava um caos e seria ótimo ter com quem conversar.
Aquele seria um fim de semana de preguiça.
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Por dentro ele era um grande quebra-cabeças de emoções misturadas. Via os primos, amigos e as pessoas todas ao seu redor em seus rolos, namoros, casamentos etc. e a verdade é que não entendia muito bem a finalidade daquilo tudo. Havia experimentado da paixão apenas uma vez e sem sucesso. Depois disso decidiu que não nascera praquilo e não procuraria mais ninguém para gostar (mesmo sozinho, tudo ia muito bem, obrigado!).
Porém, ao mesmo tempo que não sentia falta dessas coisas, sempre havia aquelas cobranças da família ou amigos: “E aí? E a namorada, cadê?!” que deixavam no ar a impressão de que ele tinha algo de disfuncional em si.

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Por dentro ela se sentia como uma lixeira sentimental após tudo pelo que passara nos últimos meses. Depois de tudo decidiu seguir sozinha e se bastar. E “se bastando” ela havia sido tomada por uma aura irresistível de auto-suficiência e independência que vez por outra colocava algum cara interessante em seu caminho. Mas suas investidas amorosas, até aquele momento, tinham apenas a função de satisfazer um desejo de pele, tornando-se sempre desinteressantes com o tempo. Seus relacionamentos, via de regra, acabavam antes de tornarem-se compromissos. Seu coração estava gasto pela vida e ela carregava a sabedoria serena que só quem se acostumou à frustração consegue ter.
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Ele chegou cedo ao seu destino. Deu uma volta de bike, andou na praia e nadou. Naquele dia seu irmão chegaria um pouco mais tarde porque precisava ir com a esposa até a rodoviária buscar uma amiga que passaria com eles o final de semana. No fundo a idéia de dividir o irmão e a cunhada com uma desconhecida no último fim de semana livre de suas férias não o agradava tanto... Mas fazer o quê? Não tinha outro jeito...
Enquanto isso ela desembarcava do ônibus e ia ao mesmo tempo perguntando as novidades, cumprimentando o casal, dando uma prévia das fofocas, fazendo piada... Tudo naquele estilo atropelado e caótico que era sua marca registrada.

No fim do dia, todos reunidos, pizza e a notícia: aquele seria um fim de semana de trabalho. Finalmente a imobiliária liberara a casa nova dos anfitriões e os convidados teriam de se juntar para ajudar na mudança de última hora.

O dia seguinte foi de encaixotamento de tralhas e compartilhamento de idéias.
No meio de toda a bagunça foram surgindo os mais diversos assuntos que aos poucos traziam à tona os pontos de convergência e de divergência entre ele e ela.

Em comum tinham o signo, a escolha pelo mesmo curso superior, o fato dos pais de ambos estarem se preparando para uma mudança definitiva para o interior, a natureza inquieta e o gosto por esportes radicais. A surpresa do dia ficou por conta da vontade compartilhada de pular de para-quedas... Meio a sério, meio brincando chegaram até considerar um encontro posterior para fazerem isso juntos. (Quem sabe um dia...?)

As diferenças também estavam lá e não eram poucas.
Ela que curtia rock, enquanto ele era o cara do samba. Ela que contava os segundos para o inverno chegar enquanto, por ele, o verão poderia nunca mais acabar. Ela com sua postura ranzinza e reclamona que chegava a ter orgulho da fama de mal-humorada no trabalho. E ele, por outro lado que era o típico “boa praça” do escritório, sempre sorrindo e conhecido como amigo de todos.
Entre descobertas, caixas e longas conversas o fim de semana passou e chegou a hora de subir a serra.

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Segunda-feira e o dia dela cheio no trabalho. Mesmo assim era pega vez por outra pela lembrança dos dias anteriores e consciência de um erro imperdoável. Como era possível que ela não tivesse pego o telefone dele?
Claro que uma troca de telefones não significava que algum deles entraria em contato com o outro. Mesmo que alguém entrasse em contato nada garantia que marcariam algo. E ainda que marcassem algo, isso não significava que se dariam bem... A questão é que todas aquelas possibilidades eram impossíveis simplesmente porque eles não haviam trocado telefone. Um mundo de possibilidades impedido por um único detalhe.
Não restava outro caminho. Então ela abriu sua caixa de e-mail e escreveu uma longa mensagem para a amiga agradecendo pelo final de semana divertido e entre uma informação e outra tomou coragem para pedir que enviasse seu número de telefone para ele.
Alea jacta est!

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Terça-feira e ele ainda incrédulo. Depois de se pegar algumas vezes pensando no final de semana ainda não entendia porque ela havia mandado seu número de telefone. Chegou a considerar a possibilidade de ser apenas uma brincadeira do irmão. Mas fez o teste e escreveu uma mensagem falando qualquer banalidade, tomando cuidado para que não demonstrasse nem descaso, nem interesse demais.
Imediatamente a certeza: era mesmo ela estranhamente interessada em conversar e relembrando os planos levantados sobre o salto de para-quedas.

Dia após dia o contato foi se aprofundando... De repente era como se se conhecessem há anos, mesmo que fizesse menos de uma semana.
Então uma ideia: porque não continuar a conversa pessoalmente no final de semana?
E assim fizeram. Como moravam um tanto distantes, marcaram na praça central de uma cidade turística que ficava no meio termo de distância entre eles.

Ela chegou certo tempo antes. Não que fosse ansiedade de vê-lo, dizia para si, mas o horário dos ônibus intermunicipais era realmente imprevisível no final de semana e seria indelicado chegar atrasada...
Há tempos ele não fazia aquele caminho. Uma curva errada e pronto! Se perdeu, demorou para achar o retorno. Chegaria atrasado. Começou a remoer a ansiedade de ter estragado o final de semana. Já a imaginava brava, sentindo-se desrespeitada com a hora de sua chegada...

Então encontraram-se. Minutos depois do céu azul se encobrir e começar uma senhora chuva. Sem cumprimentarem-se direito se enfiaram no primeiro restaurante. Com o tempo fechado só lhes restava comer sem pressa e conversar. E conversaram. Conversaram até que o apetite acabou, a chuva acabou e o dia acabou. Só não acabava o assunto e a vontade de seguir adiante.
Para estender o tempo juntos ele ofereceu uma carona.
Para estender o tempo juntos ela ofereceu que ele entrasse em sua casa e esperasse até carregar a bateria do celular (era mais seguro para, caso necessário, ele pudesse ativar a função GPS e não se perder na volta também...ou pelo menos foi a desculpa que ela escolheu).
O assunto continuava, o envolvimento crescia... Num momento de aproximação e silêncio um beijo ainda meio desengonçado.
Por algum motivo que não eram capazes de explicar havia um magnetismo no ar, uma vontade de estender o momento... Mas a noite havia chegado ao fim e ele teve que ir embora.

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Nos dias que se seguiram ela só fazia pensar nas diferenças entre eles e porque, mesmo assim, ela queria tanto vê-lo de novo (parecia não fazer muito sentido).
Do lado de lá, ele pensava no que poderia significar a vontade cada vez mais intensa e constante de contar-lhe de seu dia, seus desejos e suas frustrações.
Decidiram juntos que deixar-se-iam levar sem planos. Enquanto tivessem assunto e desejo da companhia um do outro estariam juntos. Tão logo o bom clima acabasse parariam de se ver e ponto. Simples assim. Prezavam muito por ter espaço, leveza e liberdade. Não havia como dar errado.

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Os dias foram passando. As semanas também passaram. Algumas folhas de calendário foram viradas e entre uma e outra os encontros e as histórias que compartilhavam iam acumulando-se. Estavam sempre concentrados no desejo de aproveitar a companhia um do outro, porém sem prenderem-se. Este último ponto, aliás, era sempre relembrado discretamente nas conversas quando eles achavam que estavam envolvidos além da conta...

O que eles ainda não sabiam era que, mesmo enquanto não queriam admitir, já estavam juntos. Foram constituindo-se como opostos complementares capazes de se entrelaçar sem perder a essência nem misturarem-se até virar uma coisa só.

Ainda perceberiam que o que faltava em si era o outro.

Demorou pra ser. Mas agora é.